Há uma crença dominante neste local: você tem de ir à igreja todo o domingo caso queira ter uma vida próspera.
E como essa crença é generalizada, aquelas pessoas que querem ser prósperas vão à igreja em grandes números. Já aquelas que não ligam muito para serem prósperas vão em menor número.
Dado que aquelas que ligam mais para a prosperidade vão mais à igreja do que aquelas que ligam menos, há o seguinte fenômeno: as estatísticas sobre o nível de prosperidade das pessoas deste local mostram que aquelas que vão regularmente à igreja são, em média, mais prósperas do que aquelas que não vão.
Tal fato daria ainda mais força à ideia de que prosperidade requer igreja. Ir à igreja seria considerada uma atividade imprescindível, jamais podendo ser questionada. Mesmo os céticos diriam coisas como "Não é a única ou a principal causa da prosperidade, mas em todo caso é melhor você ir à igreja apenas para se garantir e reduzir as chances de não ser bem-sucedido".
Este é o mundo em que vivemos hoje.
A igreja universitária
A crença religiosa que nos domina hoje é a crença de que pessoas ambiciosas que querem ser profissionalmente bem-sucedidas devem frequentar uma universidade. Caso contrário, serão perdedoras na vida. Na melhor das hipóteses, não serão capazes de realizar seu potencial.
Mas ninguém sabe o que realmente ocorre na universidade ou por que ela supostamente irá lhe tornar mais bem-sucedido. Na verdade, tudo funciona como um ciclo retro-alimentador: dado que é generalizada a crença de que um curso superior é crucial para pessoas ambiciosas, pessoas ambiciosas vão mais às universidades do que pessoas menos ambiciosas.
Consequentemente, quando as estatísticas de emprego e salário são analisadas, elas mostram que aquelas pessoas com curso superior se saem melhor, em média, do que aquelas sem curso superior. Óbvio. Afinal, por causa da crença, pessoas mais ambiciosas vão mais às universidades do que as menos ambiciosas.
Você pode contestar e dizer que o mercado não permitiria que tamanha ineficiência prosperasse. Mas o fato é que conhecemos vilarejos como o descrito acima. As crenças das pessoas moldam suas ações, e suas crenças nem sempre são aquelas que levam à prosperidade material. As pessoas, com enorme frequência, pioram sua situação material em decorrência de algumas de suas crenças — em alguns casos, até mesmo malucas superstições.
O benefício psicológico de se juntar à manada, de fazer parte da crença dominante, de usufruir todo o prestígio que isso gera, e de não se arriscar a ser visto como um agnóstico incentiva todos os tipos de atitudes e decisões que são deletérias aos reais objetivos e aspirações de um indivíduo.
Frequentar uma universidade é o ato religioso mais predominante da atualidade.
Por que as pessoas vão?
A maioria das pessoas ambiciosas vai a uma universidade. E o motivo por que fazem isso nada tem a ver com alguma ligação causal entre curso superior e a conquista de seus objetivos individuais (na maioria das vezes, elas nem sequer têm um objetivo, de modo que seria impossível a universidade ajudar a alcançá-lo).
O motivo por que a maioria das pessoas ambiciosas vai a uma universidade é este: elas acreditam que, se não forem, "deus" não irá amá-las.
E "deus", no caso, representa qualquer aspecto da narrativa cultural dominante que mais cause impacto. Prestígio. Amor dos pais. Aprovação da família. Ser normal.
Se tudo fosse uma questão de carreira profissional, não seriam necessários mais do que alguns minutos de sólida reflexão para constatar que um diploma é algo inócuo, pois empregadores específicos querem apenas que seus funcionários sejam capazes de criar valor específico, algo a ser efetuado de maneiras específicas. Um diploma universitário não garante nada disso. A busca por um diploma, além de ser um dos esforços mais fracos, é o mais baixo denominador comum para se alcançar objetivos. Pior ainda: é fácil de ser superado.
A universidade é uma meta que persiste entre os ambiciosos — daí as estatísticas — por causa de uma crença "religiosa" em sua necessidade. Mas ela simplesmente não é necessária.
Ok, sim, se você já souber, desde cedo, exatamente o que você quer ser profissionalmente, então ir a uma universidade específica pode lhe ajudar a alcançar seu objetivo mais diretamente. Porém, a maioria dos estudantes não sabe o que quer para suas carreiras. Isso é perfeitamente normal e até mesmo positivo na maioria dos casos. Sendo jovem, é quase impossível saber ao certo o que se quer sem antes gastar vários anos trabalhando e fazendo tentativas (e, talvez, nem assim).
Mas isso não significa que entrar em um caixote e ficar ali por cinco anos decorando apostilas, recebendo ordens e as executando mecanicamente com o objetivo de conseguir notas suficientes para não ser reprovado irá ajudar a responder seus questionamentos e dúvidas. Tampouco irá direcionar você mais claramente para seus objetivos específicos.
O caminho é outro: quanto mais cedo você aprender a lidar e a resolver problemas específicos de pessoas específicas, mais rápido você irá aprender a criar valor. Mais rapidamente você irá se estabelecer e fazer-se demandado, pois estará, por meio de seus serviços, criando valor específico de maneiras específicas. Consequentemente, mais cedo você será capaz de transformar essa sua habilidade específica em um conhecimento mais amplo daquilo que você quer. Você terá mais facilidade para transferir esse conhecimento prático para outras atividades e assim estreitar sua busca por uma carreira.
Esta é a maneira de realmente iniciar sua carreira profissional: descubra aquilo em que você é bom — o que inevitavelmente envolve resolver problemas e satisfazer demandas específicas —, concentre-se naquilo e crie valor em cima disso. Você não precisa da autorização e nem da aprovação de professores que vivem em um mundo próprio desconectado da realidade (mais sobre isso abaixo). Passar cinco anos em uma sala de aula repleta de outras cabeças confusas repetindo mecanicamente exercícios não irá ajudar em sua busca.
E por que, então, ainda é tentador ir a uma universidade?
Sejamos diretos: a universidade é uma completa perda de tempo e de dinheiro para pessoas ambiciosas.
Em seu íntimo, a maioria das pessoas que hoje frequenta uma universidade sabe disso. Mas elas estão em uma universidade porque têm medo de ser vistas como diferentes e de fazer algo específico. Elas temem se tornar, prematuramente, um indivíduo autônomo, sólido e concreto, pois isso exige responsabilidade e muito esforço.
A universidade é uma maneira socialmente aceitável de postergar a entrada no mundo adulto. É uma maneira de prolongar a adolescência e de postergar sua transformação em uma pessoa diferenciada ao mesmo tempo em que os pais continuam lhe bancando sem fazer qualquer julgamento moral.
Por isso a universidade continua atraente.
Mas tudo isso tem um custo. Cada minuto que você vive às expensas de terceiros, cada minuto que você posterga sua transformação em um indivíduo específico, e cada minuto que você gasta neste mar turvo de "opções" imaginárias, você está reduzindo o potencial daquilo em que você pode se transformar.
Quanto mais tempo você vive no limbo, menor será o seu teto quando sair desse mundo da fantasia e ascender ao mundo das idéias concretas.
Mas as notícias são boas
Não, essa não foi uma exposição desoladora, com o intuito de entristecer e deprimir. Ao contrário: o intuito foi libertar.
Utilizando agora uma analogia religiosa diferente, é como as 95 teses de Lutero. É a revelação de que mentiram para você. Você não precisa comprar indulgências para ter uma chance no céu. Você tem iniciativa própria e é capaz de determinar seu próprio destino sem ter de apelar a uma instituição burocrática e intumescida em busca de um selo de aprovação.
Todo o sistema acadêmico (e também escolar), de cima para baixo, foi desenhado por e para professores. Os métodos de ensino e as coisas ensinadas são majoritariamente válidos apenas para aquele ambiente. A maneira mais eficaz de aprendizado ocorre quando se tem a prática, quando se tem "a mão na massa", quando se está próximo das coisas reais e quando se está em uma estrutura de incentivos que recompense a criação de valor. Nada disso está presente no ambiente acadêmico. Tanto a escola quanto a universidade significam que você está gastando todo o seu tempo ao lado apenas de educadores (e nenhum minuto ao lado de alguma outra profissão do mundo real).
Mais ainda: significam que você está dentro de um sistema de incentivos que premia apenas as coisas que estes profissionais aprovam. Na prática, a escola e a universidade, em conjunto, são um programa de 20 anos para formar aprendizes de professores.
Não é nenhuma surpresa, portanto, que professores reajam estarrecidos a pessoas que criticam este sistema que se resume a salas de aula iluminadas por depressivas luzes fluorescentes (que lembram um ambiente de hospital) contendo um aglomerado de pessoas desapaixonadas que estão apenas atrás de credenciamento (vulgo "diplomas"). Professores adoram toda esta experiência porque foi neste ambiente que eles se formaram e aprenderam todas as coisas de que precisaram para ser bem-sucedidos em suas carreiras de acadêmicos e educadores. Tendo passado toda a vida ali, é realmente difícil entender e aceitar que há outras possibilidades de aprendizado no mundo.
Também não é nenhuma surpresa que tal arranjo seja um épico e colossal desperdício de tempo para aquelas pessoas que querem entrar em outras partes do vasto mercado de trabalho que não a vida acadêmica.
Portanto, se você não está atrás de uma carreira acadêmica e não quer ser apenas mais um figurante, abra a champanha e vá se ocupar de fazer coisas de verdade no mundo real. Não viva sua vida em busca de médias. Não faça parte da massa das estatísticas e dados agregados que refletem apenas as superstições da época.
Em vez disso, vá criar algo. Saia. Siga seu próprio caminho. Imagine e crie coisas que entusiasmem você. Tenha uma ocupação que não seja monótona. Viva uma vida que lhe dê prazer.
Não espere que o mundo mude, e nem muito menos implore por permissões de burocratas. Tente você mesmo mudar seu próprio mundo. O resto irá vir como consequência.
14 de agosto de 2018
Isaac Morehouse
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