O presidente Michel Temer caiu na própria armadilha que preparou. Fez uma releitura equivocada de Nicolau Maquiavel e resolveu adotar uma estratégia verdadeiramente suicida. Em sua obra mais conhecida, “O Príncipe”, o genial historiador, poeta, diplomata e músico florentino recomendou que o governante fizesse o mal de uma vez só, mas bem, aos pouquinhos. Mas de 500 anos depois, Temer resolveu fazer exatamente o contrário. Anunciou a reforma da Previdência como um imutável saco de maldades, a ser concretizado aos poucos. É claro que não poderia dar certo.
Às vésperas da derrota, até os garçons da Câmara sabem que a reforma não passará, Temer entra em desespero e resolve assumir pessoalmente as negociações diretas com os deputados, mais um erro absurdo que o Príncipe jamais cometeria, porque vulgaria a indispensável majestade do cargo.
REUNIÃO IMPROFÍCUA – Segundo a mais recente pesquisa do Estadão, o placar está em 272 contrários (mais do que maioria absoluta) e apenas 99 favoráveis, entre os quais praticamente não há que aceite a proposta original do governo, que já está sendo mitigada.
No afã de reverter a tendência da votação, Temer convocou uma reunião nesta terça-feira (dia 11), com os deputados tidos como governistas e que integram a Comissão Especial que discute o tema, na esperança de convencê-los a apoiar a reforma.
O mais curioso é que Planalto adota essas estratégias equivocadas e se encarrega de vazá-las em off à imprensa. A própria Assessoria de Imprensa espalhou informações de que os principais pedidos dos aliados já foram atendidos e, a partir de agora, críticas à reforma da Previdência serão vistas como gestos de oposição ao governo.
OUTRA MANCADA – Em tradução simultânea, Temer está ameaçando os parlamentares, o que significa entrar novamente em rota de colisão com as teorias de Maquiavel, porque esse tipo de “negociação” não pode ser divulgado.
Os deputados precisam de votos. Sabem que apoiar maldades contra o trabalhador pode lhes ser fatal. Já aprovaram equivocadamente a terceirização irrestrita e estão arrependidos, porque vai reduzir salários e afetar ainda mais a receita do INSS.
Perguntar não ofende, diria Agildo Ribeiro. O ministro Celso de Mello, do Supremo, deu prazo de dez dias para a Câmara e o Governo exibirem os cálculos atuariais que justificariam a reforma. Já se passaram 40 dias e não saiu nada na imprensa. Será que apresentaram os dados na encolha, como se dizia antigamente? A verdade é que esses dados não existem, o governo quer aprovar a reforma no peito, com um mínimo de debate, e o ministro Celso de Mello exigiu, mas não cobrou, e vai deixar passar em brancas nuvens. (C.N.)
os ministros que têm influência política. O objetivo é identificar os nomes da base aliada que resistem à proposta.
apenas Ele marcou reunião nesta terça (11), no Planalto, Vai que dá Num último aceno, aliados do presidente avaliam que seria possível fazer uma redução ainda maior na idade mínima para a aposentadoria das mulheres. A previsão é de que o texto final fixe o piso em 65 anos para eles e 60 para elas.
Vai ter volta O Instituto Lula diz que vai à Justiça se o governo Temer usar, na internet, vídeos do petista defendendo uma reforma da Previdência. Auxiliares reafirmam que o ex-presidente não endossa a proposta que o Planalto enviou ao Congresso.
Cordão sanitário Depois da prisão de cinco conselheiros do TCE do Rio, cresceu a pressão para que o Congresso aprove uma espécie de quarentena para detentores de cargos eletivos ou no Executivo poderem ser indicados a tribunais de contas.BRASÍLIA – O presidente Michel Temer nega recuo ao aceitar mudanças na reforma da Previdência e minimiza a discussão sobre a fragilidade de sua base de apoio, aparentemente não tão sólida como na aprovação da PEC do teto de gastos.
Não há outro discurso para Temer após a principal reforma de seu governo entrar na reta final na Câmara. Mas não há também como esconder os sinais de turbulência na articulação política do Planalto.
Nas palavras de um assessor próximo do presidente, o “articulador hoje do governo se chama Michel Temer”. Não à toa ele tomou a rédea na semana passada na reunião com o relator do texto da proposta, o deputado Arthur Oliveira Maia.
Os dois principais negociadores do Planalto com o Congresso estavam à mesa: os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo).
Padilha, além dos problemas de saúde que o abalaram, é um ferido de guerra pelos torpedos que já levou da Lava Jato. O tucano Imbassahy dialoga com o alto clero, sobretudo dentro do PSDB, mas tem pouca interlocução entre os demais partidos de sustentação do governo.
É nítida a falta que Temer sente de Geddel Vieira Lima, hábil negociador e contador de votos no Congresso —a queda dele do ministério, após o escândalo do prédio de Salvador, se reflete agora em uma negociação política fundamental.
Na entrevista dada à Folha na sexta (7), Temer disse que sua atuação corpo a corpo “não significa enfraquecimento” da articulação.
Em uma declaração polêmica e facilmente contestável, ele disse que não cometeu erros em 11 meses de governo. “Eu cometi acertos.”
Temer tem razão quando diz ser precipitada a projeção de placar, afinal o jogo começa para valer após a votação na comissão. Ele, porém, sabe que a falta de diálogo pode comprometer a reforma e o sucesso de sua gestão. Será um erro inquestionável e tardio para ser corrigido.
11 de abril de 2017
Carlos Newton
Às vésperas da derrota, até os garçons da Câmara sabem que a reforma não passará, Temer entra em desespero e resolve assumir pessoalmente as negociações diretas com os deputados, mais um erro absurdo que o Príncipe jamais cometeria, porque vulgaria a indispensável majestade do cargo.
REUNIÃO IMPROFÍCUA – Segundo a mais recente pesquisa do Estadão, o placar está em 272 contrários (mais do que maioria absoluta) e apenas 99 favoráveis, entre os quais praticamente não há que aceite a proposta original do governo, que já está sendo mitigada.
No afã de reverter a tendência da votação, Temer convocou uma reunião nesta terça-feira (dia 11), com os deputados tidos como governistas e que integram a Comissão Especial que discute o tema, na esperança de convencê-los a apoiar a reforma.
O mais curioso é que Planalto adota essas estratégias equivocadas e se encarrega de vazá-las em off à imprensa. A própria Assessoria de Imprensa espalhou informações de que os principais pedidos dos aliados já foram atendidos e, a partir de agora, críticas à reforma da Previdência serão vistas como gestos de oposição ao governo.
OUTRA MANCADA – Em tradução simultânea, Temer está ameaçando os parlamentares, o que significa entrar novamente em rota de colisão com as teorias de Maquiavel, porque esse tipo de “negociação” não pode ser divulgado.
Os deputados precisam de votos. Sabem que apoiar maldades contra o trabalhador pode lhes ser fatal. Já aprovaram equivocadamente a terceirização irrestrita e estão arrependidos, porque vai reduzir salários e afetar ainda mais a receita do INSS.
Perguntar não ofende, diria Agildo Ribeiro. O ministro Celso de Mello, do Supremo, deu prazo de dez dias para a Câmara e o Governo exibirem os cálculos atuariais que justificariam a reforma. Já se passaram 40 dias e não saiu nada na imprensa. Será que apresentaram os dados na encolha, como se dizia antigamente? A verdade é que esses dados não existem, o governo quer aprovar a reforma no peito, com um mínimo de debate, e o ministro Celso de Mello exigiu, mas não cobrou, e vai deixar passar em brancas nuvens. (C.N.)
os ministros que têm influência política. O objetivo é identificar os nomes da base aliada que resistem à proposta.
apenas Ele marcou reunião nesta terça (11), no Planalto, Vai que dá Num último aceno, aliados do presidente avaliam que seria possível fazer uma redução ainda maior na idade mínima para a aposentadoria das mulheres. A previsão é de que o texto final fixe o piso em 65 anos para eles e 60 para elas.
Vai ter volta O Instituto Lula diz que vai à Justiça se o governo Temer usar, na internet, vídeos do petista defendendo uma reforma da Previdência. Auxiliares reafirmam que o ex-presidente não endossa a proposta que o Planalto enviou ao Congresso.
Cordão sanitário Depois da prisão de cinco conselheiros do TCE do Rio, cresceu a pressão para que o Congresso aprove uma espécie de quarentena para detentores de cargos eletivos ou no Executivo poderem ser indicados a tribunais de contas.BRASÍLIA – O presidente Michel Temer nega recuo ao aceitar mudanças na reforma da Previdência e minimiza a discussão sobre a fragilidade de sua base de apoio, aparentemente não tão sólida como na aprovação da PEC do teto de gastos.
Não há outro discurso para Temer após a principal reforma de seu governo entrar na reta final na Câmara. Mas não há também como esconder os sinais de turbulência na articulação política do Planalto.
Nas palavras de um assessor próximo do presidente, o “articulador hoje do governo se chama Michel Temer”. Não à toa ele tomou a rédea na semana passada na reunião com o relator do texto da proposta, o deputado Arthur Oliveira Maia.
Os dois principais negociadores do Planalto com o Congresso estavam à mesa: os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo).
Padilha, além dos problemas de saúde que o abalaram, é um ferido de guerra pelos torpedos que já levou da Lava Jato. O tucano Imbassahy dialoga com o alto clero, sobretudo dentro do PSDB, mas tem pouca interlocução entre os demais partidos de sustentação do governo.
É nítida a falta que Temer sente de Geddel Vieira Lima, hábil negociador e contador de votos no Congresso —a queda dele do ministério, após o escândalo do prédio de Salvador, se reflete agora em uma negociação política fundamental.
Na entrevista dada à Folha na sexta (7), Temer disse que sua atuação corpo a corpo “não significa enfraquecimento” da articulação.
Em uma declaração polêmica e facilmente contestável, ele disse que não cometeu erros em 11 meses de governo. “Eu cometi acertos.”
Temer tem razão quando diz ser precipitada a projeção de placar, afinal o jogo começa para valer após a votação na comissão. Ele, porém, sabe que a falta de diálogo pode comprometer a reforma e o sucesso de sua gestão. Será um erro inquestionável e tardio para ser corrigido.
11 de abril de 2017
Carlos Newton
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