O governo da presidente Dilma Rousseff está entrando em sua reta final, e o que se pode concluir é que a marca dos quatro anos da primeira mulher a chefiar o Executivo brasileiro será a da decepção.
Do ponto de vista econômico, a técnica, que era apontada em campanhas de marketing como grande gestora, será carimbada pela perversa combinação de baixo crescimento e inflação alta. Politicamente, o retrato a ser observado pelas próximas gerações será o de um comando desastroso, que, por falta de visão e excesso de pretensão, repetiu erros do passado ao se aliar ao que de pior há entre os partidos que lhe dão sustentação.
Afeita a críticas como forma de encobrir a incompetência de sua equipe, Dilma fez opções erradas que vão custar caro ao país. Acreditou que, por estar sustentada em índices recordes de aprovação popular, poderia seguir um caminho próprio, batizado de nova matriz econômica. Com uma visão intervencionista, sempre pautada em interesses eleitoreiros, acreditou no equívoco de que um pouquinho mais de inflação poderia levar o país a um crescimento mais forte.
Fora da realidade, teve a convicção de que o Estado seria capaz de tocar todos os projetos de infraestrutura que o Brasil necessita para se modernizar e se tornar mais competitivo. No primeiro ano de governo, anunciou obras espetaculares, garantindo que, como gestora experiente e mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida, tinha conhecimento de sobra para pôr em prática empreendimentos que mudariam a cara do país.
No segundo ano, nada do que Dilma havia anunciado tinha saído do papel. Infelizmente, prevaleceu a ineficiência.
Mesmo com a clareza da incapacidade do governo de tocar as obras, a presidente resistiu, por ideologia, aos apelos para que os projetos de infraestrutura fossem transferidos à iniciativa privada. Quando se convenceu de que o Estado nada podia, deu ouvidos a auxiliares de que os empresários deveriam ter o mínimo de lucro possível com rodovias, aeroportos, ferrovias e portos. Inflada por marqueteiros, lançou os programas de concessões em cerimônias pomposas no Palácio do Planalto, eventos repletos de promessas de um Brasil melhor. Tudo propaganda enganosa.
Corrupção corre solta
Agora, às vésperas de mergulhar de vez na campanha da reeleição, Dilma está tomando uma sova da desconfiança que ajudou a disseminar pelo país. Pior, não bastasse a incompetência da gestão, são cada vez mais frequentes os casos de corrupção envolvendo indicados dos partidos que a presidente tanto conta para sair vitoriosa das urnas em 2014.
No Ministério do Trabalho, comandado pelo PDT, metade da cúpula já caiu por ter surrupiado pelo menos R$ 400 milhões dos cofres públicos por meio de convênios fraudulentos. Nos últimos dias, o Planalto foi obrigado a exonerar um assessor direto da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, do PT, e um funcionário da total confiança do ministro da Previdência, Garibaldi Alves, do PMDB, por participarem de uma gangue que lavou pelo menos R$ 300 milhões em pouco mais de um ano e meio, roubando, principalmente, dinheiro da aposentadoria de servidores municipais.
Se conseguir a reeleição, Dilma terá de lidar com toda a herança maldita que
criou desde 2011
E que ninguém se espante se o próximo alvo da Polícia Federal for o Ministério da Agricultura, que foi entregue ao PMDB do deputado Eduardo Cunha (RJ), cuja ficha corrida espanta até os mais espertalhões da Esplanada. Ou seja, a faxina que Dilma tanto alardeou logo depois que tomou posse também não passou de marketing. Só fez o que fez porque precisava, naquele momento, prestar contas às denúncias da imprensa.
Opção pela incompetência
Com Dilma entrando na reta final de seu mandato, os investidores começam a montar os cenários do que poderá ser um segundo governo da petista. De uma coisa todos estão convencidos: se conseguir a reeleição, ela terá de lidar com toda a herança maldita que criou desde 2011, ao ser leniente com a inflação, ao priorizar a arrogância em vez do diálogo, ao incentivar a gastança e avalizar a maquiagem fiscal, ao se afastar do capital e acreditar em um Estado superpoderoso, que poderia, com dinheiro público, eleger empresas vencedoras, como as dos grupos de Eike Batista e Marfrig, todas simbolizando o fracasso de políticas equivocadas.
Se ao menos conseguisse botar os pés no chão e parasse de culpar os pessimistas pelos erros do governo, talvez Dilma indicasse um horizonte melhor a partir de 2015. Um caminho seria dar autonomia formal ao Banco Central, que hoje está totalmente sem crédito para tocar a política de combate à inflação. Outro, seria pôr fim à indexação do salário mínimo ao Produto Interno Bruto (PIB) e à inflação passada. A indexação do piso salarial é, atualmente, a principal responsável pela resistência dos preços dos serviços, que se mantêm acima de 8% no acumulado de 12 meses, dificultando a convergência da carestia para o centro da meta, de 4,5%, perseguida pela BC.
Nas contas dos analistas, apenas esses dois pontos seriam capazes de reduzir em pelo menos um ponto percentual o custo de vida projetado pelo mercado para 2014, de 5,9%. Nesse contexto, Dilma poderia reduzir os juros, mesmo com o dólar se acomodando acima de R$ 2,30 para ajudar as exportações e reduzir o rombo das contas externas, e não precisaria se preocupar tanto com a mudança da política monetária do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, que deu uma trégua, mas continua sendo uma ameaça assustadora para o Brasil do atraso, que vigora hoje.
Apesar de medidas que não exigiriam tanto desgaste do governo, poucos acreditam que a presidente optará por elas. A tendência é de que prevaleça a miopia da arrogância, comportamento típico dos incompetentes.
Correio BrazilienseVicente Nunes/Editor de Economia
23 de setembro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário