"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

INTERVENÇÃO É OPORTUNIDADE PARA SANEAR INSTITUIÇÕES

Trabalho de depuração é fundamental para que ações coordenadas entre forças federais e polícias do estado possam surtir efeito, o que não vinha ocorrendo

A intervenção decretada pelo governo federal na segurança do Rio de Janeiro será avaliada por sua capacidade de entrar em instituições essenciais, como as polícias Militar e Civil e a Secretaria de Administração Penitenciária, oportunidade para que elas sejam saneadas.

O desconforto de autoridades federais com o que se passa nas polícias fluminenses sempre ficou evidente, especialmente a partir das ações conjuntas entre as forças de segurança da União e as do estado, no ano passado.

Em julho, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, defendeu uma força-tarefa integrada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Justiça para fazer uma “assepsia” no Rio, onde, segundo ele, parte do poder público fora capturada pela criminalidade. Um dos objetivos seria combater a corrupção nas polícias. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, foi ainda mais longe. Em outubro, afirmou que o governador Luiz Fernando Pezão e o secretário de Segurança, Roberto Sá, não controlavam a Polícia Militar e que comandantes de batalhões da PM eram sócios do crime organizado. As declarações fortes causaram mal-estar no Palácio Guanabara e nas corporações, mas não foram desmentidas.

De fato, o crime dentro das próprias instituições é um problema no combate à violência, mas não costuma ser tratado com prioridade. Como mostrou reportagem do GLOBO, de janeiro a outubro do ano passado, nenhum caso de corrupção ativa de PM chegou à Auditoria da Justiça Militar na capital. Em 2016, houve apenas um, e, no ano anterior, três. Nos últimos dez anos, 373 policiais civis e militares foram exonerados por desvios de conduta, número considerado modesto por especialistas.

Certamente, eles não refletem o alcance da chamada banda podre. Em junho do ano passado, quase cem PMs do Batalhão de São Gonçalo foram acusados de integrar um grande esquema de corrupção. Segundo a Operação Calabar, eles recebiam propina de traficantes para não reprimir a venda de drogas em favelas do município.

A Secretaria de Administração Penitenciária é outra área que deverá merecer atenção especial. No mês passado, o secretário Erir Ribeiro Costa Filho foi afastado do cargo, por determinação da Justiça, sob acusação de conceder regalias ao ex-governador Sérgio Cabral no presídio de Benfica.

Não deixam de ser sintomáticos o alerta máximo decretado nos 54 presídios do estado e a rebelião no Milton Dias Moreira, em Japeri, domingo.

Sanear essas instituições é fundamental para que as ações coordenadas entre as forças federais e as polícias do estado possam surtir efeito, o que não vinha acontecendo. Mas é preciso que elas sejam duradouras. Operações tópicas, realizadas no varejo, já se mostraram ineficazes. Podem funcionar por algum tempo, mas, quando as forças se retiram, tudo volta a ser como era antes. Portanto, não se pode cometer o mesmo erro.


21 de fevereiro de 2018
Editorial O Globo

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