Programa humorístico antigo tinha um refrão musical que dizia assim no encerramento do número: "Cara de pau vai fazendo o seu papel".
Um coro hipotético ecoa na memória aquele cântico em seguida à leitura detalhada do noticiário sobre a palestra do ex-presidente Lula da Silva em palestra contratada pelo jornal espanhol El País, na semana passada.
Foi em Porto Alegre, onde na véspera ele já havia feito uma afirmação meio esquisita, mas não tão explícita. Pedia a aplicação de um "remédio já" para conter a inflação.
Produziu as metáforas de sempre, fazendo comparações com "febres de 38 e 39 graus" e não disse nada, além do que pretendia: falar o que as pessoas querem ouvir para fazer de conta que está ao lado da maioria.
No dia seguinte mandou às favas a cerimônia e resolveu criticar a economia fazendo de seu "sparring" o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que estava na plateia.
Crescimento baixo? Culpa do Arno. Basta liberar o crédito. "Não é por maldade dele, não", amenizou Lula, para ironizar em seguida: "Cabeça de tesoureiro".
O ex-presidente deu lições, autoelogiou a oferta de crédito em seu governo, cobrou explicações do secretário como se subordinado a ele fosse e uma chefe não tivesse. "Se depender do pensamento do Arno você não faz nada."
Um festival de zombarias tão desrespeitosas com o profissional que ali estava sem condições de se defender e com a presidente da República que o nomeou e o sustenta no cargo (e, portanto, avaliza suas ações) que fica difícil compreender aonde o ex-presidente quis - ou quer com essa metodologia discursiva - chegar.
Segundo explicações da assessoria do Instituto Lula, a lugar nenhum, pois tudo não passou de uma "brincadeira". Ora, piorou, pois o El País não iria organizar uma palestra para que o ex-presidente se desse ao desfrute de um exercício de autorrecreação a fim de se divertir com o secretário do Tesouro Nacional nomeado pela presidente da qual foi fiador perante toda a nação.
Lula bateu muito mais pesado do que muitos críticos da política econômica que tanta "irritação" desperta na presidente Dilma. Entretanto, por motivos óbvios, desta vez não reagiu. O ex-presidente disse que está tudo errado e ela aceitou.
Mas, Lula afirmou também que ele fez o certo e indicou que sabe qual é o caminho correto. Está querendo o quê? Preparar o terreno para ser candidato? É uma possibilidade. Atuar como cabo eleitoral tirando o discurso da oposição? Também pode ser. Mas é estranho que faça isso falando mal do governo de sua candidata.
Ou estará dizendo ao eleitorado que pode de novo votar nela que ele estará na retaguarda para assegurar que daqui para frente tudo vai ser diferente? As pessoas deram uma segunda chance em 2006 depois do mensalão, uma terceira em 2010; pode ser. Desde que estejam dispostas a renovar a aposta mais uma vez.
Travado. O grau de desconhecimento explica o baixo índice, mas não justifica a queda de Eduardo Campos na pesquisa do Datafolha. Ainda que pouco, ele é mais conhecido agora do que em maio. No entanto, perdeu quatro pontos porcentuais entre uma consulta e outra.
Além disso, tem a candidata a vice, Marina Silva, bastante conhecida e com "recall" da presidencial de 2010, em tese para funcionar como alavanca da preferência do eleitorado. Essa era a ideia quando o PSB resolveu antecipar a oficialização do nome da ex-senadora como companheira de chapa.
Algo está emperrando o desenvolvimento de Campos. Duas hipóteses: 1. Os constantes vetos de Marina, que acabam passando uma imagem negativa do PSB, além de atrasar o avanço das alianças; 2. A dubiedade contida no discurso de críticas pesadas à presidente Dilma, sem o mesmo rigor dirigido ao PT e muito menos ao ex-presidente Lula, dificultando a marca de oposição.
Um coro hipotético ecoa na memória aquele cântico em seguida à leitura detalhada do noticiário sobre a palestra do ex-presidente Lula da Silva em palestra contratada pelo jornal espanhol El País, na semana passada.
Foi em Porto Alegre, onde na véspera ele já havia feito uma afirmação meio esquisita, mas não tão explícita. Pedia a aplicação de um "remédio já" para conter a inflação.
Produziu as metáforas de sempre, fazendo comparações com "febres de 38 e 39 graus" e não disse nada, além do que pretendia: falar o que as pessoas querem ouvir para fazer de conta que está ao lado da maioria.
No dia seguinte mandou às favas a cerimônia e resolveu criticar a economia fazendo de seu "sparring" o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que estava na plateia.
Crescimento baixo? Culpa do Arno. Basta liberar o crédito. "Não é por maldade dele, não", amenizou Lula, para ironizar em seguida: "Cabeça de tesoureiro".
O ex-presidente deu lições, autoelogiou a oferta de crédito em seu governo, cobrou explicações do secretário como se subordinado a ele fosse e uma chefe não tivesse. "Se depender do pensamento do Arno você não faz nada."
Um festival de zombarias tão desrespeitosas com o profissional que ali estava sem condições de se defender e com a presidente da República que o nomeou e o sustenta no cargo (e, portanto, avaliza suas ações) que fica difícil compreender aonde o ex-presidente quis - ou quer com essa metodologia discursiva - chegar.
Segundo explicações da assessoria do Instituto Lula, a lugar nenhum, pois tudo não passou de uma "brincadeira". Ora, piorou, pois o El País não iria organizar uma palestra para que o ex-presidente se desse ao desfrute de um exercício de autorrecreação a fim de se divertir com o secretário do Tesouro Nacional nomeado pela presidente da qual foi fiador perante toda a nação.
Lula bateu muito mais pesado do que muitos críticos da política econômica que tanta "irritação" desperta na presidente Dilma. Entretanto, por motivos óbvios, desta vez não reagiu. O ex-presidente disse que está tudo errado e ela aceitou.
Mas, Lula afirmou também que ele fez o certo e indicou que sabe qual é o caminho correto. Está querendo o quê? Preparar o terreno para ser candidato? É uma possibilidade. Atuar como cabo eleitoral tirando o discurso da oposição? Também pode ser. Mas é estranho que faça isso falando mal do governo de sua candidata.
Ou estará dizendo ao eleitorado que pode de novo votar nela que ele estará na retaguarda para assegurar que daqui para frente tudo vai ser diferente? As pessoas deram uma segunda chance em 2006 depois do mensalão, uma terceira em 2010; pode ser. Desde que estejam dispostas a renovar a aposta mais uma vez.
Travado. O grau de desconhecimento explica o baixo índice, mas não justifica a queda de Eduardo Campos na pesquisa do Datafolha. Ainda que pouco, ele é mais conhecido agora do que em maio. No entanto, perdeu quatro pontos porcentuais entre uma consulta e outra.
Além disso, tem a candidata a vice, Marina Silva, bastante conhecida e com "recall" da presidencial de 2010, em tese para funcionar como alavanca da preferência do eleitorado. Essa era a ideia quando o PSB resolveu antecipar a oficialização do nome da ex-senadora como companheira de chapa.
Algo está emperrando o desenvolvimento de Campos. Duas hipóteses: 1. Os constantes vetos de Marina, que acabam passando uma imagem negativa do PSB, além de atrasar o avanço das alianças; 2. A dubiedade contida no discurso de críticas pesadas à presidente Dilma, sem o mesmo rigor dirigido ao PT e muito menos ao ex-presidente Lula, dificultando a marca de oposição.
11 de junho de 2014
Dora Kramer, O Estadão
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