João Doria bem que podia ter se valido dos versos de “Aluga-se”, do roqueiro, para embalar o vídeo que encomendou para ser exibido nos Emirados Árabes, a fim de atrair investidores interessados nas privatizações que ocorrerão, numa escala nunca antes vista, no largest financial center in the Southern Hemisphere. Interlagos, Pacaembu, Anhembi, Ibirapuera, o Mercado Central, a malha de transporte e até os cemitérios estão lá, for sale. Um mar de oportunidades na cidade que acolhe 50% dos billionaires do país, diz o anúncio. Deu até inveja de o Doria ter o que vender.
O Rio de Janeiro não pode ser dar a esse luxo. O rombo de mais de R$ 100 bilhões não permite. Ao governo acéfalo de Pezão e companhia, resta apenas o refrão: “Nós não vamos pagar nada…”.
EXÍLIO EM LISBOA – Portugal me acolheu na Era Collor, durante o confisco de Zélia e o enterro da Embrafilme. Fiz três filmes na terrinha e uma penca de turnês de teatro para resistir ao longo inverno.
Lisboa está em plena revitalização, com um mercado imobiliário aquecido pela elite angolana, por chineses endinheirados e brasileiros em fuga. Passei duas semanas de janeiro por lá, pensando se um exílio ainda mais drástico me aguarda no futuro.
Voltei com medo de pisar em solo pátrio, aterrorizada com as imagens do deus nos acuda da greve de policiais do Espírito Santo e do levante dos servidores diante da Alerj, que transformou a Primeiro de Março numa praça de guerra.
O cinturão de miséria que separa o aeroporto do Galeão da zona sul choca os que chegam. O barril de pólvora, alimentando a desigualdade social, está sempre pronto a explodir, numa cidade falida pelo seu desgoverno.
LEGADO OLÍMPICO – Mas a bancarrota atual também se faz notar nas áreas mais abastadas. O asfalto das reformas olímpicas ainda não derreteu, mas as placas de VENDO se multiplicam nas janelas dos prédios, inúmeras lojas fecharam as portas, tropas do Exército ocupam as ruas e os tiroteios voltaram à ordem do dia.
Sete anos atrás, o metro quadrado na Vieira Souto ultrapassava em valor o da avenue Foch, em Paris, e Eike Batista arrotava progresso no talk show de Charlie Rose, durante a crise americana pós-2008. Vale a pena ver de novo. Abri a porta de casa com a mesma sensação de normalidade do suicida do Millôr, aquele, que durante a queda, entre o abismo e o chão, pensa: “Até aqui, tudo bem”.
Marcelo Freixo acaba de entregar uma proposta de impeachment para a chapa Pezão/Dornelles. Assino embaixo. Mas vou além.
VAMOS VENDER O RIO – Enquanto Doria negocia São Paulo nas arábias, proponho liquidar o Rio por aqui mesmo. Os paulistas arrematariam o sul do Estado e a capital, numa transação que incluiria a deslumbrante baía de Angra e Paraty, a usina nuclear, além dos cartões-postais da Cidade Maravilhosa.
A região serrana caberia aos mineiros, que ainda conquistariam um acesso ao mar, caso a crise recente afaste o interesse do Espírito Santo na região norte. O agraciado açambarcaria o polo petrolífero de Campos, ciente de que levaria Garotinho no pacote.
A derrocada que começou com a transferência da capital para Brasília terminaria num leilão sumário, e o Rio de Janeiro se tornaria um nome afetivo, tão saudoso quanto o da antiga Guanabara. Seria esse o plano de Jusceli (Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)
12 de março de 2017
Fernanda Torres
Folha
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