Se os candidatos à Presidência da República tiverem juízo, a educação será o tema principal da campanha, que começará, oficialmente, em 16 de agosto. Sem a melhoria do sistema de ensino do país, qualquer projeto de governo tenderá ao fracasso. Os dados atuais, diz o professor Abílio Baeta Neves, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), são alarmantes. Não há nada que se possa comemorar.
Os problemas vão do ensino básico ao superior. Portanto, o vencedor nas urnas terá que fazer uma verdadeira revolução se quiser colocar o Brasil mais próximo do que se vê no mercado internacional. O país está atrasado em tudo, sobretudo em relação às pesquisas. Por ser estritamente local, a produção científica brasileira tem baixo impacto na economia. O índice que mede esses efeitos é de 0,8 no Brasil contra 1,0 no mundo.
GRANDE PROBLEMA – O professor diz que há um problema cultural grande. Os pesquisadores não têm interesse em expandir seus estudos no exterior. Já as universidades brasileiras estão acomodadas, não fazem qualquer movimentação para ampliar o intercâmbio de alunos. São poucos os estudantes que vêm de fora. A situação é tão alarmante, diz o presidente da Capes, que mais de 50% dos pesquisadores nunca se deslocaram mais que 10km do local onde atuam. E mais: 64% deles não querem estudar no exterior.
“Há uma briga internacional por jovens talentos. Na Suíça, mais de 50% dos alunos em universidades são estrangeiros. Aqui, não damos valor a isso. Somos muito domésticos”, ressalta Baeta Neves. Ele diz que recursos fazem falta para incentivar a internacionalização das pesquisas brasileiras, mas o maior problema é cultural. “De nada adiantará ampliar as verbas disponíveis para pesquisas se não mudarmos nossa atitude. Só vamos aumentar o erro”, frisa.
SEM CONTROLE – Baeta Neves lembra o caso do Ciência sem Fronteiras, criado no governo de Dilma Rousseff. A ideia era levar um grande número de jovens para universidades mundo afora. Mas não houve controle. Priorizou-se demandas individuais, sem de preocupar com o impacto das pesquisas nas instituições de origem dos estudantes. Mais que isso: em muitos casos, o que era para ser um período de estudo se transformou em um período de férias bancadas com dinheiro público.
O professor assinala que, mesmo com toda a escassez de recursos, a Capes vem se esforçando para incrementar a qualidade dos trabalhos científicos. Em 2018, o orçamento de R$ 3,9 bilhões bancará 100 mil bolsas no Brasil e 7 mil no exterior.
Essa atuação poderia se maior não fosse o baixo ingresso de jovens no ensino superior. Daqueles entre 18 e 24 anos, somente 20% estão cursando a universidade. Isso, portanto, restringe o número de pós-graduados e doutores, os responsáveis pelo incremento da ciência.
MAIS VERBAS – Na visão do presidente da Capes o futuro governante terá de reforçar as verbas para a educação, mas com eficiência, para que os resultados sejam efetivos. A qualidade do ensino é tão ruim que estamos na 67ª colocação no ranking mundial de inovação, segundo o Fórum Econômico Mundial.
Para Baeta Neves, a crise econômica não é desculpa para se falar em cortes de recursos para a educação. Ele lembra que, entre 2008 e 2009, quando o mundo ruiu depois do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, as grandes economias do planeta ampliaram os gastos com pesquisas e inovação.
“Dizer que o Brasil gasta muito com educação é um erro. Nossa primeira universidade só abriu as portas em 1930, com século de atraso. Temos um passivo grande ante os países que investiram muito antes na educação”, afirma o professor. É preciso ter mente que a boa educação aumenta a competitividade da economia. Vivemos em uma sociedade cada vez mais conectada tecnologicamente. Há um mundo novo pela frente, e o Brasil não pode ficar de fora.
26 de julho de 2018
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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