Frequentemente, durante uma discussão em sala de aula, ou até num discurso na igreja, o tema sabedoria costuma ser abordado. Geralmente, a definição é apresentada como uma prática ou como um ensinamento aplicado. Mas eu, particularmente, gostaria que a definição de sabedoria de Tomás de Aquino predominasse no dia-a-dia da civilização ocidental. Na verdade, as Artes Liberais teriam surtido um efeito muito melhor ao longo dos tempos, caso a definição tomista tivesse sido a única a ser ensinada e vivida.
Para Tomás e a maioria dos filósofos que precederam o mundo moderno, a filosofia era essencialmente o “amor à sabedoria”. Participar da prática filosófica consistia numa busca fiel pela sabedoria, onde quer que fosse encontrada. O entendimento primário da verdade era afirmar o que algo era realmente, ao invés de dizer aquilo que não era. Em um sentido mais amplo, a sabedoria significava uma profunda compreensão da verdade das coisas. A filosofia não era um olhar relativo, nem uma manipulação ideológica, mas uma busca diligente para entender o bem, o verdadeiro e o belo.
Tomás afirma na Suma Contra os Gentios I, 2:
“Entre os estudos humanos, o da sabedoria é o mais perfeito, o mais sublime, o mais útil e o mais alegre.
O mais perfeito, porque enquanto o homem entrega-se ao estudo da sabedoria já vai participando, de algum modo, da verdadeira beatitude. Por isso, diz o sábio: Feliz o homem que permanece na sabedoria (Eclo 14, 22).
O mais sublime, porque por ele o homem aproxima-se o mais possível da semelhança de Deus, o qual fez todas as coisas sabiamente (Sl 103, 24). E porque a semelhança é causa do amor, o estudo da sabedoria nos une de modo precípuo a Deus, pela amizade. Por esta razão se diz no livro da Sabedoria: A sabedoria é um tesouro infinito para os homens que, ao usarem dele, fazem-se participantes da amizade de Deus (Sb 7,14).
O mais útil, porque pela própria sabedoria chega-se ao reino da imortalidade, conforme se lê no mesmo livro: O desejo da sabedoria conduz ao reino eterno (Sb 6,21).
O mais alegre, finalmente, porque está também escrito neste livro: A sua companhia não é amarga, nem enfadonha é sua convivência, mas alegre e cheia de gáudio (Sb 8,16).”
Também vale a pena notar que, entre os maiores filósofos da tradição intelectual ocidental, não houve ninguém mais comprometido com a oração do que Tomás. Como grande exemplo, ele não apenas buscou a sabedoria como parte de seus esforços brilhantes e intelectuais, mas também rezou diariamente por sabedoria.
Isso pode surpreender a sociedade pós-iluminismo, saber que, antes do iluminismo, a sabedoria estava intimamente ligada ao divino. Para aqueles filósofos, raciocinar, refletir, imaginar, conjecturar, era parte do que significava agir fielmente em conformidade com a imagem de Deus. Sobre as quatro causas expostas por Aristóteles e aderidas por Tomás, a sabedoria era entendida como a compreensão da causa final (fim último). Infelizmente, quase tudo foi perdido na ciência e na filosofia de hoje.
É possível que uma das razões pela qual a Filosofia seja ridicularizada por tantos, hoje, como irrelevante e desatualizada, seja por ela ter perdido a direção há algumas centenas de anos e não ter encontrado o caminho de volta. Se filosofia ainda significasse a combinação entre o teórico e o prático, entre a reflexão e a ação moral adequada, pode-se imaginar que haveria muitos mais que a amariam e viveriam com sabedoria.
19 de fevereiro de 2018
Tradução: Raul Effting
[*] Robert é Colaborador Sênior do site Imaginative Conservative. Ele é o diretor da Covenant School, em Dallas, Texas, e leciona no programa de pós-graduação da Universidade de Faulkner. Seus trabalhos são publicados em inúmeros periódicos e ele escreve regularmente em seu site Musings of a Christian Humanist.
Fonte: The Imaginative Conservative
Nenhum comentário:
Postar um comentário