"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

ENTRE DILMA E TEMER, O SILÊNCIO



A presidente Dilma Rousseff conversa com seu vice, Michel Temer, durante desfile na Esplanada dos Ministérios, em Brasília Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O clima entre Dilma e Temer no palanque era constrangedor













Quem assistiu o desfile militar de ontem na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, terá reparado que nas duas horas em que se mantiveram lado a lado no palanque oficial, a presidente Dilma e o vice-presidente Michel Temer não trocaram uma palavra. Só os cumprimentos protocolares quando Madame chegou e saiu. Sequer um comentário sobre o garbo da tropa ou a excelência dos blindados construídos no Brasil. Não que fosse a ocasião para diálogos prolongados, ainda mais de pé, mas ficou claro que nada tinham a dizer, um à outra e vice-versa.
O silêncio deste Sete de Setembro faz lembrar a parada de 1984, quando  João Figueiredo e  Aureliano Chaves, além de não se falarem, ficaram ostensivamente de costas, um para o outro. O presidente havia renunciado à condição de coordenador da própria sucessão, deixando que Paulo Maluf ganhasse a convenção do PDS.  O vice ensaiava os primeiros passos para criar a Frente Liberal, dissidência do partido do governo, prestes a apoiar Tancredo Neves. Ambos julgavam-se traídos.
Não  se dirá estar acontecendo agora o mais do mesmo, mas é por aí. Dilma não engoliu os comentários de Temer a respeito de o país necessitar de alguém capaz de uni-lo. Muito menos aceitou a afirmação de que não chegará ao fim de seu mandato com a popularidade de sete por cento. Pouco valeram as remendadas interpretações do vice-presidente sobre não ter dito o que disse. Nem sua negativa de estar conspirando contra a presidente. Em política inexiste o quadro-negro, onde basta passar o apagador para fazer sumir o que o professor escreveu a giz.
Ainda mais porque muita gente anda conspirando. O PSDB, por exemplo, continua empenhado no impeachment de Dilma, mas desistiu de apoiar a hipótese de o Tribunal Superior Eleitoral anular a eleição de 2014 pelo alegado uso de dinheiro podre da campanha vitoriosa. Nesse caso, não apenas a presidente perderia o lugar. O vice também. Agora, se ela fosse defenestrada pelo Congresso, por conta de práticas irregulares em seu governo, Temer assumiria. Desde que, fica evidente, prometesse não se candidatar à reeleição em 2018, deixando o caminho livre para os tucanos. Uma equação simples de formular, mas difícil de resolver.
SEM RECIBO
Em suma, como de público Dilma não passou recibo nas provocações de Temer, registre-se só o silêncio que marcou a aparição dos dois, no desfile militar de ontem. Para continuar no mesmo tema, vale atentar para o fato de  os comandantes das três forças armadas ficarem  afastados do pelotão que durante o tempo todo presidiu a solenidade.  Dilma, ladeada por Temer, pelo governador de Brasília e pelo ministro da Defesa, não recebeu as tradicionais explicações de cada oficial-general a respeito da performance de Exército, Marinha e Aeronáutica…

8 de setembro de 2015
Carlos Chagas

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