Na entrevista que o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, deu à revista Conjuntura Econômica na edição de abril de 2014, com o titulo “Esperança no Futuro”, o secretário falou que:
“Os investidores estrangeiros têm visto o Brasil de forma muito positiva e isso pode ser demonstrado facilmente. O investimento feito por eles cada vez mais ocupa uma parcela maior da dívida interna. Isso significa que estão entrando para investir na nossa dívida e confiam, portanto, nela e também nas nossas emissões externas…”
Essa é uma meia verdade e digo isso porque já fiz a mesma pergunta a vários investidores estrangeiros. Nenhum investidor estrangeiro acredita que o Brasil, um país que é credor liquido em dólar, corre o risco de dar calote. Assim, ninguém trabalha com o risco de default. Todos consideram a gestão macroeconômica recente desastrosa, mas como me falou um deles:
“Quem sem importa! Você estão me pagando muito bem para eu colocar meu dinheiro aqui em renda fixa e ainda tenho a segurança da taxa de câmbio com as intervenções do Banco Central. Vocês que deveriam estar preocupados com uma combinação de juros elevados, baixo crescimento e inflação elevada”.
Vamos aos fatos.
Em outubro de 2010, o governo brasileiro elevou o IOF sobre aplicações em renda fixa de 2% para 6%. O sinal era muito claro: não queremos a entrada forte de recursos para renda fixa. A queda da taxa de juros também ajudou a reduzir a atratividade do investimento estrangeiro em renda fixa.
O gráfico abaixo mostra que, um ano depois dessa medida, o investimento externo líquido em renda fixa no Brasil (série 8225 do BACEN), acumulado em 12 meses, passou de um saldo positivo de US$ 16,6 bilhões para um saldo negativo de US$ 735 milhões. Em outubro de 2011, o Investimento Direto Externo (IDE) em 12 meses era de US$ 75 bilhões para um déficit em conta corrente em 12 meses de US$ 48 bilhões. Ou seja, o IDE era mais do que suficiente para financiar o déficit em conta corrente no final de 2011.
Tudo isso mudou para pior.
O déficit em conta corrente agora é de US$ 81 bilhões e o IDE foi reduzido para US$ 64,4 bilhões, insuficiente para cobrir o déficit em conta corrente. Em condições normais de temperatura e pressão, a taxa de câmbio deveria estar se desvalorizando, mas as intervenções do Banco Central no mercado cambial e a forte entrada de recursos para investimento em renda fixa evitam a depreciação do Real.
E no caso do investimento em renda fixa, o governo agradece a forte entrada de capital que, em 12 meses até abril de 2014, alcançou um saldo liquido acumulado de quase US$ 37 bilhões, ante um saldo negativo de US$ 735 milhões em 12 meses de outubro de 2011.
O que aconteceu?
Duas coisas.
Moral da história:
a turma de fora está trazendo muita grana para o Brasil não porque “confia no Brasil”, mas sim porque :
(i) pagamos a eles uma taxa de juros estratosférica,
(ii) o governo reduziu de 6% para “zero” o IOF de aplicações de estrangeiros em renda fixa, e (iii) ainda sinalizamos este ano uma banda cambial que diminui o risco de aplicar em renda fixa no mercado doméstico.
Atrair “capital especulativo” é uma política consciente do governo e uma forma de financiar nosso déficit em conta corrente sem perder reservas cambiais.
Não é sinal de confiança. Estamos pagando muito caro para que os estrangeiros “confiem no Brasil”.
Investimento Externo em Carteira –
Renda Fixa Curto e Longo Prazo negociado no País (líquido)
– acumulado em 12 meses –
JAN/2008-ABR/2014 – US$ bilhões
Saldo em Conta Corrente - acumulado em 12 meses –
JAN/2008-ABR/2014 - US$ bilhões
Investimento Direto Externo- acumulado em 12 meses –
JAN/2008-ABR/2014 - US$ bilhões
Original/Íntegra:
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