O ministro Raul Jugman assumiu a pasta da Segurança na manhã de ontem e à tarde, na primeira reunião com sua equipe, exonerou Fernando Segovia da direção da Polícia Federal e para seu lugar nomeou imediatamente o delegado Rogério Calloro. O fato explodiu como uma bomba detonada em Brasília fazendo com que estilhaços políticos da explosão atingissem inevitavelmente o presidente Michel Temer. A rapidez da decisão revelou em seu conteúdo mais um enfraquecimento do presidente da República. Não só porque ele havia nomeado o atual diretor, mas principalmente porque Fernando Segovia, na famosa entrevista à Agência Reuter, tentou implodir o trabalho da Polícia Federal que investiga possíveis veiculações entre o Palácio do Planalto e a Empresa concessionária do Porto de Santos, Rodrimar.
Tão logo a notícia estourou, a GloboNews apresentou longa reportagem a respeito, ainda no final da tarde. Impossível minimizar o reflexo político da decisão, que produziu vários significados, todos eles de grande importância para o panorama político brasileiro.
LAVA JATO E PF – Em primeiro lugar, o fortalecimento ainda maior da Operação Lava Jato e das ações da Polícia Federal, cujo corpo de delegados reagira contrariamente à manifestação do ex-diretor que praticamente antecipava o resultado de um inquérito que ainda não se encontrava em suas mãos para apreciá-lo. Em segundo lugar, fixou a imagem do presidente da República num plano inclinado de mais um episódio a marcar a queda de seu poder de decisão.
Sim, porque se dependesse de sua vontade pessoal, Michel Temer não demitiria Segóvia, indicado para o cargo pelo ex-senador José Sarney. Ficou claro que o episódio resultou de uma pressão conjunta, inegavelmente formada em parte por uma via de consequência da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Basta comparar os fatos: o ministro da Justiça Torquato Jardim desejava afastar Segovia, porém não conseguiu a concordância do Presidente Michel Temer.
Segovia foi interpelado por um ministro do Supremo, Luis Roberto Barroso, ao mesmo tempo ameaçado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que o advertira com a perspectiva de seu afastamento do cargo pela antecipação de uma tendência da Polícia Federal antes do desfecho das investigações.
Mas a vontade de Jardim não foi suficiente. O acontecimento final transbordou na formação básica do Ministério da Segurança, criado por Medida Provisória há dois dias e tão logo Raul Jugmann colocou o pé na pasta extraordinária. Não foi coincidência.
SEM COINCIDÊNCIAS – Aliás, em matéria política, coincidências ocorrem muito dificilmente. Pode se supor que a criação do Ministério da Segurança foi uma consequência paralela à nomeação do general Walter Braga Netto para interventor (de Segurança) no Rio de janeiro. É preciso considerar também que um general foi convocado para ocupar o Ministério da Defesa, que reúne as três Forças Armadas. Fica no ar a perspectiva de a intervenção no RJ ter sido uma decisão mais militar do que propriamente civil. Mas esta é outra questão.
O essencial na substituição de Segovia por Galloro reflete o enfraquecimento ainda maior do presidente Michel Temer em ser o autor único de suas próprias decisões.
Daqui para frente, a estrada do poder terá mais vigilância e vigilantes.
01 de março de 2018
Pedro do Coutto
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