Há quem diga que, na vida, tudo é uma questão de oportunidade. Nem sempre, é claro. Mas no caso do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se tornara presidente da Câmara e se projetava como o mais influente parlamentar do país, realmente foi uma questão de oportunidade. Ele bobeou, o doleiro Lúcio Funaro saiu na frente, fechou uma das últimas delações premiadas da Lava Jato e não vai demorar a ser beneficiado com prisão domiciliar, enquanto Cunha perdeu a chance e fatalmente vai ser condenado a uma longa pena de prisão.
Na verdade, Cunha e Funaro eram como irmãos siameses, armavam as jogadas sempre em conjunto. O então deputado do PMDB fechava os acordos de corrupção, mas dependia diretamente da atuação de Funaro para operar o recebimento das propinas do PMDB e distribuí-las aqui no país e no exterior.
Quando a situação se complicou e a Lava Jato começou a cercar Cunha, por causa das contas na Suíça, ele teve a ilusão de que poderia escapar ileso se pressionasse e chantageasse o quadrilhão do PMDB, que envolvia os principais senadores e deputados do partido, além de políticos já aposentados, como o ex-presidente José Sarney e o ex-senador Sérgio Machado.
DOSSIÊ AMEAÇADOR – Cunha convocou Lúcio Funaro, que é muito organizado e guardava anotações, registros e recibos das falcatruas, e os dois passaram a se reunir todos os dias na residência oficial do presidente da Câmara, para montar um dossiê que pudesse lhes garantir a impunidade.
Na teoria, o plano funcionava perfeitamente, os dois estavam tranquilos, mas na prática foi um desastre. Cunha logo foi preso, perdeu o cargo e o mandato numa velocidade espantosa, e Funaro também não demorou a ser recolhido.
Os dois então ameaçaram divulgar o dossiê, o presidente Temer, o núcleo duro do Planalto e a cúpula do PMDB entraram em pânico e conseguiram uma maneira de evitar que eles fizessem delação. A essa altura, a fonte das empreiteiras já havia secado, mas restara a JBS, que o PT transformara na maior máquina de corrupção do país.
TUDO POR DINHEIRO – O empresário Joesley Batista foi procurado e aceitou socorrer Cunha e Funaro, com uma mesada de R$ 500 mil para cada um, até perfazer R$ 100 milhões por cabeça. Foi por isso que Temer disse a Joesley, no subsolo do Palácio Jaburu, a frase que ficaria famosa: “Mantenha isso”.
Mas sempre havia o risco da delação, porque aos poucos foi se desfazendo o sonho de Cunha e Funaro serem libertados por recursos aos tribunais. O Planalto tentava acalmá-los e mandou a Curitiba um advogado que é sócio do assessor Gustavo do Vale Rocha, subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
Ao mesmo tempo, o então ministro Geddel Vieira Lima assediava a mulher de Lucio Funaro, para impedir que ele fizesse delação, conforme consta no processo a que responde por obstrução da justiça.
DEU TUDO ERRADO – Com apoio do Planalto, os advogados de Cunha e Funaro apresentaram insistentes recursos ao TRF-4, ao STJ e ao STF. Mas deu tudo errado, Funaro e Cunha então passaram a tentar a delação premiada, separadamente.
Como tinha guardado o dossiê que começara a organizar em Brasília, o doleiro Funaro montou um projeto que entusiasmou a Procuradoria, enquanto Cunha fazia exatamente o contrário e tentava fechar a delação passando um mínimo de informações, como geralmente todos os delatores fazem.
O resultado foi desastroso. Cunha foi um dos personagens principais da delação de Funaro, sua situação se complicou muito, perdeu todas as condições de fechar delação premiada, não adianta mais entregar tudo o que sabe sobre Temer, os procuradores e a Polícia Federal estão carregados de denúncias contra Temer, é um nunca acabar nas curvas da estrada do Porto de Santos.
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P. S. – Era uma questão de oportunidade. Funaro aproveitou a chance que Cunha deixou escapar. Em breve, Funaro ganhará direito à prisão domiciliar, enquanto Cunha vai cumprir uma longa temporada na cadeia. Como dizia Geraldo Vandré, quem sabe faz a hora, não espera acontecer. (C.N.)
P. S. – Era uma questão de oportunidade. Funaro aproveitou a chance que Cunha deixou escapar. Em breve, Funaro ganhará direito à prisão domiciliar, enquanto Cunha vai cumprir uma longa temporada na cadeia. Como dizia Geraldo Vandré, quem sabe faz a hora, não espera acontecer. (C.N.)
14 de setembro de 2017
Carlos Newton
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