"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de maio de 2015

VERGONHA: O PSDB FAZ IGUALZINHO AO PT


Ao votar contra as medidas que tentam conter o estouro de gastos públicos com o seguro-desemprego e o abono salarial, o PSDB faz igual ao PT sempre fez quando estava na oposição. Igualzinho. Igualzinho que nem.
Fico envergonhado e indignado com isso.

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o PT votou contra todas as medidas corretas – mudanças na Previdência, Lei de Responsabilidade Fiscal. Tudo, tudo.
Assim que Lula assumiu a presidência, enviou ao Congresso proposta de mudanças na Previdência bem parecida com a que o governo do PSDB havia defendido e contra a qual o PT votou. Perguntado sobre essa incoerência, o petista João Paulo Cunha respondeu com uma franqueza absoluta: é uma questão de “luta política”, disse ele.
Pois agora o PSDB fez igualzinho que nem.

Ora. Uma coisa é denunciar que o PT mentiu na campanha eleitoral; lembrar que o PT passou toda a campanha dizendo que a economia brasileira estava indo bem, às mil maravilhas, e, no entanto, assim que Dilma Rousseff foi reeleita, o governo deu um cavalo de pau, uma mudança de 180 graus nos rumos da política econômica.
Uma coisa é denunciar que o PT está fazendo muito do que acusava a oposição de querer fazer, caso Aécio Neves fosse eleito.

Porque todos sabemos que, tivesse Aécio sido eleito, seu governo faria um ajuste fiscal. Muitíssimo provavelmente, faria um ajuste fiscal melhor do que este que o governo petista está tentando fazer; certamente cortaria despesas de forma mais inteligente e eficaz, reduziria o ministério inchadérrimo, cortaria a quantidade absurda de cargos em comissão criados para dar empregos a rodo à companheirada.

Mas faria, é claro, um ajuste fiscal – porque não há outro jeito. Porque, depois da farra do primeiro governo Dilma, dos desajustes todos provocados na economia por uma mistura azeda, podre, de populismo, voluntarismo e simples incompetência, das pedaladas fiscais, dos preços administrados segurados a fórceps, não há outra coisa a fazer senão um ajuste fiscal.

Então, uma coisa é denunciar que o governo mentiu, que o PT mentiu, que a campanha de Dilma mentiu, que Dilma mentiu.

Outra, completamente diferente, é votar contra o ajuste fiscal. Contra duas medidas provisórias que não retiram direitos dos trabalhadores coisa alguma – apenas tentam botar alguma ordem na baderna que vinha sendo o abuso do seguro-desemprego e do abono salarial.

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A despesa do governo federal com seguro-desemprego e abono salarial passou de 0,49% do PIB em 2004 para 0,98% em 2014. Em números, subiu de R$ 9,5 bilhões para R$ 53,8 bilhões.

Repetindo, insistindo: as duas MPs votadas esta semana pela Câmara dos Deputados não acabam com direitos trabalhistas – apenas tentam botar ordem na casa da mãe Joana. Antes, quem trabalhasse meros 6 meses e perdesse o emprego já tinha direito a receber o seguro-desemprego. O Ministério da Fazenda queria ampliar o prazo de carência para o primeiro período de 6 para 18 meses; recuou para 12 meses.

O abono salarial era pago para quem trabalhasse pelo menos 30 dias no período de um ano, recebendo até 2 salários mínimos. O Ministério da Fazenda queria ampliar para 6 meses corridos; depois recuou para um vínculo forma de trabalho de no mínimo 3 meses.
Ou seja: é besteira dizer que essas medidas provisórias extinguem direitos trabalhistas, retiram direitos dos trabalhadores. Isso é balela, é idiotice, é chavão de sindicalista pouco afeito à verdade dos fatos.

***
Todos os 51 deputados do PSDB votaram contra essas medidas de ajuste fiscal.
Fizeram exatamente igual ao PT sempre fez na oposição.

Tornaram-se, portanto, incoerentes como os petistas. Pouco sérios como os petistas. Mais interessados na disputa pelo poder do que pelo que importa para o país.
Entre uma jogada política e o respeito ao que deve ser melhor para o país, escolheram a via do mensaleiro de Osasco. É a “luta política”.

Essa coisa me incomodou profundamente.

Não sou filiado, mas sempre fui (e jamais escondi isso, muito ao contrário) simpatizante e eleitor do PSDB. Desde 1989 – as primeiras eleições disputadas pelo então novo partido – voto no PSDB, apesar de todos os problemas que há nele.
Não é nada agradável ver o partido em que você vota há uma penca grande de anos agir exatamente da mesma forma que o partido que é o oposto dele.
10 de maio de 2015
Sérgio

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