"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 7 de janeiro de 2018

A SOLUÇÃO PARA A CRISE DA TERRA NÃO VEM DO CÉU, MAS DEPENDE DE NÓS TODOS

Ilustração do Duke (O Tempo)

O que vou escrever aqui será de difícil aceitação pela maioria dos leitores. Embora o que diga seja fundado nas melhores cabeças científicas, a situação do planeta Terra e seu eventual colapso, ou um salto quântico para outro nível de realização, não penetraram, no entanto, na consciência coletiva nem nos grandes centros acadêmicos. 

Continua imperando o velho paradigma, surgido no século XVI com Newton, Francis Bacon e Kepler, atomístico, mecanicista e determinístico, como se não tivessem existido Einstein, Hubble, Planck, Swimme, Capra e outros que elaboraram a nova visão do universo e da Terra.

Para iniciar, cito as palavras do Prêmio Nobel de Biologia de 1974, Christian de Duve: 
“A evolução biológica marcha em ritmo acelerado para uma grave instabilidade. Nosso tempo lembra uma daquelas importantes rupturas na evolução, assinaladas por grandes extinções em massa”.

GEOCIDA – Desta vez ela não vem de algum meteoro rasante, mas do próprio ser humano, que pode ser não só suicida e homicida, mas também ecocida, biocida e, por fim, geocida. Ele pode pôr fim à vida em nosso planeta, deixando apenas os micro-organismos, que se contam em quatrilhões de quatrilhões de bactérias, fungos e vírus.

Em razão dessa ameaça da máquina de morte fabricada pela irracionalidade da modernidade, se introduziu a expressão “Antropoceno”, uma espécie de nova era geológica na qual a devastação deriva do próprio ser humano (antropos). Ele intervém de forma tão profunda nos ritmos da natureza e da Terra que está afetando as bases ecológicas que as sustenta. Segundo os biólogos Wilson e Ehrlich, desaparecem entre 70 mil e 100 mil espécies de seres vivos por ano devido à relação hostil que o ser humano mantém com a natureza. 
A consequência é clara: a Terra perdeu seu equilíbrio, e os eventos extremos o mostram irrefutavelmente. Só ignorantes como Trump negam as evidências empíricas.

ECOCENO – Em contrapartida, o cosmólogo Brian Swimme e uma dezena de cientistas que na Califórnia estudam a história do universo se esforçam para apresentar uma saída salvadora. Eles criaram a expressão “era Ecozoica” ou “Ecoceno”, uma quarta era Biológica, Sucedendo ao Paleozoico, ao Mesozoico e ao nosso Neozoico.

A era Ecozoica parte de uma visão do universo em cosmogênese. Sua característica é não a permanência, mas a evolução, a expansão e a autocriação de emergências cada vez mais complexas que permitem o surgimento de novas galáxias, estrelas e formas de vida na Terra. 
Essa era Ecozoica representa uma restauração do planeta mediante uma relação de cuidado, respeito e reverência. 
A economia é não a da acumulação, mas a do suficiente para todos, de modo que a Terra refaça seus nutrientes. O futuro da Terra não cairá do céu, mas das decisões que tomarmos.

BEM-ESTAR – Cito Swimme: “O futuro será determinado entre aqueles comprometidos com o Tecnozoico, um futuro de exploração crescente da Terra como recurso, tudo para o benefício dos humanos, e aqueles comprometidos com o Ecozoico, um novo modo de relação com a Terra; em que o bem-estar de toda a comunidade terrestre é o principal interesse”.

Se este não predominar, conheceremos possivelmente uma catástrofe, desta vez efetuada pela própria Terra, para se livrar de uma de suas criaturas, que ocupou todos os espaços de forma violenta e ameaçadora às demais espécies, que têm a mesma origem e o mesmo código genético e são seus irmãos e irmãs. 
Temos que merecer subsistir neste planeta. Mas isso depende de uma relação amigável com a natureza e a vida e uma profunda transformação nas formas de viver.

Esta é a encruzilhada de nosso tempo: ou mudar, ou desaparecer.


07 de janeiro de 2018
Leonardo Boff, O Tempo

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