"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

REINALDO AZEVEDO: "COM QUE ROUPA?"


 
O texto que segue após este prólogo é mais um bom artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, na Folha de S. Paulo desta sexta-feira. Escrever sobre política no Brasil depois da ascensão do PT ao poder tornou-se uma tarefa ingrata. Max Weber afirmou, num de seus escritos, que "fazer política é fazer um pacto com o diabo".
De certa forma, e sem saber, fez uma previsão acertada sobre o Brasil do século XXI. Todavia a sua teoria política não contempla a inexistência da "luta", que é inexorável na sociedade, mormente a luta política. Esta pressupõe, no mínimo, que exista um confronto, ou seja, "oposição".
A luta no reino dos homens se dá nos mais variados níveis, incluindo, obrigatoriamente a política que é, segundo o próprio Weber, "a luta pelo poder ou pela manutenção do poder". A civilização nada mais é do que a transformação da luta cruenta em incruenta, mas ainda assim ela prevalece.
A abordagem de Reinaldo Azevedo faz todo o sentido e por isso mesmo qualifica isto o seu artigo como o único texto do jornal que não resvala pelo tortuoso caminho do relativismo político, moral e ético que dá o tom à linha editorial da Folha, o que o jornal designa como "pluralista", algo que não passa de mais uma jabuticaba. Enfim, é o retrato do Brasil.
Mas vamos ao que interessa, o artigo de Reinaldo cujo o título original é o mesmo deste post.
Leiam:
 
A um ano da eleição, a situação de Dilma Rousseff é muito menos confortável do que alardeia o PT. Mais Médicos, leilão do pré-sal, crédito para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida, onipresença nas TVs, reação à suposta espionagem dos EUA, o que excita o ressentimento nacionalista de exaltação...
Está na casa dos 40% das intenções de voto. A tibieza dos adversários, mais do que a força da petista, é que projeta um futuro. Quem é entusiasta de Dilma? Muita gente quer mudar. Mas com que roupa?, perguntaria o sambista. Eis o busílis.
 
Governos, a teoria não é minha, se impõem por um misto de consenso e coerção, ora se sobressaindo um, ora outro. FHC e Lula, a seu respectivo modo, criaram o primeiro.
A Dilma, sem um Plano Real como redutor de diferenças ou uma conjuntura externa favorável, sobrou a segunda. A coerção, que é da natureza do Estado e dos governos, tem a sua eficácia, mas é de alcance limitado. É o consenso entre os pares, obra da política, que dá feição à gestão. E isso não há. O governo é medíocre. O momento é propício a mudanças.
 
Mas quais são as opções no mercado de ideias? O PSDB permitiu que sua história e suas notáveis conquistas fossem sequestradas pelo PT. Progressista demais para ser conservador e conservador o bastante para ser progressista, tenta conciliar paternalismo e administrativismo numa narrativa que, até agora, é ignorada por parcela considerável do próprio eleitorado de oposição. Por que os não-petistas que escolheram Dilma em 2010 deveriam escolher um tucano em 2014? Essa pergunta precisa de resposta.
 
Marina Silva e Eduardo Campos se oferecem como opção a quem quer outra "posição", mas não a "oposição". Com isso, pode-se abrir uma boa ONG de trocadilhos. Prometem o melhor de FHC com o melhor de Lula. E se o cruzamento fosse malsucedido e se desse o contrário?
 
Em entrevista a esta Folha, o economista Eduardo Giannetti, um dos interlocutores de Marina, afirmou: "Crescer 7% destruindo patrimônio ambiental é muito pior do que se crescer 3% preservando patrimônio ambiental e, na medida do possível, melhorando as condições de vida. O crescimento em si não é o objetivo".
 
No "Roda Viva", disse a líder da Rede: "Hoje, quando se fez a pesquisa do Datafolha perguntando se as pessoas preferiam pagar um pouco mais caro pelos alimentos em lugar de ver a floresta desmatada, cerca de 95% das pessoas disseram que sim".
 
Não se tomam aqui essas falas como programa de governo. Pensem, no entanto, no efeito devastador que podem ter em campanha. Na ponta, afrontam necessidades elementares dos mais pobres; na origem, vocalizam o velho contraste entre natureza e civilização.
Mesmo fraca, Dilma só enfrenta "posições", sem oposição. Bom para ela. Ruim para o país.
Eu, hein, Rosa!?
 
"Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam de modo diferente." A frase já foi um clichê na boca de esquerdistas que se opunham ou à ditadura ou a supostos consensos que, na democracia, não eram do seu agrado. Poderia ter sido dita pela liberal-libertária Ayn Rand, mas a autora é a comunista Rosa Luxemburgo.
Confrontava Lênin, que mandou às favas a Assembleia Constituinte. No seu equívoco, Rosa tinha a honestidade dos ingênuos, mas revoluções são conduzidas pelo cálculo dos cínicos. A liberdade perdeu. A múmia de Lênin fede. Seu cadáver ainda procria.
 
 
01 de novembro de 2013
in aluizio amorim

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