"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A CULPA É DO STF

    
STF


2012 fez surgir diante da Nação uma instituição que  iria restaurar a cidadania, sanar os vícios na administração do dinheiro público e devolver a moralidade à política. O Supremo Tribunal Federal, abençoado pela lucidez de suas vestais — ainda que parte delas esteja corporificada na atuação de ministros do quilate de Lewandowsky e Tóffoli — foi “vendido” à opinião pública como a saída para resolver as contradições de uma democracia jovem, imperfeita e ainda em fase de testes.

Nomes de pessoas como Joaquim Barbosa passaram a integrar a galeria de heróis pátrios. E outros, como Gilmar Mendes, passaram a ser demonizados pelos aliados dos que viriam a ser purgados da história.

Ledo engano. Não há heróis por trás do movimento de instituições como o STF. A cada passo que se avança, recua-se o equivalente no momento seguinte. E a história segue seu ritmo modorrento.
É fato que temos, pela primeira vez desde sempre, um deputado cumprindo seu mandato na Papuda.

Mas há pencas de ladrões de dinheiro público soltos graças à inércia do próprio Supremo. E uma parte das vergonhas públicas se deve a ninguém menos do que o próprio STF, que fala grosso para o varejo da malandragem e fino com o atacado. Se temos hoje crises que nos envergonham, como os casos Roger Pinto Molina e Natan Donadon, debite-se isso da conta do tribunalzão constitucional.

Duas decisões tíbias foram responsáveis por esse estado de coisas. A primeira dizia respeito à deportação do condenado Cesare Batisti. Para não desautorizar Lula, o Supremo decidiu julgar ilegal o asilo concedido ao ex-terrorista italiano, mas deixou ao alvedrio do presidente de então acatar ou não o que fora decidido. Lula deu uma banana para os senhores de toga e manteve o que já havia feito.  Agora temos aí um Roger Molina a quem vai ser muito difícil negar o status de asilado ou refugiado.

Outra decisão tímida disse respeito ao próprio Donadon. Encurralado pelo Congresso, que ameaça a ordem jurídica com a PEC-33 (na prática, ela aposenta o Judiciário e transforma o mandato popular num salvo-conduto para a pilantragem), o Supremo falou fino. Deixou ao arbítrio do plenário a decisão sobre quem deve e quem não deve permanecer no Parlamento, ainda que desprovido de seus direitos políticos — ou a despeito da previsão constitucional da perda de direitos políticos para condenados em processos criminais ou de improbidade administrativa.

Em ambos os casos, as consequências se apresentaram rapidamente ao País. Ao se dobrar diante de Battisti para não contrariar a vontade de Lula, o STF criou a condição para a entrada de Pinto Molina no País. Ao se vergar diante do Congresso, ‘legalizou’ e legitimou a criação aberrante da figura do deputado-presidiário.

Outros sustos vão derivar da tibieza desse tribunal, onde até hoje se discute se embargos de declaração, criados para sanar dúvidas decorrentes de sentença datilografadas de maneira imprecisa antes dos tempos do computador, podem ou não propiciar oportunidade para o arrependimento tardio das togas equivocadas (ou mal intencionadas). E que vai debater proximamente se um instrumento banido da legislação — os tais embargos infringentes — ainda se aplica ao Direito para beneficiar os petistas flagrados com a boca na botija da publicidade oficial.

Já temos entre as vestais gente que ressalta o caráter heróico da biografia de condenados ilustres. Juízes que pedem desculpa pela punição que acabam de impor a delinquentes. Sussurros de altivez em meio a uma avalanche de subserviência.

E a volta do ‘garantismo’, que coloca o interesse do réu acima do interesse público, no arrasto do domínio do fato, um suspiro de renovação que parece ter sido, como asseverou Barroso, “um ponto de inflexão”, “um ponto fora da curva” das nossas tradições jurídicas.

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