As emissoras de televisão GloboNews, Globo e Band divulgaram no início da noite de sábado o encontro entre o vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se estendeu na tarde por duas horas no Palácio Jaburu em Brasília. Na sexta-feira, o quase sucessor de Dilma Rousseff teve um encontro com o ex-ministro Delfim Neto. São planos opostos os que distinguem um e outro. Meirelles presidiu o BC durante 8 anos nos mandatos de Lula e tem uma posição liberal no capitalismo. Delfim Neto foi ministro durante três mandatos da ditadura militar e se tornou o responsável pela execução de uma política econômica que teve como base a redução salarial progressiva, quando os salários perdiam para a inflação. Assim foi nos governos Costa e Silva e Médici quando infelizmente ocupou o ministério da Fazenda. Assim foi no governo João Figueiredo quando foi o titular do Planejamento.
Ao longo da ditadura militar, Delfim só não participou do governo Castelo Branco. Isto porque no período Ernesto Geisel, por outro equívoco do poder, foi embaixador em Paris. Mais recentemente, nos governos Dilma Rousseff, tornou-se articulador do consórcio que construiu a Usina de Belo Monte, que repassou 150 milhões de reais em propinas, de acordo com a revelação do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio de Azevedo.
R$ 15 MILHÕES
Delfim Neto não estava no propinoduto, mas recebeu, segundo Azevedo, o pagamento de 15 milhões de reais por ter articulado o consórcio da obra na qual estava a Odebrecht. O próprio Delfim Neto confirmou o pagamento recebido por serviços prestados de consultoria econômica. Mas esta é outra questão.
O fato é que a opinião de Henrique Meirelles tem que ser levada a sério pela posição na qual se coloca em matéria de política econômica: valorização do emprego e do salário, clima de confiança para a realização de investimentos privados na economia brasileira. Aliás, talvez por coincidência estes princípios encontram-se expostos no artigo que publicou na edição de domingo na Folha de São Paulo, na coluna que ocupa semanalmente.
O fato é que Meirelles possui credibilidade suficiente para assumir a Fazenda. E provavelmente é, a meu ver a pessoa mais indicada e capacitada para o posto, unindo a visão econômica à indispensável visão social. Ele foi convidado para o cargo por Michel Temer, porém a concretização do convite apresenta condicionantes de sua parte.
A EQUIPE INTEIRA
Essas condicionantes estão expostas na reportagem de David Friedlander e Mariana Haubert, publicada também na edição de domingo da Folha de São Paulo. Henrique Meirelles disse a Temer aceitar a Fazenda desde que possa dar a palavra final sobre todos os nomes da área econômica do eventual novo governo como é o caso do Ministério do Planejamento e das presidências do Banco Central, do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica.
As condicionantes ficaram no ar aguardando a manifestação de Michel Temer, por sua vez à espera da decisão final do Senado a respeito do afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto.
De qualquer forma o nome de Henrique Meirelles representa um fato positivo para o alvorecer de uma nova administração, por vários motivos, entre os quais o de neutralizar politicamente qualquer reação contrária do ex-presidente Lula, que chegou a insistir com Dilma Rousseff para que fosse ele o ministro da Fazenda de sua sucessora.
CAPITAL E TRABALHO
Há também a certeza de que Meirelles na Fazenda não adotará qualquer política recessiva que comprima ainda mais os valores do trabalho humano. Ao contrário de Delfim Neto que, no governo Médici sustentou a tese de que primeiro o bolo da economia deveria crescer para depois ser dividido entre os valores do trabalho humano. O bolo cresceu e a divisão ficou esquecida, anestesiada pelo pensamento conservador do ex-ministro.
Henrique Meirelles não se volta para abalar a força do capital, porém seu pensamento é de torná-la menos intensa, na medida em que possa ser repassada de forma aceitável para o ser humano, principal agente do consumo que garante a expansão da indústria, do comércio e do desenvolvimento econômico social. Por isso, Henrique Meirelles e Delfim Neto são símbolos opostos dentro do próprio espaço do capitalismo. Assim como está no título: Henrique Meirelles, sim; Delfim Neto, nunca mais.
25 de abril de 2016
Pedro do Coutto
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