"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

AFINAL, POR QUE O BNDES FINANCIOU OBRAS EM PAÍSES MAIS CORRUPTOS QUE O BRASIL?

Perdão da Dívida de Países Africanos
(Fotomontagem do site Política Brasileira)
Entre 1998 e 2016, do total de 91 obras financiadas pelo BNDES para serem construídas no exterior, maioria (59=65%) ultrapassou o valor de US$ 100 milhões (R$ 325 milhões, na média). Os dados estão sendo coletados desde 2015 e foram obtidos por meio: a) da Planilha “Contratações referentes a desembolsos no apoio à exportação pelo BNDES Pós Embarque (Contratações entre 1998 e 2014)”; b) do Relatório de Auditoria do TCU, realizada no BNDES e apresentado em 2016 (Doc. AC-1413-19/16-P, contratações entre 2005 e 2014); c) do Relatório do IPEA publicado em 2017 (Financiamento do BNDES para Obras e Serviços de Empresas, período de 2002 a 2016); d) Ministério Público Federal; e) Estadão, Globo, Folha, Valor Econômico, Época, Congresso em Foco; f) Site Sputniks.
A partir desses empreendimentos, buscamos saber quais empresas receberam recursos, os países beneficiados, qual a posição desses países no ranking global de corrupção, qual o valor total das obras e qual o valor total estimado em propinas, adotando três cenários: o Otimista, usando 1% de propina sobre o valor do contrato (assumindo que apenas o PT tenha praticado o ato); o Realista, com 5% (PT+PMDB+outros); e o Pessimista, com 10%, assumindo que agentes corruptos dos países que sediaram as obras também subtraíram recursos.
US$ 19 BILHÕES – Os valores foram fixados a partir dos relatos de delatores da Lava a Jato, especialmente os executivos da Andrade Gutierrez (AG), Odebrecht (Od) e JBS. Ao todo, cerca de US$ 19 bilhões foram destinados para 59 obras sob responsabilidade de apenas cinco empreiteiras:
1º) Odebrecht, líder do cartel, ficou com maioria (61%) das Obras, 36 empreendimentos que representam um total de financiamento na ordem de US$ 14,46 bilhões; 2º) Andrade Gutierrez ficou com cinco obras (8,5%) que totalizam US$ 2,26 bilhões; 3º) Queiroz Galvão, com cinco obras (8,5%), no total de US$ 1.1 bilhão; 4º) OAS com três obras (5%), que totalizam perto de US$ 745 milhões; e 5º) Camargo Correa, com duas obras (3,4%) que somam US$ 487 milhões.
RANKING DA CORRUPÇÃO – Em relação aos países, identificamos não somente o destino dos recursos como também a classificação deles no ranking global de corrupção, com base no Índice de Percepção da Corrupção (IPC, 2016) da ONG International Transparency.
Quanto mais alto no ranking, maior é a percepção da população sobre a corrupção naquela localidade. Apenas para efeito comparativo, em 2016, o Brasil ficou na posição número 79 dentre 176 países analisados. E ao todo, 15 países foram os destinos desses financiamentos, sendo que na maioria deles (12 países=80%) sua população tem percepção da corrupção bem pior do que a do Brasil. Seriam ainda mais corruptos do que nós.
Bem, aplicando os cenários sugeridos, há a possibilidade de ter sido desviado em valores totais dessas 59 obras, para pagamento de propinas: no CenárioOtimista = R$ 619 milhões; no Cenário Realista = desvio de R$ 3,1 bilhões; e no Cenário Pessimista = propinas de R$ 6.2 bilhões.
CONCLUSÃO – Finalmente, convido o(a) nobre leitor(a) a também checar os números e a questionar o PT, o PMDB, o ex-ministro Guido Mantega e o ex-presidente do BNDES, economista Luciano Coutinho: a) a sigilosidade desses contratos; b) o favorecimento de empreiteiras que subtraíram a Petrobras; c) e os motivos pelos quais priorizaram países com alto nível de corrupção.

26 de julho de 2017
Jonas Gomes da Silva
Estadão

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