Governo quer o fim da exigência de teste toxicológico para motorista profissional
Ok, eu admito. Dei uma exagerada no título desta coluna, mas tenho minhas razões. O fato é que eu cansei de falar mal do governo Bolsonaro, de modo que decidi destacar o que ele faz de positivo.
Adicionando audácia à falta de tino, resolvi procurar algo de bom justamente no pacote de medidas para o trânsito proposto porBolsonaro, iniciativa que, de um modo geral, pode ser qualificada como um desastre. Se as sugestões de Bolsonaro forem acatadas, deixarão uma pilha mensurável de cadáveres. Mas é pouco provável que o Congresso as chancele na íntegra. Não consigo ver parlamentares votando para tirar a cadeirinha das crianças do rol de exigências legais, por exemplo.
Ainda assim, e lembrando que até um relógio parado se mostra certo duas vezes por dia, há um ponto em que Bolsonaro acerta. É a eliminação do teste toxicológico para motoristas profissionais.
Não, não estou defendendo que caminhoneiros dirijam sob efeito de cocaína, heroína e arrebites. É dever das autoridades de trânsito identificar esses motoristas, tirá-los das ruas e estradas e puni-los severamente. O problema desse teste é que ele não fornece a informação de quem está ou não drogado ao volante, limitando-se a apontar se houve uso nos três meses anteriores à coleta da amostra.
E, assim como não há nenhum problema em ser operado por um médico que tomou um porre 15 dias antes da cirurgia, é irrelevante para a segurança viária saber se o motorista aprontou ou não quando não conduzia um veículo.
No mais, não existem trabalhos científicos demonstrando que a utilização maciça do teste toxicológico de larga janela reduz o número de acidentes. E, se ele não faz isso, torna-se apenas uma invasão de privacidade. A maioria das associações médicas e muitos Detrans foram contra sua adoção, descrita como um bem articulado lobby de laboratórios. Se você lembrou do kit de primeiros socorros, acertou.
08 de junho de 2019
Hélio Schwartsman, Folha de SP
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