Família Assad se aproveitou de lacunas na lei e da preocupação internacional em limitar a disseminação de armas nucleares em Irã e Coreia do Norte
WASHINGTON - A Síria acumulou um dos maiores estoques do mundo de armas químicas com a ajuda da União Soviética e do Irã e também de fornecedores da Europa Ocidental e até mesmo de algumas empresas dos Estados Unidos, de acordo com telegramas diplomáticos americanos e registros não confidenciais de órgãos de inteligência. Ao mesmo tempo em que aumentava o grupo de nações que se unia, a partir de 1980, para tentar frear os esforços sírios, impedindo a venda de bens que poderiam sustentar o crescimento de estoques de armas químicas, arquivos mostram que a família Assad, do governo sírio, aproveitou-se de uma porção de lacunas, de leis lenientes e da enorme preocupação internacional em limitar a disseminação de armas nucleares.
— Era frustrante — lembra Juan C. Zarate, vice-conselheiro de Segurança Nacional no governo de George W. Bush. — As pessoas tentaram, mas existiam outras prioridades urgentes, como o programa nuclear do Irã e a Coreia do Norte. Essa era uma questão que sempre esteve presente, mas nunca subiu para o topo da agenda mundial de discussões.
Matéria-prima importada para gás Sarin
Especialistas no assunto afirmam que o presidente Bashar al-Assad e seu predecessor, seu pai, Hafez al-Assad, foram amplamente ajudados por um fator básico: muitas vezes inócuos, materiais legalmente exportados servem também como matéria-prima para fabricação de armas químicas mortais.
Logo depois de Obama assumir a cadeira presidencial, oficiais recém-empossados demonstraram preocupação com a facilidade com que Assad estava usando uma rede de empresas de fachada para importar matéria-prima necessária para fabricar VX e sarin, venenos químicos mortais e internacionalmente proibidos. As informações extraídas de telegramas diplomáticos foram divulgadas pelo WikiLeaks.
De acordo com funcionários do governo, o gás sarin foi apontado pelos Estados Unidos como o conteúdo de pequenos foguetes arremessados no dia 21 de agosto, em subúrbios densamente povoados de Damasco. A ação teria matado cerca de 1.400 pessoas.
Um telegrama sobre a Síria, que vazou do Departamento de Estado, afirmava que "parte do modo de operação consiste em esconder a compra de produtos sob pretexto de serem drogas farmacêuticas legítimas." Publicamente, autoridades americanas afirmam que, desde então, têm feito muito para limitar o fluxo de matérias-primas que alimentam a indústria de armas químicas da Síria. Em particular, do Centro de Estudos Científicos e Pesquisas, que foi apontado como o principal empreendimento do governo para o desenvolvimento de armas.
09 de setembro de 2013
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário