"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 11 de março de 2018

MODELOS PEDAGÓGICOS NA LITERATURA E O CULTO BRASILEIRO DA MEDIOCRIDADE



Confesso que o Inspetor Maigret, do Georges Simenon, foi um dos meus modelos pedagógicos. Sempre modesto, prestativo, humilde, mas seguro de si e superior às situações. De onde o Simenon pode ter tirado esse personagem, se não das virtudes que ele desejava desenvolver na sua própria personalidade? Como o Henrique V de Shakespeare ou o Cid de Corneille.

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Na literatura brasileira, infelizmente, faltam personagens dessa envergadura. Só tem malandros, coitadinhos e medíocres. Os livros do José Geraldo Vieira são exceções. Dos nossos escritores, só ele acreditava nas possibilidades superiores do ser humano.

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Nos grandes momentos de Gonçalves Dias você também vê a crença nas virtudes.

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Na minha juventude fiz muitas concessões ao culto brasileiro do medíocre e do banal, porque temia desagradar as pessoas. Era como se eu tivesse vergonha de ser mais concentrado e mais sério do que aquele bando de avoados e dispersos em torno. Só me tornei um homem maduro quando me livrei dessa fraqueza.

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Hoje em dia, se uma pessoa exerce uma função de nível universitário mas tem uma vida intelectual de lixeiro, não tenho inibição de humilhá-la — em público, se for preciso.

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Creio que perdi uns vinte anos de vida dando trela a cultores da banalidade. Nunca mais.

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Um dia me vi retratado no Conselheiro Aires do Machado de Assis e no Gonzaga de Sá de Lima Barreto — homens de espírito superior que fogem e se escondem da sociedade por medo se ser incompreendidos e maltratados pelos medíocres. Morri de vergonha de mim mesmo e daí por diante adquiri um prazer sádico em maltratar aqueles a quem antes temia.

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Quando um deles sai me xingando, não é sem razão. Que mais ele pode fazer? Virar gente é que não.

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Se você tem MESMO preguiça de desenvolver sua consciência, tem a OBRIGAÇÃO ESTRITA de contentar-se com um posto baixo e humilde na sociedade. Muitos deputados, senadores, ministros e professores universitários poderiam ganhar a vida honestamente como ascensoristas e engraxates.

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A coisa mais abominável do mundo é o conformismo preguiçoso que se dá ares de simplicidade evangélica. A falsa humildade do medíocre é a delícia dos demônios.

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Se você não é nem um coitadinho de baixo QI que precisa da minha ajuda, nem um estudioso barbaramente ansioso para tudo saber e compreender, a sua pessoa, literalmente, NÃO ME INTERESSA. Vá cagar no mato.

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Ou os fortes exploram os fracos, ou os ajudam. Mas os fracos SEMPRE exploram os mais fracos. É a sua maneira de sentir que são fortes.


11 de março de 2018
Olavo de Carvalho

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