"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

ALGEMAS VERDES

Os ambientalistas são uma seita que mascara profundo desprezo pelo avanço capitalista e tenta monopolizar a legítima preocupação com o meio ambiente

Nosso planeta está na iminência de derreter e, para salvá-lo, é preciso mudar radicalmente nosso estilo de vida, abandonar o progresso industrial e delegar poder absoluto aos governos. Ao menos é isso que muita gente quer que acreditemos. São os ambientalistas, uma seita que mascara profundo desprezo pelo avanço capitalista e tenta monopolizar a legítima preocupação com o meio ambiente.

Contra essa ameaça, o ex-presidente da República Tcheca Vaclav Klaus escreveu o excelente livro “Planeta azul em algemas verdes”, afirmando que é a liberdade, não o clima, que corre verdadeiro perigo atualmente. Klaus considera o risco “verde” mais sério do que o comunismo, e isso, vindo de alguém que sofreu intensamente sob o regime comunista, é algo que merece atenção.

“O aquecimento global tornou-se símbolo e exemplo da luta entre a verdade e a propaganda. A verdade politicamente correta já foi estabelecida e não é fácil opor-se a ela”, diz ele. A postura de muitos ambientalistas remete àquela de seitas religiosas fanáticas. Há uma “verdade” absoluta revelada, os “profetas” (como Al Gore e companhia), e os “hereges”, que adotam posição mais cética e demandam cautela.

O regozijo pessoal que vem com a sensação de superioridade moral apenas por pertencer a esse grupo de “escolhidos” que deseja “salvar o planeta” fica acima dos fatos e da razão, impedindo qualquer debate construtivo. É preciso atacar o “inimigo”, rotular com adjetivos chulos aqueles que não aceitam sem reservas o catastrofismo vendido pelos ambientalistas.

No começo, muitos se mostraram preocupados com os rumos dos “debates”, com o excesso de pânico infundado que foi incutido nos mais leigos, com a politização oportunista da ciência. Hoje, como confessa Vaclav Klaus, a preocupação deu lugar à fúria, pois é revoltante ver como a coisa desandou, transformando-se em uma perigosa ideologia coletivista que asfixia nossas liberdades.

O tcheco, que é economista, afirma que o problema com as mudanças climáticas tem mais a ver com as ciências sociais do que com as naturais. Citando os austríacos Hayek e Mises, o ex-presidente lembra que a “arrogância fatal” e o “cientificismo” ofuscam toda a ignorância das autoridades e dos especialistas em relação a um fenômeno complexo como o clima. A analogia com os planejadores centrais comunistas em relação à economia é evidente demais.

A “ordem espontânea” está no centro dos ataques dos ambientalistas, da mesma forma que faziam os marxistas. Eles rejeitam as liberdades individuais e depositam uma fé ingênua e absurda nos “clarividentes” e “onipotentes” tecnocratas e políticos. O modelo capitalista se tornou o principal alvo da ideologia ambientalista. Klaus resume: “Se levarmos o raciocínio dos ambientalistas a sério, descobriremos que defendem uma ideologia anti-humana. Essa ideologia vê como causa fundamental dos problemas do mundo a própria evolução do homo sapiens”.

Para concentrar cada vez mais poder e recursos no estado, a sensação de grande perigo precisa ser constante. Somente assim se justificam medidas drásticas que ignoram completamente qualquer relação de custo e benefício, qualquer alternativa mais racional para o uso de recursos escassos. Se o que está em jogo é “salvar o planeta” que será destruído a qualquer momento, então pro inferno até com a democracia, bolas!

S. Fred Singer, físico atmosférico da Universidade de Virgínia, faz uma pergunta importante: “Por que deveríamos dedicar nossos escassos recursos ao que é, em essência, um não problema, e ignorar os problemas reais que o mundo enfrenta: a fome, as doenças, o desrespeito aos direitos humanos — isso para não mencionar as ameaças de terrorismo e guerras nucleares?”

A imprensa, que vende mais quando há desgraças e catástrofes iminentes, ajuda a disseminar o medo infundado. Não chegam aos leigos fatos importantes, como a enorme quantidade de cientistas renomados que rejeitam as mensagens e a linguagem catastrofista do IPCC, ligado à ONU. Tampouco há a consciência de que existem muitos interesses em jogo, já que os próprios governos financiam boa parte das pesquisas que dão respaldo às soluções propostas de mais poder aos governos.

Václav Klaus conclui: “O atual debate sobre o aquecimento global é, portanto, essencialmente um debate sobre a liberdade. Os ambientalistas adorariam subjugar todos os aspectos possíveis (e impossíveis) de nossas vidas.” Se quisermos preservar nossas liberdades e o progresso capitalista, então é preciso combater a histeria dos ambientalistas.

25 de junho de 2014
Rodrigo Constantino, O Globo

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