Artigos - Cultura
Só nos resta meditar no imerecido dom da fé num Deus que se humilhou a ponto de nascer numa manjedoura porque não havia outro lugar para Ele.
No princípio, Deus criou o céu e a terra. Criou porque é Amor, e o Amor é criador. Fez um jardim de delícias e nele colocou homem e mulher. Mas as criaturas renegaram o Amor e foram expulsas do paraíso quando o pecado se instalou em seus corações. Danou-se!, como dizem os baianos.
Na Sua infinita misericórdia, Deus se compadeceu e deu uma segunda chance ao homem, enviando o Seu Filho Único para redimir o pecado.
Na noite de Natal, Maria, calada, tudo observa e tudo conserva em seu coração. A Virgem pariu sem dor, o Bebê não chora, sorri. José, silencioso, também nada fala. Os reis magos, na cena da manjedoura, também se calam. Até o boi e o burro ficam quietinhos. Tudo é envolvido em profundo silêncio, como que para realçar a mensagem dos pastores transmitindo o louvor da milícia celeste: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.
Glória a Deus nas alturas restabelece a verdade, o lugar do homem na criação, o sentido da vida, o sentido de cada uma das nossas vidas, da minha e da sua, o norte da nossa existência, a busca diária e diuturna pelo paraíso perdido.
Paz na terra aos homens de boa vontade. Um ditado diz “o inferno está cheio de boas intenções”. Muito pelo contrário, não há nenhuma boa intenção no inferno, apenas o ódio dos anjos caídos e a dor das almas condenadas e a indiferença delas entre si. As pessoas desejosas de paz no coração só têm um caminho, a retidão de intenção na busca da glória de Deus.
O resto – o sonho dourado da comodidade, do bolso cheio, da barriga mais cheia ainda, dos aplausos, da conveniência – é moeda falsa. Cristo sempre realçou a intenção das pessoas. Em muitas ocasiões, disse: A tua fé te salvou. No episódio da pobre esmola da viúva, enalteceu: ela deu mais do que todos os outros. Seja no agir, no contemplar ou no sofrer, o querer faz toda a diferença. Cristo nos deu o exemplo: agia pelo Pai, contemplava os lírios do campo como reflexo do Pai, e, na cruz, sofria por obediência ao Pai.
Particularmente de nós, brasileiros de uma época e sociedade esquecidas de Cristo, onde a malícia pode ser sentida em cada mentira amparada pelas mais perversas criações da segurança do homem no mundo, ditadas por satanás, o sacrifício exigido por Cristo é mantermos a boa vontade, a pureza de intenções em meio a demônios, não há outra saída, o cristianismo não dá soluções fáceis.
Toda esta história, crida por nós, cristãos – mais ainda, da qual somos participantes! – é uma história fantástica e absurda, tão fantástica e absurda que não pode ter sido concebida por mentes humanas, é uma história de santos e milagres, e o homem, ou os homens, que a inventassem precisariam ser santos para elaborá-la. E, se santos fôssem, não inventariam nada, não mentiriam.
Só nos resta meditar no imerecido dom da fé num Deus que se humilhou a ponto de nascer numa manjedoura porque não havia outro lugar para Ele. Da sua pobre acomodação, num mundo envolto em silêncio, o Bebê Jesus sorri.
Sorri para transmitir a Sua alegria, para que a Sua alegria esteja em nós, e a nossa alegria seja completa.
25 de dezembro de 2013
Ricardo Hashimoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário