"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

CICLO ELEITORAL DA POBREZA



 
Devagarzinho, o Brasil vai investindo no rompimento de seu secular ciclo de miséria por meio de políticas públicas mais capilarizadas em saúde, educação e as sociais. A melhoria nos índices de distribuição de renda, mortalidade infantil e desenvolvimento humano revela uma evolução geral nas últimas décadas. Não é, de fato, o ritmo que gostaríamos de ver, mas já são indicações de um caminho certo.
 
Espera-se, no entanto, que essa presença do poder público não seja o único elemento transformador nos ambientes que congregam o que se chama de Brasil profundo. Nem poderia o Estado preservar um protagonismo perene. Seu papel, ao contrário, deve ter caráter mais seminal, de subversão histórica, de quebrar elos.
 
Nos nossos rincões, desde o império, a seca sempre foi igual à pobreza, que, por sua vez, é igual à fome, que é igual à doença, que é igual ao analfabetismo, que é igual à seca, e tudo se repete. “Miséria é miséria em qualquer canto”. Assim ainda é, especialmente na área da Sudene.
Mas esse ciclo já foi mais nítido no passado, mais redondo e erigido por cordas mais espessas. A manutenção das amarras, por desmazelo, incompetência ou dolo, sempre foi a melhor receita para a manutenção do status quo nas localidades pobres.
 
INDÚSTRIA DA SECA
 
Não investir na ruptura dos paradigmas de pobreza eterniza a dependência do povo, ou seja, concede uma aura de nobreza divina aos grupos de elite, distintos assim como os únicos capazes de “ajudar”, que não come, não bebe, não lê e não vive.
Essa é a base lógica da perversa indústria da seca, a fonte dos poderes de gerações e gerações de coronéis brasileiros.
 
Toda essa introdução serve como analogia para um novo e igualmente incômodo ciclo de miséria a que assistimos: o desequilíbrio federativo. Os municípios viveram mais ou menos dez anos de euforia com a Constituição de 1988 garantindo papéis e receitas em um nível de autonomia inédito. O país clamava por descentralização após a ditadura, e as prefeituras se beneficiaram, ganharam importância política.
 
Hoje, porém, prefeitos não têm dinheiro, mas seguem com suas responsabilidades. Mesmo pobres, continuam relevantes politicamente. Melhor: são essenciais, os cabos eleitorais mais poderosos. Os prefeitos são quem melhor contata o eleitor das grotas, das favelas e das palafitas. Eles é que conhecem e lidam com os líderes comunitários e são os gestores mais versados na possibilidade de “entrar nas realidades”.
 
Pois os mesmos governadores e presidentes da República que, harmônica e democraticamente, parecem estar rompendo com o velho ciclo da miséria no país, também parecem ter todo o interesse em preservar as prefeituras carentes, dependentes de grana oportunista e discricionária.
 
SEM CAIXA
 
Direto ao ponto: neste segundo semestre, quantos prefeitos o governador Anastasia e o vice, Alberto, compraram (ou pelo menos tentaram) com verba destinada do programa batizado Pró-Municípios e asfaltando estradas vicinais pelo Caminhos de Minas? E quantos prefeitos país afora a presidente Dilma pôs no bolso (ou pelo menos tentou) doando tratores e máquinas retroescavadeiras? Quais dos coitados chefes municipais teriam caixa para pavimentações ou para comprar equipamento?
A  troca da gentileza, da concessão republicana, terá que vir depois, em outubro, e será cobrada. Mas e as mudanças nos marcos legais da federação, virão algum dia?

(transcrito de O Tempo)

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