"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 21 de junho de 2016

BREXIT É APENAS SINTOMA

Lisboa - Portugal será uma das economias mais afetadas da União Européia caso o referendo desta quinta feira, dia 23, aprove o desligamento da Grã Bretanha deste bloco composto por 28 países. 
Estudo do FMI indica que todos sofrerão com a retirada do Reino Unido,quinta economia do mundo, quando o PIB português poderá retrair-se, no curto prazo , entre 0,2% e 0,5%. 
A economia irlandesa enfrentaria retração de 2% do seu PIB na zona do euro, enquanto a Áustria talvez sentisse menos impacto. Mas todos os Estados que integram a UE, ainda segundo o mesmo relatório do FMI , acumularão perdas significativas, cada qual à sua maneira.Em comum, a qualidade do estilo de vida conquistado nas últimas décadas.

A Europa está inquieta diante das incertezas sobre o resultado do brexit e suas consequências, sobretudo os parentes mais pobres que integram a União Européia . 
Terça feira passada, quando recebeu jornalistas estrangeiros para um jantar , quebrando jejum de mais de uma década sem diálogo entre a Presidência da República de Portugal e a mídia de outros países, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que a vitória do Brexit será um “tsunami”. 
 Mas não são apenas as questões econômicas que afligem dirigentes europeus. Por trás dos argumentos e contra-argumentos dos partidários do Brexit e seus oponentes, esconde-se o temor maior que é o da desagregação da União Européia.

Discutem-se sondagens indicando empate entre os favoráveis ao desligamento e seus oponentes, ao lado de 17% de indecisos, predominantemente mais jovem. 
Cerca de 12% do eleitorado estão na faixa entre 18 e 24 anos de idade, britânicos com tendência a se sentirem mais europeus por oposição a setores conservadores. 
 E não será a primeira vez que o Reino Unido consulta sua população sobre o tema. 
Em 1975, dois anos depois de aderir à então chamada Comissão Econômica Européia, o Reino Unido realizou referendo e o eleitorado escolheu permanecer no bloco. É possivel que o resultado se repita.

Sobram argumentos de um lado e do outro, meras teorias econômicas sem comprovação enquanto a medida, saída ou permanência, não for efetivada. Para os partidários da permanência, o desligamento da UE somente prejuízos traria, enquantos seus adversários apontam vantagens na deserção. 

Há, contudo, uma contradição entre querer sair e continuar beneficiário de instrumentos criados para proteção recíproca dos países da UE. Não passa de uma ilusão acreditar ser possível sair do clube e continuar desfrutando do livre comércio do bloco e de outos benefícios sem se submeter à burocracia de Bruxelas . 
Para isso, defendem acordo que garanta o acesso do Reino Unido ao mercado único europeu. Acreditam que essa facildade lhes será concedida sem pagamento. Mas,como está provado,sobretudo no Brasil, não há almoço grátis.

Para os favoráveis ao Brexit, o Reino Unido recuperaria a soberania perdida para a burocracia de Bruxelas e restauraria a democracia. Seria uma espécie de ato de resistência às políticas impositivas da União Européia. 
Não se pode esquecer, contudo, que o mercado único só se materializou quando os países que aderiram à União Européia concordaram em acatar regras comuns que normatizam o setor. 
A saída e o mercado único são dois lados da mesma moeda. Não se pode estar nele e não ser regulado por Bruxelas. Em resposta, argumentam que embora não integrem a UE, a Noruega e a Suíça participam do seu mercado único. 
Faltou acrescentar que apesar de não participarem das decisões da União Européia, os dois países submetem-se às regras de Bruxelas.

Mas esse é apenas um dos aspectos da questão, que é a inexorabilidade da falência das instituições européias tal como estão constituidas, incapazes que foram de impedir seu controle pelos Estados mais fortes. 
Os objetivos da União Européia, concebida para garantir a paz na Europa e conter a Alemanha , perderam-se pelo caminho.
Embora tenham sido inúmeros os benefícios sociais conquistados pelos países do bloco, seus instrumentos de integração européia, de unificação de suas políticas e de ampliação de seu espaço geográfico foram substituindo os objetivos originais.

Durante a trajetória, erros foram cometidos, como a tentativa de uma uniformização imposta aos sócios do bloco, a criação de uma burocracia centralizadora e a discutível criação do euro. 
Na realidade, o referendo do dia 23 é apenas um dos sintomas dos males que atualmente afligem a a Europa e que não serão equacionados sem uma revisão completa dos seus tratados e instituições. 
Fora disso, não há salvação para a Europa,cuja desagregacão comprometerá,sem dúvida,o bom estilo de vida que se desfruta nesse espaço.Para se ter uma idéia do que está em risco, basta dizer que o Brasil precisará de,no mínimo,cerca de 50 anos para obter algo semelhante.


21 de junho de 2016
Silvia Caetano

Nenhum comentário:

Postar um comentário