"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

CORREIO DA MANHÃ, UM CASO DE AMOR NA HISTÓRIA DO JORNALISMO BRASILEIRO

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Primeira página do Correio (31 de março de 1964)
Sábado, no Restaurante Brasil, realizou-se mais um almoço de reencontro com o passado e confraternização dos que tiveram a sorte, por destino, de terem trabalhado no antigo Correio da Manhã, que desapareceu na névoa do tempo e deixou sua marca e sua emoção nos corações e mentes de gerações de jornalistas. Eu comentei numa roda em que estavam Ruy Castro, Heloisa Seixas, Carlos Newton, Jussara Martins, Fuad Atala e Nilo Dante que a viagem ao passado, no caso do Correio da Manhã, é a única que reúne repórteres e editores da imprensa do Rio de Janeiro. O que a torna absolutamente singular. Muitos jornais desapareceram na estrada do tempo.
Não tenho notícia de que os jornalistas que trabalharam no Jornal do Brasil, Diário de Notícias, O Jornal, Diário Carioca, Ultima Hora ou Tribuna da Imprensa, promovam encontros iguais.
EXEMPLO ÚNICO – O Correio da Manhã, assim, é um exemplo único em matéria de memória, para citar o título de Carlos Heitor Cony que também fez parte da equipe.
O Correio da Manhã, cumpre destacar, reuniu em seu time, por exemplo, três dos cinco maiores editorialistas da história. Destaco Otto Maria Carpeaux, Franklin de Oliveira, Alvaro Lins, chefe da Casa Civil de Juscelino Kubitschek. Para mim, os outros dois foram José Eduardo Macedo Soares, Diário Carioca, e o embaixador João Neves da Fontoura, O Globo.
Nilo Dante, em cuja trajetória dirigiu as redações do Jornal do Brasil, Diário de Notícias e da Última Hora, concordou com essa seleção. As reportagens de hoje podem ser classificadas como melhores que as de ontem. É possível. Mas os editorialistas que citei são imortais, no estilo e na atitude. O editorialista é um espadachim. Ele está na arena para, do alto do florete, confrontar o poder. Não deseja aderir a ele.
FORAM 73 ANOS – O Correio da Manhã nasceu em 1901 e morreu, nas minhas mãos em 1974. De suas páginas decolaram brilhantemente Ruy Castro e Carlos Heitor Cony. Em suas páginas também escreveram Carlos Drummond de Andrade e Antonio Houaiss.
Bertoldo de Castro, no almoço, entregou a todos o xerox de uma carta de Drummond de Andrade ao secretário da redação, Aloísio Branco, agradecendo o que Branco escreveu quando se despediu da crônica que assinava no edifício da Gomes Freire.
Jovens repórteres de ontem, carregando cabelos brancos hoje participaram do almoço. Entre eles o companheiro Luis Carlos de Souza, que organiza o reencontro com o passado duas vezes por ano.
LUTA POLÍTICA – O Correio da Manhã começou a desabar em 1962 quando seus proprietários demitiram Luis Alberto Bahia do cargo de redator chefe. Bahia havia entusiasmado a redação quando alinhou o bravo jornal na luta pela posse de João Goulart em 1961. Falei no Bahia e quase esqueço de relacionar na história do jornal o grande Antonio Callado, a quem Bahia sucedeu e cumpriu a tradição de absoluta ética e independência, uma das razões de viver de Callado. Anunciei no almoço que escreveria hoje neste site dirigido por Carlos Newton uma matéria sobre o encontro. Aqui está ela.
Mas não seria completa se não dissesse que a queda do Correio da Manhã e sua morte em 74 foi um processo detonado e acelerado por alguns que dirigiram o jornal a partir de 62. Para mim os desastres Jânio de Freitas, Reinaldo Jardim e Marcello Alencar foram os mais intensos para a explosão e sepultamento das cinzas históricas. O jornal, com eles desencontrou-se de si mesmo.
Passaram-se os anos mas o amor permanece, sem dúvida alimentando um tom de saudade. Sobre o Correio da Manhã, para encerrar, repito o título do filme imortal: E o Vento Levou…

11 de dezembro de 2017
Pedro do Coutto

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