"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 8 de março de 2018

DEVAGAR SE VAI AO LONGE



Até que enfim, no final da semana passada, saiu o tão esperado resultado do PIB (Produto Interno Bruto) referente ao exercício 2017. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ele cresceu 1% após ter recuado 3,5% em 2016 e 2015 sobre o ano anterior, mas ainda não repõe as perdas da atividade econômica na crise, comprovando, dessa forma, a maior recessão da história recente do país.

Estamos saindo da rota da crise e trazendo alguma esperança na consolidação do processo de crescimento que naturalmente tenderá a tornar-se cada vez mais abrangente. Além do crescimento efetivo da nossa economia, também obtivemos maior número de importações e exportações, redução acentuada da inflação e dos juros que foram dentre outras, importantes conquistas que obtivemos no ano passado.

Inicialmente, vemos uns resultados bastante animadores, mas ainda não podemos considerá-los sólidos como realmente gostaríamos que fossem. Não estou apenas me baseando na queda progressiva da atividade econômica brasileira durante dois anos; os números apresentados, de modo geral, transparecem uma recuperação aparentemente consistente apesar de que eles se diferenciam nitidamente de uma retomada acelerada do nosso crescimento econômico.

A partir do momento em que o Brasil decidiu ressuscitar os anos 70, lá pelos meados da década passada, surgem então como sinal de alerta os riscos da experiência inconsequente que já tivemos a oportunidade de vivenciar. Acho que o País não é, e nem tampouco deseja imitar a China, de forma que não devemos esperar um avanço em nossa economia similar ao patamar que a economia chinesa vem apresentando atualmente. Se, por acaso, tivéssemos ido na direção de um robusto crescimento superior a 5% é que deveríamos estar preocupados, mas diante de 1% que acabamos de conquistar, por enquanto, podemos considerá-lo satisfatório.

Na verdade, a economia brasileira cresceu nos quatro trimestres de 2017, sendo que nos últimos três meses de 2017 o ritmo de expansão ganhou maior impulso, com taxa de crescimento de 0,4%, após subir 0,1% no período anterior.

De modo geral, a análise imediata dos números do PIB indica que deixamos de encolher e voltamos a crescer, mesmo que pouco. Buscando examiná-lo mais especificamente, veremos que pelo lado da demanda, o aumento do consumo das famílias foi o carro-chefe responsável por 63,4% do PIB, já que cresceu 1% no acumulado do ano e 0,1% no quarto trimestre em comparação com o terceiro. O grande campeão, sem dúvida, foi o agronegócio, que aumentou 13% em 2017, sobretudo em função dos bons resultados das lavouras de milho (55,2%) e soja (19,4%).

O setor de serviços avançou, mas em ritmo moderado (0,2% no quarto trimestre ante o trimestre anterior), com destaque para o comércio, que cresceu 1,8% no ano, seguido por atividades imobiliárias (1,1%), transporte, armazenagem e correio (0,9%). Já a indústria ficou praticamente estagnada no ano, porém mesmo assim conseguiu emplacar 0,5% no quarto trimestre em comparação com o terceiro. Neste caso, o ponto forte desse setor deve-se exclusivamente ao desempenho das indústrias extrativas (4,3%), infelizmente, contrastando com a nefasta queda na construção (-5%).

Em valores correntes, o PIB foi de R$ 6,559 trilhões. A taxa de investimento no período alcançou 15,6%, abaixo do percentual registrado no ano anterior (16,1%). Já a taxa de poupança melhorou de 14,8%, ante 13,9% registrados em 2016. O PIB per capita variou 0,2% em termos reais, alcançando a marca de R$ 31.587 no ano que passou.
Porém, sinto que ainda temos um longo caminho a percorrer até gerar 12,7 milhões de empregos para aqueles ainda à procura de uma recolocação. Na realidade, são mais de 26 milhões de brasileiros que não têm uma ocupação.

Leitura geral é que, de fato, a economia está ganhando tração, mas o próximo governo terá que combater frontalmente as mais terríveis distorções da economia, começando logo pela Previdência, pois todas as incertezas estruturais existentes em 2017 até então, possivelmente, seguirão presentes em 2018 e ainda não vemos elementos seguros que venham a mudar para melhor as expectativas presentes.

08 de março de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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