"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

FANATISMO E INTERESSE

O fanático não tem parentes ou amigos. Suas relações se forjam em torno da causa que abraça. Ele não enxerga virtudes individuais em ninguém. Mudou de posição, os laços imediatamente se rompem. E não titubeia em largar para trás a família.

É uma pessoa que odeia o mundo em que vive, onde não encontra sentido para a vida. Apega-se à causa de um grupo, cria uma realidade paralela e ignora tudo o que não estiver de acordo com a verdade em que acredita.

Por isso, o fanático é inconfiável. É uma pessoa que pode, de uma hora para outra, deixar o suposto amigo morrer à míngua ou criar situações para que terceiros massacrem aquela pessoa porque deixou de comungar de seus pensamentos delirantes.

O fanatismo separa as pessoas entre as boas – as que defendem a mesma causa – e as más – as que se posicionam contra ou de forma independente. As demais pessoas são vistas como massa manipulável pelo discurso.

Mesmo que o sujeito seja assaltante, estuprador, estelionatário e psicopata, é considerado do bem se estiver com a causa do fanático. “Mexeu com ele, mexeu comigo!”, adverte.

Quando alguém pondera sobre a conduta de algum grupo ligado à causa, o fanático já aponta para outro lado e desfia as misérias do mundo, dizendo que tudo são detalhes e o mais importante é a construção de um outro mundo.

Não importa os meios – assassinatos em massa, corrupção, destruição das famílias, o fim da liberdades, a mentira e a força bruta -, os fins justificam tudo.

O fanático não tem amigos, apenas interesses.



26 de julho de 2017
Miguel Lucena é delegado de Polícia Civil do DF e jornalista

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