Nos nossos rincões, desde o império, a seca sempre foi igual à pobreza, que, por sua vez, é igual à fome, que é igual à doença, que é igual ao analfabetismo, que é igual à seca, e tudo se repete. “Miséria é miséria em qualquer canto”. Assim ainda é, especialmente na área da Sudene.
Mas esse ciclo já foi mais nítido no passado, mais redondo e erigido por cordas mais espessas. A manutenção das amarras, por desmazelo, incompetência ou dolo, sempre foi a melhor receita para a manutenção do status quo nas localidades pobres.
INDÚSTRIA DA SECA
Não investir na ruptura dos paradigmas de pobreza eterniza a dependência do povo, ou seja, concede uma aura de nobreza divina aos grupos de elite, distintos assim como os únicos capazes de “ajudar”, que não come, não bebe, não lê e não vive.
Essa é a base lógica da perversa indústria da seca, a fonte dos poderes de gerações e gerações de coronéis brasileiros.
Toda essa introdução serve como analogia para um novo e igualmente incômodo ciclo de miséria a que assistimos: o desequilíbrio federativo. Os municípios viveram mais ou menos dez anos de euforia com a Constituição de 1988 garantindo papéis e receitas em um nível de autonomia inédito. O país clamava por descentralização após a ditadura, e as prefeituras se beneficiaram, ganharam importância política.
Hoje, porém, prefeitos não têm dinheiro, mas seguem com suas responsabilidades. Mesmo pobres, continuam relevantes politicamente. Melhor: são essenciais, os cabos eleitorais mais poderosos. Os prefeitos são quem melhor contata o eleitor das grotas, das favelas e das palafitas. Eles é que conhecem e lidam com os líderes comunitários e são os gestores mais versados na possibilidade de “entrar nas realidades”.
Pois os mesmos governadores e presidentes da República que, harmônica e democraticamente, parecem estar rompendo com o velho ciclo da miséria no país, também parecem ter todo o interesse em preservar as prefeituras carentes, dependentes de grana oportunista e discricionária.
SEM CAIXA
Direto ao ponto: neste segundo semestre, quantos prefeitos o governador Anastasia e o vice, Alberto, compraram (ou pelo menos tentaram) com verba destinada do programa batizado Pró-Municípios e asfaltando estradas vicinais pelo Caminhos de Minas? E quantos prefeitos país afora a presidente Dilma pôs no bolso (ou pelo menos tentou) doando tratores e máquinas retroescavadeiras? Quais dos coitados chefes municipais teriam caixa para pavimentações ou para comprar equipamento?
A troca da gentileza, da concessão republicana, terá que vir depois, em outubro, e será cobrada. Mas e as mudanças nos marcos legais da federação, virão algum dia?
(transcrito de O Tempo)
25 de dezembro de 2013João Gualberto Jr.
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