Em palestra na semana passada na Escola de Administração de Harvard, cidade de Boston, a ex-presidente Dilma Rousseff – reportagem de Isabel Fleck e Marcos Augusto Gonçalves, Folha de São Paulo de domingo, dirigiu ataque à Operação Lava-Jato que, a seu ver constitui peça de uso político.
No mesmo dia, o juiz Sérgio Moro realizou sua palestra duas horas depois, mas não se encontraram. Sergio Moro condenou o uso do caixa 2 para campanhas políticas.
A ex-presidente da República não se referiu à existência de uma corrupção que se generalizou e que deu origem à Operação Lava-Jato. Pode-se mesmo dizer que a insatisfação das ruas contra seu governo foi uma decorrência de uma revolta popular causada pela corrupção que envolveu empresas, políticos e executivos de seu governo.
A corrupção assim, numa visão realista, foi consequência e não causa da crise que teve uma de suas etapas na saída de Dilma Rousseff do Planalto.
GENERALIZADA – A corrupção, vê-se hoje claramente, generalizou-se, estendendo-se a vários estados da Federação e contribuindo para o desequilíbrio das contas públicas. Como seria de supor, já que corruptos e corruptores se uniram numa tarefa, que, no fundo, não só atingiu valores morais da sociedade brasileira como também fomentou uma espécie de anarquia, tudo isso levou a uma situação de descontrole.
Nada mais negativo a qualquer política de distribuição de renda. Pelo contrário, a corrupção torna-se um processo profundamente ilegal de concentração dessa renda. Administrações públicas foram desacreditadas e a consequência, está evidente, foi um descontrole acentuado nas faixas governamentais. Além da Petrobrás podemos incluir na anarquia o governo do estado do Rio de Janeiro.
IMPEACHMENT – A queda de Dilma Rousseff foi uma das consequências das ações que falsos amigos desenvolveram ao seu redor. Ela, assim, deve culpá-los e não à Operação Lava-Jato. Porque, no fundo da questão, a Operação Lava-Jato, na realidade, iluminou e puniu vários protagonistas dos atos ilegais. Não os construiu. Não adianta negar sua existência, sobretudo porque encontram-se aí expostos aos olhos e à consciência coletiva.
O trabalho agora é o de reconstruir panoramas devastados pela vontade de enriquecer sem limites.
Essa reconstrução, claro, vai demorar, sobretudo porque é muito mais fácil destruir do que construir.
A divisão do tempo político brasileiro pode ser medida em duas etapas: antes e depois da Operação Lava-Jato.
A prova mais concreta do que aconteceu no país encontra-se registrada na esfera da Odebrecht e nas contas bloqueadas por iniciativa do Ministério Público da Suiça.
10 de abril de 2017
Pedro do Coutto
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