"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

"CHAGAS DA PNAD"

 
A Pnad trouxe resultados desanimadores para um país com os enormes desafios que o Brasil ainda tem a superar. Os retrocessos no analfabetismo e na distribuição de renda sugerem que a atual política social está se exaurindo. Acabar com a miséria tornou-se até slogan de governo, mas a realidade engole a propaganda. Superar os atrasos vai nos exigir muito mais do que apenas marketing. Pobreza não é para ser administrada, como vem fazendo o PT.
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A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trouxe alguns resultados desanimadores para um país com os enormes desafios que o Brasil ainda tem a superar. Os retrocessos no analfabetismo e na distribuição de renda parecem sugerir que a atual política social está se exaurindo.
 
Segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo no país parou de cair, depois de 15 anos de queda. O índice passou de 8,6% para 8,7% entre 2011 e 2012. O que pode até parecer irrelevante do ponto de vista estatístico representa aumento de 297 mil brasileiros no universo dos que não sabem ler nem escrever.
 
Ainda temos 13,2 milhões de analfabetos, com a maioria situada no Nordeste. A região concentra mais da metade deste grupo no país; lá a taxa subiu para 17,4%, com alta de meio ponto percentual entre um ano e outro.
 
O analfabetismo também ainda é especialmente alto entre os cidadãos com mais de 60 anos de idade: 24,4%. Tal característica dificulta um pouco mais a missão de reduzir substancialmente a taxa geral do país, ainda muito distante das nações desenvolvidas, onde se situa em torno de 1%.
 
Dificilmente o Brasil alcançará a meta firmada com a ONU de diminuir a nossa proporção de analfabetos para 6,7% da população até 2015. Para tanto, seria necessário conseguir reduzir o contingente atual em 2,6 milhões de pessoas.
 
Felizmente, o esforço de aumento da escolaridade empreendido nos últimos 20 anos – o Pnud já havia destacado a arrancada da educação brasileira a partir da criação do Fundef pelo governo Fernando Henrique – ajudou a baixar o analfabetismo entre os mais jovens para níveis civilizados: entre os que têm de 15 a 19 anos, o índice é de 1,2%.
 
Mesmo assim, a queda na taxa geral tem sido muito lenta nos últimos anos. De 2004 a 2009, o índice caiu somente 1,8 ponto porcentual; de 2009 até 2012 diminuiu mais um ponto. Uma das alternativas seria acelerar os programas de educação de adultos, mas pouca atenção tem sido dada a estas iniciativas: temos hoje apenas metade de adultos matriculados em escolas do que tínhamos há alguns anos.
 
Melhorar muito a nossa educação é o principal desafio de quem pretende mudar o Brasil. Não será possível darmos o necessário salto à frente se não ampliarmos substancialmente o nível de formação de nossa população, hoje ainda muito deficiente, apesar de todos os avanços.
 
É inconcebível, por exemplo, que quase metade dos brasileiros não tenham sequer o ensino fundamental completo. Isso significa que temos milhões de adultos que apenas sabem ler e escrever uma mensagem simples, condição insatisfatória para a inserção no atual mundo do trabalho e de aprendizagem continuada.
 
Nossa média de escolaridade até subiu um pouco – para 7,5 anos – mais continua sendo uma das mais baixas da América Latina. A realidade é que muitos simplesmente abandonam a escola no decorrer da trajetória, numa clara indicação, também, de que a sala de aula tem oferecido menos do que o aluno gostaria de encontrar.
 
Além da inaceitável estagnação na diminuição do analfabetismo, a Pnad também revelou que 2012 foi marcado por maior desigualdade e concentração de renda, uma vez que a renda dos 1% mais ricos cresceu quase o dobro da dos 1% mais pobres: 10,8% e 5,8%, respectivamente. Hoje o topo da pirâmide aufere "apenas” 87 vezes mais que a base.
 
Ao longo de muitos anos, as condições de vida dos brasileiros vêm melhorando em razão de políticas de transferência de renda. Pelo que a Pnad revela, contudo, tal estratégia começa a dar mostra de estar encontrando seus limites, principalmente por não estar sendo acompanhada por realizações que permitam maior crescimento do país.
 
Acabar com a miséria tornou-se até slogan de governo. Mas a dura realidade engole a propaganda. Superar os atrasos vai nos exigir muito mais esforço do que apenas marketing. Vai obrigar tratar o imenso fosso que ainda subsiste no país com a prioridade e a seriedade que merece. Pobreza não é para ser administrada, como vem fazendo o PT; a pobreza tem que ser superada.
30 de setembro de 2013
Instituto Teotônio Vilela

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