A nove meses da Copa, reformas atrasam em sete aeroportos da Infraero em cidades-sede
A nove meses da Copa da Mundo, as obras nos aeroportos das cidades-sede dos jogos que estão sob a administração da Infraero ainda patinam. Levantamento da estatal, obtido pelo GLOBO, mostra que essas obras estão atrasadas em sete dos oito aeroportos geridos por ela. O problema maior é na ampliação dos terminais de passageiros, o que causa enorme desconforto aos usuários. No Galeão, apenas 34,1% da reforma do Terminal 1 e 36,62% da reforma do Terminal 2 foram realizados e, ainda assim, é onde os trabalhos estão mais adiantados. Em Porto Alegre, a obra de ampliação do Terminal 1, estimada em R$ 153,39 milhões, nem começou, mas a Infraero mantém o cronograma de conclusão para maio de 2014.
No caso do Galeão, a intervenção nos dois terminais está orçada em R$ 305 milhões e a previsão da Infraero é de entrega em abril de 2014. O prazo para o setor C do Termina1 1 é outubro de 2014, mas este deve ficar a cargo do novo concessionário. Atualmente, as obras do Terminal 1 estão limitadas ao setor A e consistem, basicamente, na revitalização da parte elétrica e eletrônica, incluindo ar-condicionado, e da área de telecomunicações. Há revestimentos de tubulações que ainda precisam ser colocados, soldas a serem feitas e outros detalhes inacabados. O consórcio responsável pelas obras é o Novo Galeão. A Infraero diz que, caso os serviços não sejam concluídos no prazo estipulado, pode aplicar sanções previstas em contrato (multa) e definir novo planejamento para que a obra seja finalizada dentro do cronograma.
Obra mais rápida em aeroportos privatizados
Em Curitiba, a estatal conseguiu executar apenas 6,19% da obra de ampliação do terminal e sistema viário, orçada em R$ 184 milhões. Mesmo com o atraso, a conclusão está prevista para maio do ano que vem. Em Salvador, o nível de execução da reforma e adequação do terminal de passageiros está em 20,2%. No aeroporto de Cuiabá, foram executados apenas 23,09% da obra de ampliação do terminal de passageiros, sistema viário e estacionamento.
O problema se repete em Fortaleza, onde apenas 24,8% da obra de ampliação do terminal e sistema viário avançaram. Em Confins (Belo Horizonte), foram executados somente 31,27% do previsto na ampliação do terminal de passageiros, orçada em R$ 224,45 milhões.
Em todos os aeroportos administrados pela Infraero, as obras que mais andaram foram as intervenções em sistemas de pátio, pista e torre de controle. Mas, mesmo assim, somente foram concluídas no aeroporto de Curitiba. Em Porto Alegre, somente 0,76% da ampliação da pista de pouso e de táxi avançou. Em Confins, o percentual de execução nas obras no sistema de pátio e pista de pouso é 18,68% e no terminal remoto que abriga a aviação geral, de apenas 1,99%. Neste caso, a Infraero também mantém o cronograma de conclusão para março de 2014.
O desempenho da Infraero contrasta com a situação dos aeroportos privatizados nas capitais da Copa, que assumiram os terminais em novembro do ano passado. Em Guarulhos, 60% das obras estão concluídas, segundo o concessionário Gru Airport; em Brasília, 50%; e em São Gonçalo do Amarante (novo aeroporto de Natal), 54%, de acordo com o consórcio Inframérica.
— Os aeroportos concessionados estão muito bem, mas as obras da Infraero têm um baixo índice de execução — reconheceu o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco.
Segundo o ministro, a maior dificuldade que a estatal enfrenta para tocar as obras está ligada à má qualidade dos projetos apresentados pelas empresas licitadas, o que obriga a revisão dos processos. Isso aconteceu no Galeão, em Confins e Fortaleza, disse Moreira Franco. Ele destacou que o atraso não vai comprometer a realização dos Jogos da Copa porque a situação “está bem encaminhada”, lembrando os planos de emergência adotados na Copa das Confederações e na visita do Papa. Ainda assim, admitiu que o ambiente não é “satisfatório”.
— O problema é que isso prejudica o esforço que estamos fazendo de garantir ao passageiro serviço contemporâneo ao tempo que ele vive, que é o século XXI. O esforço que venho fazendo é no sentido de encontrar soluções que permitam um ritmo adequado de obras — disse Moreira.
Transtornos no Galeão
O atraso nas obras do Galeão deve prolongar os transtornos que passageiros e funcionários do aeroporto têm enfrentado. Quem vai embarcar pelo Terminal 1 e precisa comprar um remédio antes de viajar, por exemplo, tem que ir até o Terminal 2. Com a obra, a única farmácia que havia no terminal foi desativada. Da mesma forma, clientes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal não conseguem sacar ou fazer qualquer movimentação em suas contas porque as agências que ficavam no Terminal 1 também foram transferidas para o Terminal 2.
O casal Sheila Mathias e Dirceu Vieira se espantou quando soube que teria que ir até o Terminal 2 para comprar remédio para o filho, Davi, de 1 ano. A família, acompanhada ainda da filha de Sheila, Pamela, de 15 anos, embarcaria de volta para Uberlândia na última quarta-feira, após passar uma semana no Rio.
— Os dentes do Davi estão nascendo e preciso comprar remédio para ele, para aliviar a dor, antes de viajar. É uma transtorno ter que andar tanto, com malas e carrinho — queixou-se Sheila.
O professor da Coppe/UFRJ Elton Fernandes lembra que a Infraero sempre teve dificuldades de execução e continua não conseguindo realizar as obras. Ele lembrou que o corpo administrativo da empresa (diretoria) continua o mesmo, só o presidente mudou.
— A Infraero não recebe multa, conforme está previsto para os concessionários privados se eles não entregarem as obras dentro dos prazos, a tempo da Copa, por exemplo. Nada acontece — destacou o professor.
A Infraero informou, via assessoria de imprensa, que a empresa está “empenhada no cumprimento do cronograma de obras”. Alegou ainda, que, no Galeão, em Salvador e Porto Alegre, a situação não é tão grave, como em Confins, por exemplo, onde o problema é falta de capacidade do aeroporto.
No caso do Galeão, a estatal ressaltou ainda que, só com as obras do setor A, a capacidade do aeroporto vai sair dos atuais 17,4 milhões de passageiros para 21,4 milhões. Como a demanda prevista para 2014 é de 20,2 milhões de usuários, a Infraero diz que “o Galeão estará preparado para atender à demanda da Copa”.
22 de setembro de 2013
GERALDA DOCA e DANIELLE NOGUEIRA - O Globo
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