O auditório da Corregedoria Geral de Justiça, na Praia do Suá, em Vitória, está sendo o palco de uma oficina de trabalho promovida pela APAC, sigla gloriosa da “Associação de Proteção e Assistência aos Condenados”. Embora se trate de um evento local, cabe uma reflexão nacional. Mesmo havendo ainda muito chão a caminhar, o fermento lançado ao solo com humildade tem, milagrosamente, rendido frutos.
Os militantes da APAC agem na penumbra, aceitam o quase anonimato, porém sentem-se felizes no íntimo do coração porque estão tornando este mundo um pouco mais humano, fraterno e solidário.
Segundo relata o Evangelho de Mateus, Jesus Cristo disse que seriam bem-aventurados os que o visitaram, quando ele esteve preso.
Indagaram perplexos os que o ouviam: “Senhor, quando estivestes preso?”
A resposta do Cristo veio fulminante. Ele estivera preso e fora visitado na pessoa de todos aqueles que, encarcerados, receberam o consolo da visita.
Muitos não entendem que, em nome de Jesus Cristo, possa alguém solidarizar-se com aqueles que, em tese, cometeram crimes. Esquecem-se de que o primeiro ser humano proclamado santo foi Dimas, o bom ladrão:
“Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”.
Quando é tão comum na opinião pública o sentimento de rejeição ou mesmo de ódio ao preso, a APAC levanta a bandeira da solidariedade para com os presos e condenados.
Choca-se às vezes a APAC com a Polícia? Sim, choca-se com a Polícia toda vez que contra presos são praticados abusos. Choca-se às vezes com a Justiça e com o Governo? Sim, choca-se com a Justiça quando esta é surda e com o Governo quando este é omisso.
A obrigação da APAC não é ser fiel à Polícia, à Justiça ou ao Governo, mas sim aos presos, defendendo seus direitos constitucionais, buscando sua reinserção social, vigilando para que os presos sejam respeitados como seres humanos porque não são coisa, não são lixo.
Infelizmente, muitos raciocinam assim: “Não sou eu que estou preso, não é parente meu, não é ninguém de minha classe ou morador de meu bairro, não pertence a meu clube. Posso ficar tranquilo. Este tema não me diz respeito.”
Se a APAC contasse com maior número de militantes, apoiadores e simpatizantes, a situação seria outra.
A APAC não tem filiação religiosa. Mesmo quem não professa uma Fé determinada, quem não integra qualquer grei confessional pode incorporar-se a esse movimento. Contudo, a meu ver, quem ama o próximo tem implícito na alma o sentimento de Fé, ainda que suponha ser ateu. A Fé não se explicita em palavras, mas em atos.
30 de setembro de 2013
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, palestrante e escritor.
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