"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 26 de setembro de 2015

FANTASMA DO IMPEACHMENT

MANUTENÇÃO DE VETO AFASTA DE DILMA O FANTASMA DO IMPEACHMENT



Não parece haver dúvida quanto ao fato de que a manutenção do veto à proposição que derrubava o fator previdenciário conduz à impressão de que, com tal resultado, manchete principal da edição de O Globo de quarta-feira, afasta-se da presidente Dilma Rousseff o fantasma do impeachment que tanto a inquieta quanto ao próprio país. As oposições não conseguiram os 60% dos votos necessários para transformar em lei a intenção (legítima) pela qual se empenhavam.
E se não conseguiram derrubar um veto, com base nos números de hoje, mais difícil ainda será derrubar a presidente da república amanhã do plano alto do Planalto. Um pensamento leva a outro colocado numa altitude muito mais difícil de superar. A presidente respira aliviada. Sua decisão de entregar o Ministério da Saúde e mais quatro pastas ao PMDB de Michel Temer surtiu efeito, pelo menos a médio prazo. Tempo suficiente para traçar um novo caminho para seu governo e preencher partidariamente as frações de poder que detém e que se equilibram às oscilações de sua caneta mágica.
SEM TORCIDA
Não se trata de torcer contra ou a favor, confundindo a realidade com o que se deseja que aconteça. Este, inclusive, é um mal que afeta numerosas camadas da opinião pública que confundem os confrontos políticos (e da política) com os jogos de futebol. Torcer é uma coisa. Analisar é outra. Escrevi há poucos dias que a força da inércia contribui para o equilíbrio de Dilma no poder, equilíbrio fraco, mas de qualquer forma equilíbrio. É melhor tê-lo frágil, do que não ter equilíbrio algum a seu favor.
Além disso, não há número para impedir Dilma Rousseff. O PT, claro, votará contra. O PMDB apresenta-se dividido entre o vice Temer e o alinhamento imediato com a presidente na base da participação no governo. A legenda não pode logicamente trocar a realidade ao sol de hoje pela perspectiva de um duvidoso amanhã. A divisão estende-se ao PSDB, ainda de forma mais acentuada. Há as correntes de Aécio Neves, de José Serra, de Geraldo Alckmin. Aécio luta para anular as eleições de 2014 no TSE. José Serra votou com o governo contra o veto ao fator previdenciário. O governador de São Paulo quer mais tempo para tentar candidatar-se novamente ao Planalto, pois já perdeu uma vez para Lula. O PSOL, PSB, PP, evidente, não votam pelo impeachment. Logo ele não tem possibilidade.
E O PMDB?
Parte do PMDB, esta é a verdade, joga na renúncia, pois assim Michel Temer assumiria imediatamente. Mas não é a maioria da legenda. Pois se assim fosse, essa corrente teria votado pela derrubada do veto e isso não aconteceu. Afastar alguém da presidência da República constitui sempre um risco. O de contribuir para que assumam correligionários hostis. E neste ponto cabe lembrar uma frase clássica do senador Benedito Valadares, do PSD, em 1960: é melhor um adversário cordial do que um correligionário hostil. A quem ele estava se referindo? Exatamente a Tancredo Neves que, por 25 mil votos, perdeu o governo de Minas Gerais para Magalhães Pinto.
A frase pertence ao passado. Porém é eterna em matéria de política. Serve de alerta para todas as épocas, aplicando-se por igual às diversas correntes partidárias. Devemos todos nós parar quando acende o sinal amarelo. Claro, outros episódios virão, há um outro veto de peso pela frente, cuja apreciação pode ocorrer na semana que vem, o aplicado ao reajuste dos servidores da Justiça Federal. Mas, seja qual for o desfecho, não mudará a descompressão que se nota em volta do Palácio do Planalto. Política é assim.

26 de setembro de 2015
Pedro do Coutto

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