Que o Brasil não é um país para principiantes já sabíamos há séculos.
Severos cientistas sociais de óculos de lentes grossas poderiam dizer, em mesas redondas da TV, que estamos vivendo um estado de “anomia” – um país sem rumo, sem bússola, sem projeto.
Alguém que tivesse a alma mais leve de um artista, por exemplo, poderia citar o Manifesto Surrealista de André Breton, no trecho em que ele defende que qualquer controle exercido pela razão seja suspenso, de forma a dar vida à nova arte “alheia a qualquer preocupação estética ou moral”.
Como estamos na terra de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, seria mais apropriado mesmo dizer que isso aqui está “uma bagunça”. É mais fácil de digerir, mais fácil para fazer-se entender, mais adequado ao linguajar popular.
Já não sabemos mais se o governo existe para cumprir a tarefa básica de governar – ou seja, de dirigir os chamados destinos da Nação, através de decisões políticas e econômicas que imprimam um rumo à navegação comum – ou se existe apenas com a finalidade de evitar que deixe de existir de um momento para o outro.
Viver para simplesmente não parar de respirar não é um objetivo muito engrandecedor para nenhum governo, convenhamos. Sobreviver até o fim do mandato deixou de ser um meio para executar um programa e passou a ser um programa de governo em si mesmo.
Alguém que levanta e lê jornal (partindo do pressuposto de que já não soubesse tudo desde a noite anterior, pela TV ou pela internet) tem mais motivos para debater-se contra a escuridão do que encontrar, digamos, um sendeiro luminoso que ajude a entender o que está acontecendo.
O sujeito vai dormir pensando na hecatombe que será o Congresso derrubando todos os vetos presidenciais sob o comando da brigada ligeira do PMDB, inviabilizando as contas do pais pelos próximos séculos, e acorda com a presidente tramando a entrega de quatro ou cinco ministérios àquele mesmo partido que um dia antes não queria saber de ministério nenhum mas que garantiu a manutenção da pilha de vetos.
A Eduardo Cunha, o ferrabrás da pautas-bomba, que ameaça demolir o castelo das contas públicas deixando proliferar sobre a mesa a cornucópia de benesses de todos os deputados clientelistas do Oiapoque ao Chuí, coube a honra de uma conversa ao pé de ouvido. Protagonista: o presidente excelso, honorário e eterno, Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, informam os jornais virtuais e materiais, cochichou a Cunha um pedido para empurrar com a barriga qualquer pedido de impeachment contra Dilma, até que…bem, até qualquer dia que não esteja muito perto, para não atrapalhar, afinal, as articulações do ajuste fiscal e da tal reforma ministerial.
Lula é a favor mas é contra o ajuste fiscal, e enquanto tenta equilibrar essa bola no nariz, como uma foca, articula um novo ministério para sua criatura. O objetivo é transparente: ir ficando, enquanto der. Quanto mais perto de 2018 chegarmos, melhor. E com quanto menos escoriações, melhor também.
Ou seja: Cunha ë inimigo, mas pode ser parceiro também. Tanto que um compadre dele, um certo deputado da Paraíba, Manoel Junior, que já aconselhou Dilma a renunciar, aparece como favorito para o cargo de ministro da Saúde, aquela pasta que se não ajuda em nada a saúde física do brasileiro, oferece luminosas atrações aos vampiros que preferem o sangue à luz.
Bem, onde estávamos mesmo? Ah, ainda não temos ajuste, ainda não temos reforma ministerial, ainda não sabemos se o PMDB assumiu ou não o governo, um terço do governo, metade dele ou o governo inteiro, o dólar sai em louca disparada, e a presidente….
…a presidente? Bem, ela foi a Nova York pedir uma reforma na ONU.
26 de setembro de 2015
Sandro Vaia
Severos cientistas sociais de óculos de lentes grossas poderiam dizer, em mesas redondas da TV, que estamos vivendo um estado de “anomia” – um país sem rumo, sem bússola, sem projeto.
Alguém que tivesse a alma mais leve de um artista, por exemplo, poderia citar o Manifesto Surrealista de André Breton, no trecho em que ele defende que qualquer controle exercido pela razão seja suspenso, de forma a dar vida à nova arte “alheia a qualquer preocupação estética ou moral”.
Como estamos na terra de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, seria mais apropriado mesmo dizer que isso aqui está “uma bagunça”. É mais fácil de digerir, mais fácil para fazer-se entender, mais adequado ao linguajar popular.
Já não sabemos mais se o governo existe para cumprir a tarefa básica de governar – ou seja, de dirigir os chamados destinos da Nação, através de decisões políticas e econômicas que imprimam um rumo à navegação comum – ou se existe apenas com a finalidade de evitar que deixe de existir de um momento para o outro.
Viver para simplesmente não parar de respirar não é um objetivo muito engrandecedor para nenhum governo, convenhamos. Sobreviver até o fim do mandato deixou de ser um meio para executar um programa e passou a ser um programa de governo em si mesmo.
Alguém que levanta e lê jornal (partindo do pressuposto de que já não soubesse tudo desde a noite anterior, pela TV ou pela internet) tem mais motivos para debater-se contra a escuridão do que encontrar, digamos, um sendeiro luminoso que ajude a entender o que está acontecendo.
O sujeito vai dormir pensando na hecatombe que será o Congresso derrubando todos os vetos presidenciais sob o comando da brigada ligeira do PMDB, inviabilizando as contas do pais pelos próximos séculos, e acorda com a presidente tramando a entrega de quatro ou cinco ministérios àquele mesmo partido que um dia antes não queria saber de ministério nenhum mas que garantiu a manutenção da pilha de vetos.
A Eduardo Cunha, o ferrabrás da pautas-bomba, que ameaça demolir o castelo das contas públicas deixando proliferar sobre a mesa a cornucópia de benesses de todos os deputados clientelistas do Oiapoque ao Chuí, coube a honra de uma conversa ao pé de ouvido. Protagonista: o presidente excelso, honorário e eterno, Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, informam os jornais virtuais e materiais, cochichou a Cunha um pedido para empurrar com a barriga qualquer pedido de impeachment contra Dilma, até que…bem, até qualquer dia que não esteja muito perto, para não atrapalhar, afinal, as articulações do ajuste fiscal e da tal reforma ministerial.
Lula é a favor mas é contra o ajuste fiscal, e enquanto tenta equilibrar essa bola no nariz, como uma foca, articula um novo ministério para sua criatura. O objetivo é transparente: ir ficando, enquanto der. Quanto mais perto de 2018 chegarmos, melhor. E com quanto menos escoriações, melhor também.
Ou seja: Cunha ë inimigo, mas pode ser parceiro também. Tanto que um compadre dele, um certo deputado da Paraíba, Manoel Junior, que já aconselhou Dilma a renunciar, aparece como favorito para o cargo de ministro da Saúde, aquela pasta que se não ajuda em nada a saúde física do brasileiro, oferece luminosas atrações aos vampiros que preferem o sangue à luz.
Bem, onde estávamos mesmo? Ah, ainda não temos ajuste, ainda não temos reforma ministerial, ainda não sabemos se o PMDB assumiu ou não o governo, um terço do governo, metade dele ou o governo inteiro, o dólar sai em louca disparada, e a presidente….
…a presidente? Bem, ela foi a Nova York pedir uma reforma na ONU.
26 de setembro de 2015
Sandro Vaia
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