Quando querem dizer que um indivíduo “se acha”, os franceses dizem que ele «ne se prend pas pour la queue d’une poire» – não se considera um cabinho de pera. É expressão coloquial, a utilizar com moderação. Não pega bem em fala formal.
Numa certa altura dos acontecimentos, vozes chegaram a se levantar para incentivar o doutor Joaquim Barbosa, antigo membro e presidente do STF, a candidatar-se à presidência da República. Afastado dos holofotes, o ex-ministro está hoje menos visível. Longe dos olhos, longe do coração.
Mesmo assim, quando provocado, não nega fogo. Ainda estes dias, indagado sobre eventual processo de impedimento contra a presidente, Barbosa lançou, sem se preocupar com o efeito que pudesse causar, a seguinte pérola: «Não acredito no Tribunal de Contas da União como órgão sério desencadeador de um processo de tal gravidade. O Tribunal de Contas é um playground de políticos fracassados.»
Frase pesada, não? Tivesse saído da boca de nosso guia ou de certas figurinhas carimbadas do Congresso, não teria grande importância, que grande parte daquela gente é primitiva. Mas vindo de antigo presidente do STF, francamente…
Há opiniões que o distinto leitor e eu podemos até emitir, em conversa informal, de preferência numa roda de amigos. Já uma figura da estatura do ex-ministro teria de manter recato. O decoro na escolha dos termos faz parte da liturgia do alto posto ocupado.
Não tenho antipatia por esse senhor. Afinal, o Brasil deve a ele a quebra do antigo tabu que determinava que gente importante não vai pra cadeia. Nesse particular, nossa história recente se divide entre o antes e o depois do Mensalão. Agradecidos ficamos todos.
O fato de ter prestado bons serviços à nação, contudo, não lhe dá blindagem para pairar acima do bem e do mal. A arrogância carcome a imagem daquele que, um dia, foi grande. A modéstia daria frutos mais saborosos.
No fundo, o destino costuma fazer bem as coisas. O ministro estava no lugar certo na hora adequada. Prestou serviços inestimáveis a seus conterrâneos. Todos lhe somos gratos. Foi-se embora porque quis. Agora, basta.
Se lhe pudesse dar uma sugestão, diria ao doutor Barbosa que deixasse a soberba de lado. Que não arruine a extraordinária imagem que deixou.
10 de setembro de 2015
José Horta Manzano
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Tudo o que precisamos é de intemperança... Que não seja um estado permanente, mas que vozes solitárias se levantem e bradem contra a anarquia em que nos encontramos, mais do que uma necessidade, é um ponto de confluência para despertar a nação da sua indolência e excessiva tolerância, cordialidade com bandoleiros corruptos.
O ex-presidente do STF foi uma foz operante que acordou a nação dando-lhe o reconhecimento de que ninguém está acima da Lei. Um momento extremamente importante, um divisor de águas que deu início a uma nova visão de Justiça.
Se é do seu temperamento, reconhecidamente de pavio curto, bradar contra o que considera um vício da república, o tal "jeitinho", as tais alianças e cumplicidades que jogaram o país no caos atual, mal não fez ao Brasil.
Dissonâncias de humor e de caráter apenas enriquecem a sociedade, quebrando a pasmaceira do "é tudo sempre a mesma lerda", como dizia a roqueira Rita Lee..
m.americo
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Tudo o que precisamos é de intemperança... Que não seja um estado permanente, mas que vozes solitárias se levantem e bradem contra a anarquia em que nos encontramos, mais do que uma necessidade, é um ponto de confluência para despertar a nação da sua indolência e excessiva tolerância, cordialidade com bandoleiros corruptos.
O ex-presidente do STF foi uma foz operante que acordou a nação dando-lhe o reconhecimento de que ninguém está acima da Lei. Um momento extremamente importante, um divisor de águas que deu início a uma nova visão de Justiça.
Se é do seu temperamento, reconhecidamente de pavio curto, bradar contra o que considera um vício da república, o tal "jeitinho", as tais alianças e cumplicidades que jogaram o país no caos atual, mal não fez ao Brasil.
Dissonâncias de humor e de caráter apenas enriquecem a sociedade, quebrando a pasmaceira do "é tudo sempre a mesma lerda", como dizia a roqueira Rita Lee..
m.americo
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