"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

PAPO DE PULADOR DE CERCA

Neste momento, mais importante do que estreitar as bandas da meta de inflação é obter a derrubada dela

O Conselho Monetário Nacional, também conhecido pela sigla Cemenê - assim, com sotaque do sertão -, decidiu quinta-feira que o intervalo de escape da política de metas de inflação ficou mais estreito. A partir de 2017, não será mais de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo, mas sim de, 1,5 ponto.

Esse não é um assunto tão chato quanto para alguns possa parecer. Mexe fortemente com os juros e é fator importante na vida econômica de qualquer pessoa. Por isso, convém esmiuçá-lo. A meta de inflação, sempre determinada pelo governo, no caso pelo Cemenê, é o ponto para onde têm de embicar os efeitos da política de controle de inflação.

O instrumento para isso é a política monetária (política de juros), que é o sistema de válvulas que regulam o volume de dinheiro na economia. Se a inflação se afasta da meta, o Banco Central tem de retirar dinheiro até o nível em que o jogo da oferta e da procura de moeda pratique os juros predeterminados pelo Copom. Neste momento, são de 13,75% ao ano. Se a inflação reflui, o Banco Central pode injetar moeda e, com mais dinheiro na praça, os juros caem.

No momento, a meta de inflação é de 4,5% ao ano e tem de ser atingida a cada fim de ano. Como nem sempre é possível essa precisão, a cada 31 de dezembro o sistema brasileiro admite intervalos de tolerância. No momento, são de 2 pontos porcentuais acima ou abaixo desses 4,5%, portanto, de 2,5% a 6,5%.

Essa área de escape é uma característica do regime de metas do Brasil. Outras economias não operam nem precisam desse molejo, porque também não têm data prefixada para o cumprimento da meta. Os bancos centrais dos Estados Unidos (Federal Reserve) e da Inglaterra (Bank of England), por exemplo, miram sempre nos 2% em 12 meses - e não no fim do ano-calendário. Por isso, não criam vagalhões no mercado se, episodicamente, em consequência dos imponderáveis de sempre, acusarem certo desvio do objetivo.

O problema do Brasil, no momento, não é só o descumprimento da meta, mas o enorme desvio do tiro. Apontou para o Pico do Jaraguá e acertou o alto da Freguesia do Ó. A inflação está disparando para a altura dos 9,0% ao ano, o que dá o dobro da meta. Nessas condições, o mais importante do ponto de vista das diretrizes de política monetária não é reduzir a área de escape da meta, mas acertar pelo menos a placa do alvo.

A explicação oficial é a de que o estreitamento do intervalo entre as bandas poderá facilitar o esforço do presidente Alexandre Tombini a recuperar a credibilidade do Banco Central, corroída por três anos de irresponsabilidade monetária e muito discurso vazio.

Isso parece papo de pulador de cerca. Já que não pode ou não quer ser fiel, o sujeito jura que voltará meia hora mais cedo para casa. Não é propriamente garantia de fidelidade, mas pode ser entendido como reafirmação de bons propósitos.

Neste momento, mais importante do que estreitar as bandas da meta é obter a derrubada da inflação. As apostas gerais são de que, depois de enterrados os mortos e tratados os feridos, lá por meados de 2017 a inflação pode, finalmente, voltar para os trilhos dos 4,5% ao ano. Ou seja, não está ganha nem a batalha contra a alta de preços nem a da reconquista das expectativas.



CONFIRA:

Apesar da crise, a Bolsa não está despencando. Ao contrário, neste ano até essa sexta-feira, o Ibovespa avançou 8,02%.

Regime de urgência

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), garantiu nesta sexta-feira que, uma vez aprovada pelo Senado a proposta de eliminar a exigência de participação da Petrobrás em qualquer consórcio do pré-sal, a Câmara votará a matéria em regime de urgência. A forte adesão dos políticos à correção do marco regulatório do pré-sal é consequência da ameaça de redução do pagamento de royalties.



01 de julho de 2015
Celso Ming, O Estadão

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