Nos últimos dias, aliados de Michel Temer repetiam que só um fato novo, intransponível, seria capaz de ameaçar a sobrevivência do presidente. O fato novo acordou cedo e entrou em campo às seis da manhã deste sábado. Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala, foi preso pela Polícia Federal. O ex-assessor presidencial já era visto como o homem-bomba do governo. Agora seu pavio está aceso, e uma delação tende a explodir o que ainda resiste de pé no Planalto.
O advogado de Loures diz que ele ficará em silêncio, mas pouca gente acredita nisso em Brasília. Esse discurso foi usado por Marcelo Odebrecht, João Santana, Antonio Palocci e outros réus ilustres da Lava Jato. Depois de algum tempo de cadeia, todos escolheram delatar.
SOB PRESSÃO – Com a mulher grávida, o deputado da mala já vinha sendo pressionado a falar. Ele fez o primeiro aceno ao devolver os R$ 500 mil que recebeu de um lobista da JBS. Para os investigadores, foi um recado de que a propina tinha outro destinatário.
No famoso encontro do Jaburu, Temer orientou Joesley Batista a procurar Loures. Disse que o assessor era de sua “mais estrita confiança”. Dias depois da conversa, a polícia filmou a entrega do dinheiro.
TRAPALHADA – A prisão do deputado da mala é resultado de uma trapalhada do governo na tentativa de salvar o presidente. Há uma semana, Temer demitiu o ministro da Justiça na esperança de controlar a PF. Faltou combinar com o aliado Osmar Serraglio, que se recusou a assumir outra pasta e voltou para a Câmara. Com isso, o suplente Loures perdeu o foro privilegiado e foi recolhido ao xadrez.
Antes da barbeiragem, Temer tentava acalmar o aliado para evitar uma delação. “É um homem de boa índole”, disse à Folha, quando todo o país já havia assistido à cena da mala. “É uma pessoa decente”, repetiu à revista “Istoé”. “Eu duvido que ele vá me denunciar”, acrescentou. Agora a última frase parece tão sincera quanto as duas primeiras.
05 de junho de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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