Sob nova metodologia, dados da produção frustram expectativas de revisões positivas e indicam projeções negativas para este ano
A divulgação pelo IBGE da produção industrial de março era aguardada com especial interesse. Seus resultados incorporariam pela primeira vez uma nova metodologia, com mais produtos e locais de coleta de dados.
A expectativa, frustrada ontem, era a de que a bem-vinda reformulação técnica, bem como sua aplicação retroativa a 2002, pudesse modificar para melhor o desempenho ruim dos últimos anos.
Tal crença decorria da inclusão, no cálculo da produção, de itens como tablets e smartphones, que não vinham sendo considerados. Pesava no mesmo sentido a incorporação, na base de dados, de plantas fabris abertas no período mais recente, especialmente no setor de automóveis.
Tudo isso se fez, mas os impactos foram pequenos. A alteração mais relevante ocorreu em relação ao ano passado: a estimativa da variação da produção passou de 1,2% para 2,3%, o suficiente para compensar a queda observada em 2012. Entre 2002 e 2012, contudo, as revisões foram mínimas.
Permanece, assim, a constatação de que a indústria está estagnada, com o mesmo nível de produção observado em 2008.
Quanto aos números deste ano, o quadro tampouco é animador. Houve alta de apenas 0,4% na atividade no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse resultado ainda deve piorar nos próximos meses, a julgar pelo comportamento de uma série de indicadores.
Entre eles estão a deterioração da confiança empresarial e do consumidor (que retorna aos níveis da crise de 2008), os juros em alta, o crédito mais escasso e, sobretudo, o recorde de estoques nos segmentos mais dinâmicos da indústria --bens duráveis e de capital. O ambiente internacional de retomada nos países desenvolvidos, por sua vez, ainda não conta a favor.
De fato, as perspectivas são preocupantes. No caso dos bens duráveis, o setor automotivo tem o maior nível de estoques desde 2008, e as vendas decrescem. Parece inevitável que as fábricas pisem no freio no restante do ano.
O ambiente de incerteza, inclusive eleitoral, afeta os bens de capital. Muitas decisões de investimento tendem a ser adiadas para o ano que vem. A recuperação observada em 2013 - quando a produção subiu 11,3%, puxada por caminhões e máquinas agrícolas - já se reverte.
O mais provável, infelizmente, é que continuem a cair as projeções de crescimento da indústria e do PIB para este ano.
A divulgação pelo IBGE da produção industrial de março era aguardada com especial interesse. Seus resultados incorporariam pela primeira vez uma nova metodologia, com mais produtos e locais de coleta de dados.
A expectativa, frustrada ontem, era a de que a bem-vinda reformulação técnica, bem como sua aplicação retroativa a 2002, pudesse modificar para melhor o desempenho ruim dos últimos anos.
Tal crença decorria da inclusão, no cálculo da produção, de itens como tablets e smartphones, que não vinham sendo considerados. Pesava no mesmo sentido a incorporação, na base de dados, de plantas fabris abertas no período mais recente, especialmente no setor de automóveis.
Tudo isso se fez, mas os impactos foram pequenos. A alteração mais relevante ocorreu em relação ao ano passado: a estimativa da variação da produção passou de 1,2% para 2,3%, o suficiente para compensar a queda observada em 2012. Entre 2002 e 2012, contudo, as revisões foram mínimas.
Permanece, assim, a constatação de que a indústria está estagnada, com o mesmo nível de produção observado em 2008.
Quanto aos números deste ano, o quadro tampouco é animador. Houve alta de apenas 0,4% na atividade no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse resultado ainda deve piorar nos próximos meses, a julgar pelo comportamento de uma série de indicadores.
Entre eles estão a deterioração da confiança empresarial e do consumidor (que retorna aos níveis da crise de 2008), os juros em alta, o crédito mais escasso e, sobretudo, o recorde de estoques nos segmentos mais dinâmicos da indústria --bens duráveis e de capital. O ambiente internacional de retomada nos países desenvolvidos, por sua vez, ainda não conta a favor.
De fato, as perspectivas são preocupantes. No caso dos bens duráveis, o setor automotivo tem o maior nível de estoques desde 2008, e as vendas decrescem. Parece inevitável que as fábricas pisem no freio no restante do ano.
O ambiente de incerteza, inclusive eleitoral, afeta os bens de capital. Muitas decisões de investimento tendem a ser adiadas para o ano que vem. A recuperação observada em 2013 - quando a produção subiu 11,3%, puxada por caminhões e máquinas agrícolas - já se reverte.
O mais provável, infelizmente, é que continuem a cair as projeções de crescimento da indústria e do PIB para este ano.
09 de maio de 2014
Editorial Folha de SP
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