"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

MEIRELLES VAI COMANDAR A ECONOMIA SONHANDO COM O PLANALTO


Nunca houve um ministro com tantos poderes como Meirelles
A política é mesmo uma atividade surpreendente. Em 2014, o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC, estava pronto para assumir a chefia da equipe econômica, empenhou-se em estudar a crise, preparou as medidas necessárias ao ajuste fiscal, mas tudo em vão, porque Aécio Neves perdeu a eleição para Dilma Rousseff.  Um ano e quatro meses depois, uma nova oportunidade agora surgiu, mas Fraga teve de abrir mão, porque o partido a que está ligado não quer participar do governo Temer e está mais interessado em vencer em 2018, quando a crise econômica já tiver amainado, espera-se.
O BONDE DA HISTÓRIA
Fraga deixou passar o bonde da História, mas Henrique Meirelles, seu sucessor na presidência do Banco Central, pegou a carona, não pretende desperdiçar a oportunidade e vai se transformar no novo czar da economia brasileira.
Embora o futuro presidente Michel Temer ainda procure esconder a formação de seu Ministério, as indicações são óbvias. Henrique Meirelles já aceitou a missão, mas exige porteira fechada, como se diz no interior, para nomear toda a nova equipe econômica e os presidentes dos bancos estatais – BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica. Por óbvio, Temer vai aceitar as exigências, prazerosamente.
AJUDANDO O PT
Quando deixou a presidência mundial do BankBoston e voltou ao Brasil, Meirelles estava decidido a entrar na política, já de olho na Presidência da República, e deu o primeiro passo em 2002, ao se candidatar a deputado federal pelo PSDB de Goiás. Não fez discurso nem visitou eleitores, mas gastou uma fortuna com cabos eleitorais e com candidatos a deputados estaduais, financiou as campanhas deles, teve um retorno espetacular e conseguiu bater o recorde estadual de votos, com quase 170 mil.
O passo seguinte seria o governo de Goiás, mas o economista Aloizio Mercadante, que havia trabalhado com ele no BankBoston, convenceu Lula a convidar Meirelles para comandar o Banco Central e acalmar o mercado. Disposto a ganhar maior visibilidade política, Meirelles aceitou e teve de renunciar ao mandato de deputado, por exigência legal. Tornou-se, assim, o condutor informal da equipe econômica do PT.
Apesar de Antonio Palocci (Fazenda) e Guido Mantega (Planejamento e Fazenda) terem atrapalhado bastante, Meirelles conseguiu levar o governo do PT a um espantoso crescimento econômico, que em 2010 chegou a 7,5% do PIB.
LULA O ENGANOU
Meirelles foi ingênuo, confiou nas promessas de Lula. Ia se desincompatibilizar em abril de 2010, para disputar o governo de Goiás, porém Lula o convenceu a ficar, dizendo que ele assumiria o Ministério da Fazenda, teria ainda maior visibilidade e depois poderia tentar logo a Presidência. Meirelles acreditou, mas era “menas” verdade, como dizia Lula antigamente.
A pasta da Fazenda continuou com Guido Mantega, e Lula levianamente atribuiu a culpa à neopresidente Dilma Rousseff, embora todos soubessem que era ele quem mandava no governo e nomeava os ministros.
Meirelles foi alijado da política, não passou recibo e foi ficar ainda mais rico na iniciativa privada, comandando o reerguimento do grupo Friboi, enquanto a economia nacional começava a entrar em parafuso.
Dois anos depois, em 2012, surgiu o escândalo do caso Rosemary Noronha e Dilma enfim conseguiu se livrar da influência de Lula. Passou a governar sozinha e inventou a “nova matriz econômica” que iria levar o país ao caos político, econômico e administrativo.
A VOLTA POR CIMA  
Cinco anos depois da reeleição, uma reviravolta total na política. Os ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci não são mais nada e caíram na malha da Lava Jato, Lula também está seriamente envolvido no esquema de corrupção, Dilma Rousseff virou carta fora do baralho, mas Henrique Meirelles dá a volta por cima, ao se tornar o novo czar da economia, com poderes absolutos, algo jamais visto na História Republicana.
Mais do que nunca, Meirelles tem motivos para sonhar novamente com o Planalto. Ganhou um prazo de quase dois anos para reverter a crise. Se conseguir, poderá se desincompatibilizar em abril de 2018 e se candidatar à Presidência pelo PSD, com boas chances de vencer, diante da divisão de votos que inevitavelmente haverá entre Aécio Neves, Michel Temer, Marina Silva, Ciro Gomes, Álvaro Dias, Lula e outros pretendentes (isso, se Temer não for cassado antes pela Justiça Eleitoral e Lula ainda tiver direitos políticos, claro, mas o futuro a Deus pertence, todos sabem).
Bem, com toda certeza não faltará dinheiro para a campanha de Meirelles rumo ao Planalto.  E como os eleitores brasileiros estão realmente fartos de serem enganados pelos políticos tradicionais, suas chances serão muito boas.

25 de abril de 2016
Carlos Newton


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