A julgar pelos dados mirabolantes que traçam na Internet o perfil de Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores do desgoverno Lula, tudo leva a crer que não estamos diante de um simples mortal, de uma criatura de carne e osso, capaz, como qualquer pessoa, de cometer erros e tropeços. Nem de longe: nas fantasiosas entradas do Google e sites afins sua figura resplandece como um ser infalível e absoluto, espantosa mistura do Super-Homem com o Belo Brummel ou, se quiserem, a encarnação terrena do Senhor do Bonfim. Se o leitor duvida, basta consultá-las.
Seja nas complexas negociações sobre regimes de livre comércio e tarifas internacionais, seja em torno das eternas discussões ambientalistas ou mesmo a respeito dos complicados tratados da não-proliferação de armas nucleares – revela-se sempre um Amorim senhor da razão, das palavras oniscientes e conceitos abalizados. Em suma, um timoneiro inexpugnável. Fico só a imaginar: o que fariam um Barão do Rio Branco, um Joaquim Nabuco ou um Gilberto Amado, pai e mestres da diplomacia brasileira, diante de uma figura de tão esplendorosa sabedoria? Na certa, cairiam de joelhos e, de mãos postas, irromperiam em frenesi arrebatador: – Aleluia, Amorim! Aleluia, Amorim! Aleluia, Amorim!
(A coisa chegou a tal ponto, nas páginas da permissiva Wikipédia, que Amorim é apontado por um incerto David Rothkopf – dono de empresa de consultoria, fanático eleitor de “Buraco” Obama e ex-funcionário da “Foreign Policy”, publicação da ultra-esquerdista Washington Post Company -, como o “melhor chanceler do mundo”. A propósito, lembro-me agora da proposta que me fez o cineasta Miguel Borges ante a falência da Embrafilme: – “Ipojuca, topa fazer um grande negócio?” – “Qual?” – retornei? E ele: “A gente compra Amorim pelo preço que ele vale e vende, depois, pelo preço que ele PENSA que vale”.)
Megalomania à parte, o fato é que a Diplomacia do Mal empreendida por Amorim & acólitos (leia-se Marco Aurélio Garcia, o MAG top-top, e o anti-americanista devoto “Samuca” Pinheiro Guimarães), durante a Era Lula, redundou em completo fracasso.
Vejamos, por exemplo, o “caso Brasil-Irã”: embora à época Amorim se dissesse empenhado em seguir a tradicional diplomacia pacifista do Itamaraty, um repórter da revista alemã “Der Spiegel”, Hans Rühie, assinalou com boa soma de informações que o governo do Brasil, por trás da construção de um submarino nuclear, estava investindo pesado em um programa de armas nucleares.
Na ocasião, a própria Diplomacia do Mal tratou de propagar esdrúxulo acordo de enriquecimento de urânio (o “combustível” da Bomba) assinado no Irã por Lula, Mohamoud Ahmadinejad e o turco Erdogan. Pior: diante do clamor de países europeus, vítimas das corridas armamentistas, o governo fanfarrão foi adiante e, pela ventriloquia do simplório Zé Alencar, o vice de Lula (então, fabricante da cachaça “São Francisco”), pontificou, gabola, que as armas nucleares “dariam ao Brasil os meios para aumentar sua importância no cenário mundial”.
Mais tarde, ao receber em Brasília o execrado Ahmadinejad, a Diplomacia do Mal provocou a repulsa da comunidade internacional.
No Brasil, grupos religiosos e entidades dos direitos humanos realizaram atos de protesto contra a visita do tiranete do Irã, cuja pretensão, ao negar a existência do Holocausto, era “varrer Israel do mapa”.
Como resposta ao clamor geral, a diplomacia de Lula, na sua duplicidade cínica, deitou o sofisma de que “a nossa tradição é não intervir nos assuntos internos de outros países”.
Mas o “pacifismo militante” do Itamaraty de Lula ficou expresso em aberrações como no caso do arbitrário “abrigo” na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa (Honduras) do “cucaracho” Manuel Zelaya, presidente deposto pelo parlamento por corrupção e tentativa de fraude constitucional ou então na completa omissão diante do sequestro do comerciante brasileiro Vicente Vieira pela guerrilha das FARC, organização terrorista integrante, ao lado do PT, do Foro de São Paulo. E ainda no asilo oficial dado ao terrorista italiano Cesare Battisti, (responsável pelo frio assassinato de 4 pessoas, entre elas, duas crianças), visto por Lula como “perseguido político”.
Por sua vez, depois de solapar sistematicamente a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), acordo proposto pelos americanos para eliminação de barreiras alfandegárias entre 34 paises, a Diplomacia do Mal, de um lado, seguindo servilmente à política do “blame America first” (Culpe a América primeiro) preconizada por Fidel Castro, apostou suas escassas fichas em negociações com a União Europeia no âmbito das sucessivas “rodadas Doha”, da OMC, criadas para a liberação do comércio mundial. De outro lado, em plano regional, a aposta foi no desentrave do Mercosul – o limitado Mercado Comum do Sul, criado no governo Collor em 1991.
Como esperado, a União Européia cuspiu literalmente em cima das pretensões de Amorim, que reivindicava livre trânsito para os produtos agrícolas brasileiros mas não concordava em diminuir as barreiras para importação de produtos industriais e abrir o setor de serviços a países do bloco da UE.
Já no Mercosul, nem é bom falar: em vez de bloco voltado para o livre-comércio, transformou-se, nas mãos da Diplomacia do Mal, em valhacouto da baixa politicalha comunista, terminando por implodir de vez quando da inclusão fraudulenta da Venezuela bolivariana em seus quadros. Resumo bufa ópera: a Europa saiu da crise econômica, os EUA (com Trump) retornaram à prosperidade e ao pleno emprego e o Brasil… bem, o Brasil, ainda curtindo o “blame America First”, acaba de ser catalogado pelas agências internacionais de classificação de risco como um “país desaconselhável para investimento”.
No ringue da política ambiental no combate ao “aquecimento global”, em que Amorim se vendia como paladino, o vexame foi ainda maior: um analista do Greenpeace, Marcelo Miranda, afirmou que as intervenções do Brasil nas cúpulas que tratam das mudanças climáticas são “redundantes e vazias”. Na avaliação do analista, o Brasil sempre apareceu pedindo financiamento para acabar com o desmatamento, mas a agenda de Lula só trata do etanol que, como se sabe, por desmatar, “é parte do problema”.
De resto, o Brasil – como boa parte dos países engajados – só pensa em criar impostos sobre “emissões de carbono” para sacar US$ bilhões dos países desenvolvidos, os EUA à frente.
Voltaremos ao assunto, mas encerro com a historieta da jornalista Malu Gaspar, da revista “Exame”. Ela leu no site do Itamaraty a informação de que Amorim era “doutor em ciência política pela London School Economics”. Por e-mail, consultou a própria LSE. A resposta veio seca: o ministro do MRE “nunca concluiu seu doutorado”.
Instado sobre a veracidade do fato numa palestra, Amorim justificou-se: “Nunca terminei meu doutorado, provavelmente por causa do meu excesso de ambição à época”.
Não é revelador?
11 de março de 2018
Ipojuca Pontes, cineasta, jornalista, e autor de livros como ‘A Era Lula‘, ‘Cultura e Desenvolvimento‘ e ‘Politicamente Corretíssimos’, é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e foi secretário Nacional da Cultura.
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