Interesses de partidos, ideologias e pessoas fizeram com que o custo operacional da refinaria deva ser duas vezes superior à média mundial
A Petrobras oficialmente insiste que tudo transcorre dentro da normalidade, enquanto o governo atua no front político para evitar qualquer possibilidade de investigação séria no Congresso, onde há uma CPI chapa-branca instalada no Senado e outra, mista, de deputados e senadores, em que existe algum risco para o Planalto.
Mas, apesar de todas as manobras, os gritantes desmandos na execução do projeto da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, continuam a se impor por si mesmos. São tamanhos os desvios que, recorrendo à imagem desgastada do lixo jogado para baixo do tapete, conclui-se que a capacidade de toda a indústria de tecelagem não parece capaz de encobrir tudo que tem sido descoberto nessa história exemplar de como não se pode subordinar a ação do Estado a interesses de partidos, ideologias e pessoas. Houve a conjugação desses três fatores no escândalo de Abreu e Lima.
Não é sempre, mesmo na indústria do petróleo, onde as cifras são contabilizadas em bilhões de dólares, que um projeto orçado há 11 anos em US$ 2,3 bilhões chega a US$ 18,5 bilhões, dado de abril, e pode ter um custo final de US$ 20,1 bilhões.
Reportagens publicados pelo GLOBO domingo e ontem traçam o roteiro de como o projeto, uma decisão conjunta dos amigos e aliados político-ideológicos Lula e Hugo Chávez, atropelou a sensatez e relatórios técnicos, para fazer surgir uma refinaria cujo preço do barril refinado será de US$ 87 mil, mais que o dobro da média mundial. E pior para o Brasil, pois Chávez morreu e os venezuelanos, que já não colocavam dinheiro no projeto, deixaram de vez a pesada fatura com a Petrobras. Por tabela, para o Tesouro, sustentado pelo contribuinte.
Cada vez mais se entende o sentido da afirmação do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa à “Folha de S.Paulo”, entre uma prisão preventiva e outra, de que Abreu e Lima foi aprovada a partir de uma “conta de padeiro”. Quer dizer, a Petrobras, à época sob controle do lulopetismo sindicalista e aparelhada por indicações políticas, mesmo de técnicos da casa, se subordinou à vontade política do Planalto e do partido no poder.
Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento, ele próprio apadrinhado (PP, PT e PMDB), conhece a história por dentro, porque presidiu o conselho de administração da refinaria. E nessa condição atuou na aprovação de inúmeros aditivos em contratos com empreiteiras e fornecedores de bens e serviços em geral, causa da explosão dos custos do projeto — em dólares, quase 800% acima do orçado.
Paulo Roberto está preso, de forma preventiva, a pedido da Polícia Federal, enquanto transcorre a Operação Lava-Jato, sobre bilionário esquema de lavagem de dinheiro administrado pelo doleiro Alberto Youssef, antigo conhecido do submundo da política. Impossível não relacionar uma coisa com a outra.
A Petrobras oficialmente insiste que tudo transcorre dentro da normalidade, enquanto o governo atua no front político para evitar qualquer possibilidade de investigação séria no Congresso, onde há uma CPI chapa-branca instalada no Senado e outra, mista, de deputados e senadores, em que existe algum risco para o Planalto.
Mas, apesar de todas as manobras, os gritantes desmandos na execução do projeto da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, continuam a se impor por si mesmos. São tamanhos os desvios que, recorrendo à imagem desgastada do lixo jogado para baixo do tapete, conclui-se que a capacidade de toda a indústria de tecelagem não parece capaz de encobrir tudo que tem sido descoberto nessa história exemplar de como não se pode subordinar a ação do Estado a interesses de partidos, ideologias e pessoas. Houve a conjugação desses três fatores no escândalo de Abreu e Lima.
Não é sempre, mesmo na indústria do petróleo, onde as cifras são contabilizadas em bilhões de dólares, que um projeto orçado há 11 anos em US$ 2,3 bilhões chega a US$ 18,5 bilhões, dado de abril, e pode ter um custo final de US$ 20,1 bilhões.
Reportagens publicados pelo GLOBO domingo e ontem traçam o roteiro de como o projeto, uma decisão conjunta dos amigos e aliados político-ideológicos Lula e Hugo Chávez, atropelou a sensatez e relatórios técnicos, para fazer surgir uma refinaria cujo preço do barril refinado será de US$ 87 mil, mais que o dobro da média mundial. E pior para o Brasil, pois Chávez morreu e os venezuelanos, que já não colocavam dinheiro no projeto, deixaram de vez a pesada fatura com a Petrobras. Por tabela, para o Tesouro, sustentado pelo contribuinte.
Cada vez mais se entende o sentido da afirmação do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa à “Folha de S.Paulo”, entre uma prisão preventiva e outra, de que Abreu e Lima foi aprovada a partir de uma “conta de padeiro”. Quer dizer, a Petrobras, à época sob controle do lulopetismo sindicalista e aparelhada por indicações políticas, mesmo de técnicos da casa, se subordinou à vontade política do Planalto e do partido no poder.
Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento, ele próprio apadrinhado (PP, PT e PMDB), conhece a história por dentro, porque presidiu o conselho de administração da refinaria. E nessa condição atuou na aprovação de inúmeros aditivos em contratos com empreiteiras e fornecedores de bens e serviços em geral, causa da explosão dos custos do projeto — em dólares, quase 800% acima do orçado.
Paulo Roberto está preso, de forma preventiva, a pedido da Polícia Federal, enquanto transcorre a Operação Lava-Jato, sobre bilionário esquema de lavagem de dinheiro administrado pelo doleiro Alberto Youssef, antigo conhecido do submundo da política. Impossível não relacionar uma coisa com a outra.
25 de junho de 2014
Editorial O Globo
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