O mercado financeiro, com a eleição de Bolsonaro, aparentava que seus
principais ativos já estavam predestinados. Imaginava-se naquela época uma
enxurrada de dólares entrando no País associados às reformas fiscais,
influenciando significativamente a valorização das ações, os cortes na Selic (taxa
básica de juros) e um câmbio valorizado.
Isso tudo em função da política liberal a ser adotado pelo seu ministro da Economia, o que tornaria o Brasil um porto seguro para o capital estrangeiro ancorar.
Decorrido quase um ano, quem acreditou na alta da Bolsa e na queda dos juros se deu bem. Para quem se posicionou vendendo a moeda americana ocorreu justamente o contrário, já que o dólar nesses últimos doze meses acumula um ganho em torno de 12% contra o real. Durante este período, considerando-se as contas comercial e financeira, a saída de recursos superou com desenvoltura a sua entrada.
A grande verdade é que tomamos uma incrível goleada nesse período: a saída de recursos foi a maior desde que abandonamos o regime de bandas cambiais em 1999 e passamos a adotar o regime de câmbio flutuante, chegando a atingir US$ 40 bilhões, o equivalente a 10,7% das nossas reservas internacionais.
Aquela expectativa traçada no início do ano com o ingresso considerável de recursos do investidor internacional na Bolsa, até o momento não se concretizou, mas felizmente, não inibiu a alta do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo).
A ausência de dólares no mercado veio corroborar a jurássica lei da oferta e da procura.
O comportamento do dólar é imprevisível, isto é, o fluxo que vai pode voltar em determinada ocasião e por qualquer motivo relevante. Na realidade, esse fenômeno já vem sendo sinalizado pelo BC (Banco Central) desde o final do primeiro trimestre desse ano e está relacionado a uma mudança estrutural no mercado de câmbio brasileiro, com a perda relativa de atratividade do financiamento externo e, com isso, haveria prejuízo em nossa liquidez em dólares.
Resumindo: o compromisso assumido pelo governo com uma agenda de ajuste fiscal favoreceu a queda da inflação e, consequentemente, a dos juros – já existe para 2020 uma projeção da Selic abaixo de 4%. Há três anos atrás quem poderia prever tal situação?
Em função disso, deixamos de ser o paraíso de operações de arbitragem de taxa de juros, que consistem em pegar dólar no mercado externo a custo próximo de zero e vir a aplicar a 14% ao ano ou até mais um pouco, como ocorreu em 2016, quando a Selic atingiu esse patamar.
Atualmente, a taxa básica da nossa economia encontra-se nos menores níveis da história, reduzindo assim, consideravelmente, a entrada de dólares do capital especulativo.
Aliás, as reformas no ambiente do crédito, especialmente com a redução pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) do crédito direcionado, geraram um acelerado crescimento do mercado de capitais doméstico.
Um grande exemplo de empresa brasileira é a Petrobras que está prépagando dívidas que foram contraídas lá fora e contratando financiamentos em real aqui dentro. De modo abrangente, somando-se as duas coisas, não temos um dólar no curto prazo vindo arbitrar juros, existindo na realidade uma maior demanda pela moeda a fim de honrar pagamentos externos.
Ocorre que, em primeiro lugar, quem dá liquidez são os bancos com suas posições vendidas, situando-se ao redor de US$ 30 bilhões. Todavia, existem limites regulatórios, sendo o BC que vem operando no mercado à vista, conforme avisou antecipadamente.
Parece que temos uma situação interessante de alta do dólar com a queda do risco país e também dos juros futuros.
A desvalorização não está associada a uma crise de balanço de pagamentos e o mercado também não está demandando mais juros para financiar a dívida brasileira.
A grande expectativa no momento gira em torno dos leilões de petróleo dos excedentes da cessão onerosa. Estruturalmente, fica a esperança na continuidade da agenda de reformas e privatizações para que o país atraia mais capital externo dirigido aos investimentos.
22 de outubro de 2019
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
Isso tudo em função da política liberal a ser adotado pelo seu ministro da Economia, o que tornaria o Brasil um porto seguro para o capital estrangeiro ancorar.
Decorrido quase um ano, quem acreditou na alta da Bolsa e na queda dos juros se deu bem. Para quem se posicionou vendendo a moeda americana ocorreu justamente o contrário, já que o dólar nesses últimos doze meses acumula um ganho em torno de 12% contra o real. Durante este período, considerando-se as contas comercial e financeira, a saída de recursos superou com desenvoltura a sua entrada.
A grande verdade é que tomamos uma incrível goleada nesse período: a saída de recursos foi a maior desde que abandonamos o regime de bandas cambiais em 1999 e passamos a adotar o regime de câmbio flutuante, chegando a atingir US$ 40 bilhões, o equivalente a 10,7% das nossas reservas internacionais.
Aquela expectativa traçada no início do ano com o ingresso considerável de recursos do investidor internacional na Bolsa, até o momento não se concretizou, mas felizmente, não inibiu a alta do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo).
A ausência de dólares no mercado veio corroborar a jurássica lei da oferta e da procura.
O comportamento do dólar é imprevisível, isto é, o fluxo que vai pode voltar em determinada ocasião e por qualquer motivo relevante. Na realidade, esse fenômeno já vem sendo sinalizado pelo BC (Banco Central) desde o final do primeiro trimestre desse ano e está relacionado a uma mudança estrutural no mercado de câmbio brasileiro, com a perda relativa de atratividade do financiamento externo e, com isso, haveria prejuízo em nossa liquidez em dólares.
Resumindo: o compromisso assumido pelo governo com uma agenda de ajuste fiscal favoreceu a queda da inflação e, consequentemente, a dos juros – já existe para 2020 uma projeção da Selic abaixo de 4%. Há três anos atrás quem poderia prever tal situação?
Em função disso, deixamos de ser o paraíso de operações de arbitragem de taxa de juros, que consistem em pegar dólar no mercado externo a custo próximo de zero e vir a aplicar a 14% ao ano ou até mais um pouco, como ocorreu em 2016, quando a Selic atingiu esse patamar.
Atualmente, a taxa básica da nossa economia encontra-se nos menores níveis da história, reduzindo assim, consideravelmente, a entrada de dólares do capital especulativo.
Aliás, as reformas no ambiente do crédito, especialmente com a redução pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) do crédito direcionado, geraram um acelerado crescimento do mercado de capitais doméstico.
Um grande exemplo de empresa brasileira é a Petrobras que está prépagando dívidas que foram contraídas lá fora e contratando financiamentos em real aqui dentro. De modo abrangente, somando-se as duas coisas, não temos um dólar no curto prazo vindo arbitrar juros, existindo na realidade uma maior demanda pela moeda a fim de honrar pagamentos externos.
Ocorre que, em primeiro lugar, quem dá liquidez são os bancos com suas posições vendidas, situando-se ao redor de US$ 30 bilhões. Todavia, existem limites regulatórios, sendo o BC que vem operando no mercado à vista, conforme avisou antecipadamente.
Parece que temos uma situação interessante de alta do dólar com a queda do risco país e também dos juros futuros.
A desvalorização não está associada a uma crise de balanço de pagamentos e o mercado também não está demandando mais juros para financiar a dívida brasileira.
A grande expectativa no momento gira em torno dos leilões de petróleo dos excedentes da cessão onerosa. Estruturalmente, fica a esperança na continuidade da agenda de reformas e privatizações para que o país atraia mais capital externo dirigido aos investimentos.
22 de outubro de 2019
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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