Monica de Bolle, diretora do Programa de Estudos Latino-Americanos da Johns Hopkins University, classifica a ideia como "estúpida"
Jair Bolsonaro e Mauricio Macri se reúnem em Buenos Aires (Amilcar Orfali/Getty Images)
A sugestão do presidente Jair Bolsonaro de que as duas maiores economias da América do Sul possam ter uma moeda única, semelhante ao euro, foi recebida com ceticismo no Brasil e na Argentina.
Depois de encontrar seu colega Mauricio Macri em Buenos Aires na quinta-feira, Bolsonaro disse que os dois países estão dando um “primeiro passo” em direção ao “sonho de uma moeda única na região do Mercosul, o peso-real”. Ele reforçou a sugestão em um evento no Rio de Janeiro na sexta-feira.
A ideia também foi discutida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e líderes empresariais em Buenos Aires, segundo o site do UOL. Guedes, que estava viajando com Bolsonaro, citou o exemplo da Alemanha e disse que os países envolvidos primeiro precisariam fazer ajustes fiscais e assumir riscos para então colher o benefício de maior competitividade.
Economistas e políticos de ambos os países reagiram com desconfiança e os memes da moeda peso-real rapidamente começaram a circular nas redes sociais. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sugeriu no Twitter que os planos poderiam fazer com que o real se enfraquecesse e a inflação voltasse.
Na Argentina, Carlos Rodriguez, ex-secretário de política econômica e professor de economia da UCEMA, referiu-se a Bolsonaro e Macri como “um par ignorante, falando de tópicos que eles não conhecem para satisfazer demandas populistas de pessoas que não entendem”.
Em seu Twitter, Monica de Bolle, pesquisadora-sênior do Peterson Institute for International Economics e diretora do Programa de Estudos Latino Americanos da Johns Hopkins University publicou críticas à ideia:
“Seja Peso Real ou Real Peso, a ideia de Brasil e Argentina terem uma moeda comum é tão estúpida que não há nem por onde começar a argumentar”. “Penso o seguinte: 1. A Argentina é das economias mais dolarizadas da AL. 2. Se querem moeda estável, porque não consideram a dolarização formal à la Equador?”
Veja também
Preocupado com o possível ruído causado pela discussão, o banco central brasileiro emitiu uma declaração dizendo que “não há planos ou estudos em andamento para a união monetária com a Argentina”.
Embora os planos de união monetária no Mercosul não sejam novos – os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem já discutiram sobre o assunto há duas décadas – a ideia agora vem em um momento difícil para ambas as economias.
Em recessão por quase dois anos, a Argentina sofreu com uma desvalorização de 50% do peso em 2018. A economia brasileira tem crescido pouco mais de 1% ao ano desde que saiu de sua pior recessão em 2017.
Com certeza, tanto Guedes quanto o ministro das Finanças da Argentina, Nicolas Dujovne, disseram que a iniciativa levaria muito tempo para ser implementada, dada a necessária convergência das políticas fiscais, entre várias outras.
“Uma moeda comum seria inviável sem algumas reformas dramáticas em ambos os países e o cronograma para a implementação real provavelmente abrangeria várias administrações”, disse Pablo Waldman, chefe de estratégia da INTL FCstone Argentina. “A essa altura, não é mais que uma miragem distante, na melhor das hipóteses.”
07 de junho de 2019
Simone Iglesias e Carolina Millan, da Bloomberg
EXAME
Jair Bolsonaro e Mauricio Macri se reúnem em Buenos Aires (Amilcar Orfali/Getty Images)
A sugestão do presidente Jair Bolsonaro de que as duas maiores economias da América do Sul possam ter uma moeda única, semelhante ao euro, foi recebida com ceticismo no Brasil e na Argentina.
Depois de encontrar seu colega Mauricio Macri em Buenos Aires na quinta-feira, Bolsonaro disse que os dois países estão dando um “primeiro passo” em direção ao “sonho de uma moeda única na região do Mercosul, o peso-real”. Ele reforçou a sugestão em um evento no Rio de Janeiro na sexta-feira.
A ideia também foi discutida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e líderes empresariais em Buenos Aires, segundo o site do UOL. Guedes, que estava viajando com Bolsonaro, citou o exemplo da Alemanha e disse que os países envolvidos primeiro precisariam fazer ajustes fiscais e assumir riscos para então colher o benefício de maior competitividade.
Economistas e políticos de ambos os países reagiram com desconfiança e os memes da moeda peso-real rapidamente começaram a circular nas redes sociais. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sugeriu no Twitter que os planos poderiam fazer com que o real se enfraquecesse e a inflação voltasse.
Na Argentina, Carlos Rodriguez, ex-secretário de política econômica e professor de economia da UCEMA, referiu-se a Bolsonaro e Macri como “um par ignorante, falando de tópicos que eles não conhecem para satisfazer demandas populistas de pessoas que não entendem”.
Em seu Twitter, Monica de Bolle, pesquisadora-sênior do Peterson Institute for International Economics e diretora do Programa de Estudos Latino Americanos da Johns Hopkins University publicou críticas à ideia:
“Seja Peso Real ou Real Peso, a ideia de Brasil e Argentina terem uma moeda comum é tão estúpida que não há nem por onde começar a argumentar”. “Penso o seguinte: 1. A Argentina é das economias mais dolarizadas da AL. 2. Se querem moeda estável, porque não consideram a dolarização formal à la Equador?”
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Preocupado com o possível ruído causado pela discussão, o banco central brasileiro emitiu uma declaração dizendo que “não há planos ou estudos em andamento para a união monetária com a Argentina”.
Embora os planos de união monetária no Mercosul não sejam novos – os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem já discutiram sobre o assunto há duas décadas – a ideia agora vem em um momento difícil para ambas as economias.
Em recessão por quase dois anos, a Argentina sofreu com uma desvalorização de 50% do peso em 2018. A economia brasileira tem crescido pouco mais de 1% ao ano desde que saiu de sua pior recessão em 2017.
Com certeza, tanto Guedes quanto o ministro das Finanças da Argentina, Nicolas Dujovne, disseram que a iniciativa levaria muito tempo para ser implementada, dada a necessária convergência das políticas fiscais, entre várias outras.
“Uma moeda comum seria inviável sem algumas reformas dramáticas em ambos os países e o cronograma para a implementação real provavelmente abrangeria várias administrações”, disse Pablo Waldman, chefe de estratégia da INTL FCstone Argentina. “A essa altura, não é mais que uma miragem distante, na melhor das hipóteses.”
07 de junho de 2019
Simone Iglesias e Carolina Millan, da Bloomberg
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