Foco de operações que apuram desvio de recursos, a Caixa mantém no seu comando cinco dirigentes sob suspeita de envolvimento em esquemas de corrupção. Seu presidente, Gilberto Occhi, e quatro vice-presidentes são alvo de investigações do Ministério Público Federal e do próprio banco. Citações a eles aparecem nas operações Sépsis, Cui Bono? e Patmos, conduzidas pela Procuradoria em Brasília. Mensagens e documentos sob análise dos investigadores indicam que os dirigentes auxiliaram o grupo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA) a viabilizar operações do banco nas quais teria havido suborno.
Em delação, o corretor Lúcio Funaro disse que Occhi tinha uma “meta de propina” a cumprir quando era vice-presidente de Governo na CEF. Uma apuração paralela, encomendada pelo comitê independente da Caixa ao escritório Pinheiro Neto Advogados à empresa de investigação privada Kroll e à auditoria PwC, expôs os vínculos da atual cúpula com políticos investigados e mostrou como tem funcionado o balcão de favores no banco. Por conta das suspeitas, o MPF requereu em dezembro que o governo afaste todos os vice-presidentes para que a escolha passe a ser feita por critérios técnicos.
IRREGULARIDADES – O pedido, enviado à Casa Civil e ao banco, compila irregularidades atribuídas aos executivos. A investigação da Caixa cita episódios de ingerência política na gestão e nas operações do banco. O relatório sobre as apurações diz que o então ministro Marcos Pereira (Indústria e Comércio), que pediu demissão do cargo na última semana, e o deputado Celso Russomano (SP), ambos do PRB, teriam condicionado a permanência do vice-presidente Corporativo, Antônio Carlos Ferreira, no cargo ao atendimento de “demandas”.
O executivo contou em depoimento que recebeu e encaminhou para as áreas pertinentes pedidos de patrocínio e reuniões com empresários feitos pelo partido. Ferreira indicou ainda que os vices Deusdina dos Reis Pereira (Fundos de Governo e Loterias) e Roberto Derziê de Sant’Anna (Governo) tinham frequentes encontros com Cunha para tratar de operações da Caixa. O dono do grupo J&F, Joesley Batista, disse em delação ter conhecimento de que Derziê recebia pagamentos indevidos e integrava o grupo criminoso do ex-deputado.
CONTA PESSOAL – A investigação diz também que que pleitos da Eldorado Celulose, da J&F, foram enviados a ele pelo ex-vice-presidente Fábio Cleto, primeiro a delatar corrupção no banco. O relatório cita ainda uma mensagem na qual Geddel teria enviado a Derziê dados de uma “conta pessoal”. Derziê é ligado ao MDB. Ouvido pelo banco, ele disse que o presidente Michel Temer, quando vice de Dilma Rousseff, lhe encaminhou pedido de nomeação e “percebeu sua utilidade em termos de gestão dos repasses nas emendas parlamentares”.
Já o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), identificado em mensagens de investigados como “cabeça branca”, teria solicitado informações de operações de empresas privadas com a Caixa. A investigação apurou que Deusdina era braço-direito de Cleto no banco e, após a demissão dele, teria se apresentado a Cunha como sua “substituta”. Ela é ligada ao PR.
Já José Henrique Marques da Cruz, chefe da área de Clientes, Negócios e Transformação Digital, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na Cui Bono?. Ele é citado em mensagens de Geddel e Cunha como um suposto auxiliar na liberação de recursos da Caixa para empresas da J&F, suspeita de pagar propina aos emedebistas. Geddel teria procurado Marques e, em seguida, afirmado para Cunha que o executivo estava “comprometido a assinar cédula de crédito bancário” para empresas do grupo “no dia seguinte”.
NÃO VAI AFASTAR – O presidente Michel Temer não deve atender ao pedido de afastamento dos vice-presidentes da Caixa. O Palácio do Planalto prepara resposta ao Ministério Público Federal, na qual argumenta que a situação dos executivos não contraria a Lei das Estatais, que disciplina a nomeação de diretores e conselheiros de empresas públicas. As respostas devem ser enviadas aos procuradores a partir desta segunda, dia 8.
A resistência do governo à saída tem razões políticas. O Planalto quer manter atados à sua base no Congresso partidos que indicaram os diretores da Caixa (PP, PR e PRB), visando a aprovação da reforma da Previdência. Apesar da recusa do presidente, autoridades da equipe econômica afirmam que a saída dos executivos seria benéfica à Caixa. Dizem que os escândalos de corrupção e o aparelhamento político comprometem o banco.
O Conselho de Administração da Caixa aprovou novo estatuto, que lhe dá poderes para afastar dirigentes, mas a implementação ainda depende do aval do ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e acionistas, em assembleia. O documento está sob análise da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Não há data para que chegue às mãos de Meirelles.
10 de janeiro de 2018
Fabio Fabrini
Folha
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