O Brasil é uma nação muito estranha, que pode ser comparada à Terra do Nunca-Jamais, das aventuras de Peter Pan. Aqui, também as coisas acontecem em ritmo de faz-de-conta, vive-se mais na fantasia do que na realidade. Agora, por exemplo, perde-se um tempo enorme discutindo se deve ser proibida a doação de empresas às campanhas eleitorais. A Câmara dos Deputados aprova uma coisa, o Senado aprova outra e antes que cheguem a uma conclusão, vem o Supremo e põe uma pedra em cima do assunto. E a presidente Dilma já vetou a decisão da Câmara, numa confusão jurídica de péssima qualidade.
Quem acompanha o noticiário fica impressionado e até pensa que a coisa é séria. Na realidade da vida, porém, opera-se de maneira bem diferente. Políticos e empresários estão pouco ligando para a lei. Se for permitida a doação, eles continuam enchendo de dinheiro as campanhas, depositando mais recursos nas contas dos favoritos, é claro. Se for proibida a doação, tudo bem, eles repassam o dinheiro para o Caixa 2 e estamos conversados.
Desculpem dizer o óbvio: para o Brasil ser mais limpo, é preciso apertar a fiscalização, em todos os sentidos. Acontece que os tribunais de contas são órgãos auxiliares do Legislativo, funcionam como uma espécie de confraria de políticos aposentados. Os corpos técnicos são de primeira categoria, escolhidos por concursos públicos, mas a convivência com a lama da política acaba por também os emporcalharem. Assim, os governantes fazem o que bem querem, os tribunais de contas os apóiam, celebra-se a impunidade, e la nave va.
O caso do provável parecer pela rejeição das contas de Dilma Rousseff é apenas uma exceção que confirma a regra. Será preciso erguer uma estátua em homenagem ao ministro-relator Augusto Nardes, formado em administração de empresas no Rio Grande do Sul, com pós-graduação e mestrado em Política do Desenvolvimento pelo Instituto Université d’Études de Genebra, na Suíça.
Vejam o que é o destino. Com a aposentadoria do ministro Humberto Souto em 2004, coube à Câmara dos Deputados indicar o substituto à vaga no TCU e Nardes obteve a indicação do PP. Houve quatro candidatos e, por votação secreta, Nardes venceu com 203 votos, contra 137 votos dados ao deputado José Pimentel (PT-CE), 75 a Osmar Serraglio (PMDB-PR) e 55 a Carlos Nader (PFL-RJ), com 5 votos em branco..
Ou seja, se Nardes não tivesse se candidatado, hoje o ministro-relator das contas de Dilma seria seu correligionário e amigo José Pimentel, que atualmente é líder do PT no Senado. Portanto, as contas do governo já teriam sido aprovadas, o TCU continuaria a mesma podridão e nem se falaria no assunto do impeachment.
Com dizem os árabes, “maktub”. Quer dizer, estava escrito, tinha mesmo de acontecer.
26 de setembro de 2015
Carlos Newton
Quem acompanha o noticiário fica impressionado e até pensa que a coisa é séria. Na realidade da vida, porém, opera-se de maneira bem diferente. Políticos e empresários estão pouco ligando para a lei. Se for permitida a doação, eles continuam enchendo de dinheiro as campanhas, depositando mais recursos nas contas dos favoritos, é claro. Se for proibida a doação, tudo bem, eles repassam o dinheiro para o Caixa 2 e estamos conversados.
Desculpem dizer o óbvio: para o Brasil ser mais limpo, é preciso apertar a fiscalização, em todos os sentidos. Acontece que os tribunais de contas são órgãos auxiliares do Legislativo, funcionam como uma espécie de confraria de políticos aposentados. Os corpos técnicos são de primeira categoria, escolhidos por concursos públicos, mas a convivência com a lama da política acaba por também os emporcalharem. Assim, os governantes fazem o que bem querem, os tribunais de contas os apóiam, celebra-se a impunidade, e la nave va.
O caso do provável parecer pela rejeição das contas de Dilma Rousseff é apenas uma exceção que confirma a regra. Será preciso erguer uma estátua em homenagem ao ministro-relator Augusto Nardes, formado em administração de empresas no Rio Grande do Sul, com pós-graduação e mestrado em Política do Desenvolvimento pelo Instituto Université d’Études de Genebra, na Suíça.
Vejam o que é o destino. Com a aposentadoria do ministro Humberto Souto em 2004, coube à Câmara dos Deputados indicar o substituto à vaga no TCU e Nardes obteve a indicação do PP. Houve quatro candidatos e, por votação secreta, Nardes venceu com 203 votos, contra 137 votos dados ao deputado José Pimentel (PT-CE), 75 a Osmar Serraglio (PMDB-PR) e 55 a Carlos Nader (PFL-RJ), com 5 votos em branco..
Ou seja, se Nardes não tivesse se candidatado, hoje o ministro-relator das contas de Dilma seria seu correligionário e amigo José Pimentel, que atualmente é líder do PT no Senado. Portanto, as contas do governo já teriam sido aprovadas, o TCU continuaria a mesma podridão e nem se falaria no assunto do impeachment.
Com dizem os árabes, “maktub”. Quer dizer, estava escrito, tinha mesmo de acontecer.
26 de setembro de 2015
Carlos Newton
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