"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

BATE-BOLA NO KREMLIN, UMA CENA QUE REALMENTE NOS FAZ REFLETIR

(FILES) This file photo taken on November 25, 2016 shows Russian President Vladimir Putin playing with an official match ball for the 2017 FIFA Confederations Cup, named "Krasava", after a meeting with FIFA president at the Kremlin in Moscow. Russia is gearing up to host the World Cup for the first time while facing the herculean task of eradicating racism and hooliganism and warding off the threat of a terror attack. / AFP PHOTO / SPUTNIK / Alexey DRUZHININ
Em pleno Kremlin, Putin se prepara para a Copa
Abri a Folha, vi a foto, passei adiante e logo voltei a ela, como se não tivesse acreditado no que vira. Numa sala do Kremlin, em Moscou, o presidente russo Vladimir Putin faz embaixada com uma bola, aos olhos de um segurança para quem aquilo parece natural. Observei a inclinação do pé direito de Putin esperando a bola cair, e concluí: ele é do ramo — talvez o segurança esteja habituado e Putin, entre uma conspiração e outra com o americano Donald Trump, passe o dia fazendo embaixada.
Mas era uma cena inusitada. Ninguém — nem mesmo Luís Carlos Prestes, João Amazonas e Carlos Marighella, comunas históricos— jamais imaginou Lênin, Trótski ou Stálin, habitués daquela mesma sala e daqueles mesmos tacos, às voltas com uma redonda. E não seria por causa da idade, porque Putin já está com 65 anos, enquanto Lênin e Trotski morreram com, respectivamente, 54 e 61, e Stálin parecia velhíssimo ao bater as botas, em 1953, mas tinha só 74, marca que Putin vencerá brincando.
PARECIAM VELHOS – Os antigos governantes, com seus bastos bigodes e barbaças e sempre envoltos em pesados sobretudos — talvez fizesse mais frio no passado —, pareciam muito mais velhos do que eram. Ivan, o Terrível, o primeiro czar de todas as Rússias (na verdade, foi ele quem as unificou), morreu com apenas 54 anos em 1584. E o aventureiro Rasputin, que dominou czares e czarinas com seu visual de um Cristo diabólico, tinha só 44 quando o liquidaram em 1916.
Com os americanos, é a mesma coisa. Trump já tem 71 anos, mas parece mais novo do que Abraham Lincoln (56 anos ao morrer, em 1865) e Franklin Roosevelt (63 em 1945) e tanto quanto John Kennedy (com incríveis 46 em 1963).
Pois é aí que está. Nenhum daqueles antigos se deu ao prazer de afastar os móveis e brincar com uma bola durante o expediente.

11 de dezembro de 2017
Ruy Castro
Folha

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