A ministra Luislinda Valois não quer desgrudar da cadeira. Nesta quinta-feira, ela pediu sua desfiliação do PSDB. Foi uma manobra desesperada para se manter no cargo, apesar de o partido ter anunciado que está fora do governo.
Luislinda tentou ser deputada, mas recebeu apenas 9.557 votos. Em fevereiro, ela realizou o sonho do gabinete próprio e virou ministra dos Direitos Humanos. Foi indicada pelo senador Aécio Neves, que ainda não havia sido deletado do Instagram dos amigos famosos.
SUPERSALÁRIO – No mês passado, a imagem da ministra também foi pelos ares. O jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que ela reivindicou um supersalário de R$ 61,4 mil. Queria acumular os vencimentos e a aposentadoria de desembargadora, furando a regra do teto. No pedido, a tucana citou a Lei Áurea e alegou que sua situação “se assemelhava ao trabalho escravo”.
Luislinda já recebia R$ 33,7 mil brutos e tinha direito a carro com motorista, jatinho da FAB e gabinete refrigerado. O Planalto fez o possível para fritá-la, mas não conseguiu arrancar uma carta de demissão. Como o presidente não tem mais força nem para despedir o ascensorista do palácio, a tucana continuou onde estava.
SAÍDA HONROSA – O desembarque do PSDB ofereceu a Luislinda uma saída honrosa. Ela poderia alegar que precisava seguir a orientação do partido, embora estivesse fazendo um trabalho formidável. A opinião dos especialistas em direitos humanos é diferente, mas ninguém precisaria ficar sabendo.
Em vez de aproveitar a chance, a ministra rasgou a carteirinha tucana e passou cola na cadeira. Só faltou entoar a velha marchinha: “Daqui não saio / Daqui ninguém me tira…”
A manobra não chega a ser inédita. No fim do governo Dilma, o pastor George Hilton também tentou sobreviver ao desembarque do PRB, braço político da Igreja Universal. Ele deixou a sigla, mas foi varrido do Ministério do Esporte. “Nesse mundo ninguém / Perde por esperar…”, avisava a marchinha de Paquito e Romeu Gentil.
17 de dezembro de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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