"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

WIKILEAKS: CASA BRANCA QUESTIONOU DILMA SOBRE COMPRA SUSPEITA DE REFINARIA

 


O governo dos Estados Unidos buscou garantias da parte de Dilma Rousseff em 2006 quando ela ainda era presidente do Conselho da Petrobrás antes de dar o sinal verde para que a empresa brasileira comprasse uma refinaria em Pasadena. Telegramas confidenciais da diplomacia americana obtidas pelo grupo Wikileaks revelam reuniões e missões enviadas ao Brasil pela Casa Branca diante da possibilidade de que a estatal brasileira comprasse a refinaria americana. Outro consultado foi o ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, epicentro da crise.
 
Um dos telegramas de 12 de junho de 2006 é explícito em relação ao assunto já em seu título: “A Aquisição da Petrobrás da Pasadena Refining Systems”. O documento foi enviado pela embaixada americana em Brasília ao Departamento de Estado norte-americano e relata os encontros de ministros e delegações de Washington com autoridades nacionais, entre elas Dilma Rousseff.
 
Uma das preocupações se referia à atuação da Petrobrás concorrendo contra interesses americanos na América Latina e tirando proveito justamente do fato de que governos da região começavam em 2006 a nacionalizar investimentos americanos. O temor era de que esses governos, uma vez recuperado os ativos de empresas americanas, repassariam os investimentos para a Petrobrás.
 
Em junho de 2006, uma missão encabeçada pelo secretário de Comércio do governo de George W. Bush viajou ao Brasil para debater essa situação. O governo americano queria garantias por parte da Petrobrás de que a empresa não iria ocupar o lugar deixado pelas empresas dos EUA depois que presidente Rafael Correa do Equador nacionalizou operações de petroleiras americanas no país.
 
O caso era considerado como chave para entender a posição da Petrobrás na região e a concorrência com os americanos. “A missão recebeu garantias de forma repetidas, de maneira mais proeminente durante a visita do Secretário de Comércio Gutierrez no dia 7 de junho com a chefe da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Rousseff – que também atua como presidente do Conselho da Petrobrás – de que a Petrobrás não tem interesse em assumir os ativos da Occidental Petroleum’s Ecuador”, indica o telegrama.
 
“Diante dessas garantias, feitas em nível ministerial, o posto acredita que o caso Occidental não deve ser um obstáculo para a proposta da Petrobrás para adquirir 50% da Pasadena Refining Systems (PRS)”, indicou o governo americano. “O posto não acredita que a aquisição da Petrobrás da PRS signifique um risco à segurança nacional”, indicou a embaixada americana, depois de citar o encontro com Dilma.
 
O governo americano também aponta para reuniões com o ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró. Ele foi o responsável pelo parecer técnico que baseou a decisão do Conselho de Administração da Petrobrás de comprar a refinaria, alvo de investigações.
 
O encontro ocorreu no dia 26 de maio de 2006 no Rio de Janeiro. Washington queria saber de Cerveró se a Petrobrás estava interessada nos ativos nacionalizados pelo Equador. “Seria um má política para a Petrobrás minar sua relação com a Occidental assumindo seus ativos no Equador”, indicou Cerveró.
 
A aquisição da refinaria nos EUA continuaria na agenda entre os dois países. Em 11 de setembro de 2006, o embaixador americano no Brasil se encontraria com o então presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli. “Gabrielli disse ao embaixador que, como parte de um esforço para aumentar suas exportações e ativos globais, a empresa planejava forte investimentos nos EUA”, disse o telegrama daquele dia. Segundo Gabrielli, a refinaria em Pasadena faria parte desse projeto e outra na Califórnia estaria sendo estudada pelo brasileiro. A meta era a de incrementar a produção mundial de barris por parte da empresa de 2,4 milhões por dia para 4,5 milhões em 2011.
 
Num telegrama de 30 de junho de 2008, diplomatas americanos relatam o encontro entre o então embaixador dos EUA no Brasli, Sobel, e o diretor internacional da Petrobrás, Jorge Luiz Zelada. O brasileiro apontava na ocasião como a empresa estava investindo US$ 5 bilhões nos EUA. “Zelada afirmou que a Petrobrás está tentando adquirir os outros 50% da refinaria Pasadena em Houston para a aliviar a pressão no que se refere à refinaria no Brasil”, indicou o documento.

09 de abril de 2014
Jamil Chade / Estadão

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