"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 22 de novembro de 2015

EM POLÍTICA, O QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR...

EM 48 HORAS, TUDO MUDOU


Depois do acordo, as coisas começam a dar errado para os dois











Os ventos mudaram. Mais do que tempestades, prenunciam-se ciclones. No caso, abalando as colunas do palácio do Planalto e da Câmara dos Deputados. De repente, tornou-se outra vez uma possibilidade o impeachment da presidente Dilma. Raios e trovões adensam-se novamente  sobre a Praça dos Três Poderes, depois de conhecido o teor da delação premiada feita ao Ministério Público por  um ex-funcionário da Petrobrás, auxiliar de Nestor Cerveró, ex-diretor de assuntos internacionais da empresa, condenado e preso meses atrás como envolvido na escandalosa compra da refinaria de Pasadena,  nos Estados Unidos.
O prejuízo foi de 800 milhões de dólares, e segundo a delação, Madame sabia de tudo, pois presidia o Conselho de Administração da Petrobrás durante a venda, que  autorizou.  A acusação acaba de ser lida no plenário do  Tribunal de Contas da União e servirá para alimentar o pedido de afastamento de Dilma, a tramitar no Congresso.
Junte-se a essa explosiva situação a não menos pior sorte do presidente da Câmara, Eduardo  Cunha, a um passo de ser  catapultado de suas funções por decisão do Supremo  Tribunal Federal. Seu último ato poderia ser, como vingança, a aceitação do pedido de impeachment.
Em 48 horas, tudo mudou. Parece desfeito o acordo entre Dilma e Cunha para um salvar o mandato do outro, já que a natureza das coisas prevaleceu na dinâmica política. À lambança conduzida pelo presidente da Câmara para impedir a sessão do Conselho de Ética, quinta-feira, juntou-se, na sexta, a nova denúncia contra a presidente da República, no TCU.
A impressão é de que a chefe do governo acaba de perder o que lhe restava de sólida base parlamentar, assim como ao representante fluminense começa a faltar número suficiente de deputados para respaldá-lo.
PONTO DE EBULIÇÃO
Estivesse o país vivendo dias normais e dificilmente chegaríamos a esse ponto de ebulição, mas como evitá-lo em plena crise, com o desemprego se multiplicando, a inflação chegando aos dois dígitos, os impostos crescendo, os direitos trabalhistas sendo reduzidos e a corrupção campeando?
Registra-se à vista de todos a rejeição da sociedade às instituições encarregadas de conduzi-la. Ninguém acredita mais em partidos políticos, em governos e mesmo em associações civis. O ensino e a saúde viram-se criminosamente contingenciados no orçamento, os serviços públicos permanecem em queda livre, até a natureza nos castiga. Por que salvar Dilma e Cunha, mesmo diante da evidência de não serem os únicos responsáveis pelo caos?
FALTA DE AR OU DE TERRA?
Milton Campos era candidato a vice-presidente da República em 1960, viajando com o presidenciável Jânio Quadros por todo o país. O avião que os conduzia perdeu-se nos céus de Mato Grosso, o combustível se esgotava e a comitiva se exasperava.  A aeromoça aproximou-se do velho professor de democracia, pálido e sem falar, perguntando: “Dr. Milton, o senhor está com falta de ar?”  Resposta imediata: “Não, minha filha, estou é com falta de terra…”
22 de novembro de 2015
Carlos Chagas

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