É difícil explicar a um estrangeiro a sucessão de erros que levou ao incêndio do Museu Nacional. É mais difícil ainda explicar como as autoridades que não agiram para impedir o desastre ainda continuam em seus cargos. Na madrugada de segunda, o ministro da Cultura tuitou que “a tragédia poderia ter sido evitada”. Se poderia, por que não foi? A resposta de Sérgio Sá Leitão foi vazia como um prédio incendiado. Ele escreveu que o Instituto Brasileiro de Museus, subordinado à sua pasta, “realizou diversas ações”.
O ministro também disse ter participado de uma “articulação para viabilizar um patrocínio” do BNDES ao museu. Faltou informar que o banco não liberou nenhum centavo até a data da tragédia. Agora que o acervo foi destruído, o que fazer com o dinheiro?
CULPOU PARA TRÁS – Ontem, em entrevista à BBC, Leitão investiu na politização da tragédia. Em vez de assumir responsabilidades, culpou “governos anteriores que quebraram o Brasil”. O ministro surfou no mesmo oportunismo dos políticos de oposição que usaram a tragédia para pedir votos. Com uma agravante: enquanto os outros fizeram demagogia à distância, ele está no poder.
A UFRJ, que administrava o museu, não explica a incrível sucessão de incêndios em suas unidades. Desde 2011, pegaram fogo o Palácio Universitário, a Faculdade de Letras, o Centro de Ciências da Saúde, o alojamento estudantil e até o edifício da Reitoria.
SEM CUIDADOS – Mesmo assim, não houve investimento mínimo para evitar novos prejuízos. Ontem a vice-diretora do Museu Nacional, Cristiane Serejo, admitiu que a instituição não tinha seguro nem brigada de incêndio.
Se não bastasse a negligência, ainda houve deboche das autoridades federais. O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, ironizou a comoção mundial com a perda do museu. “Agora que aconteceu, tem muita viúva chorando”, disse, na segunda-feira. No mesmo dia, o Supremo abriu inquérito para investigá-lo por suspeita de corrupção e associação criminosa. Neste fim de governo Temer, nem as declarações nem o inquérito devem ser suficientes para derrubá-lo.
07 de setembro de 2018
Bernardo Mello Franco
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário